
(Revista do Brasil) - Nas últimas semanas, insatisfeitos com
o resultado das eleições, golpistas que nos últimos anos praticavam seu ódio à
democracia e às instituições pela internet têm convocado caminhadas pelo país,
pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff ou intervenção militar.
Para tentar derrubar o governo, os novos golpistas fazem
como fizeram os que os antecederam na história brasileira, que praticamente
mataram Getúlio em 1954, tentaram inviabilizar Juscelino Kubitschek em 1955 e
derrubaram João Goulart em 1964.
Apelam para o tosco, velho e surrado discurso anticomunista
da época da Guerra Fria, que justificou crimes como os milhares de civis mortos
e torturados no Chile, na Argentina, na Indonésia, e em conflitos prolongados e
estéreis como a Guerra do Vietnã.
Dizer que é comunista um país em que o sistema financeiro
lucra bilhões, em que as multinacionais fazem o mesmo e remetem fortunas para o
exterior, em que qualquer cidadão pode montar um negócio a qualquer momento,
com ajuda do governo e de instituições, como o Sebrae, e em que nossos
armamentos são produzidos em estreita cooperação com empresas inglesas,
norte-americanas, francesas, suecas, israelenses, é tremenda hipocrisia.
À oposição institucional cabe também agir com
responsabilidade. Caso fosse adiante um pedido de impeachment, ou caso viesse a
ser impedida por outras manobras a diplomação de Dilma Rousseff, a ascensão do
vice Michel Temer à Presidência da República corroeria, em vez de ajudar, as
chances de Aécio Neves de chegar ao Palácio do Planalto em 2019. E na
remotíssima possibilidade de os golpistas terem sucesso por outros meios,
jamais entregariam o poder ao ex-governador mineiro. Os mais radicais o
desprezam e desconfiam de seu discurso anti-petista.
O problema do Brasil não é comunismo, como apregoam essa
minoria extremista e alguns golpistas de plantão, em seus comentários nos
portais e redes sociais. O que põe a opinião pública em estado de perplexidade
é a corrupção. Esse mal nasce de uma acumulação histórica de defeitos no
universo político, como o clientelismo e o fisiologismo, que vêm desde o Brasil
Colonial. Sua raiz está na busca permanente do poder, por partidos e
candidatos, e da necessidade de fontes de financiamento para suas campanhas. No
caso da Petrobras, o próprio Ministério Público declarou que o esquema funciona
desde 1999 – logo, ainda antes da chegada do PT ao poder.
Quando das manifestações de junho de 2013, Dilma lembrou a
necessidade de reformas que tirassem o
país da dependência desse quadro de relações incestuosas entre o governo e o
Congresso, e de se criarem mecanismos que permitissem maior espaço para a
população manifestar seus anseios e interesses. Suas teses, no entanto, não
prosperaram no Legislativo. Agora, que a reforma política volta à tona, o que
importa é saber se teremos uma de fato, ou se uma reforma de faz de conta,
comandada pelos grupelhos de sempre, com mudanças cosméticas para enganar a
população.
O caixa dois não é mais do que uma extensão do financiamento
eleitoral privado, e legal. O menos citado caixa um, que poderia ser suprimido
por meio do financiamento público de campanhas, como prevê a proposta de
reforma política defendida por entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil,
a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e tantas outras entidades e
movimentos com representação em amplos setores sociais.
No meio desse processo estão pilantras que aparecem para viabilizar
“negócios” e “acertos”, extorquem recursos de empresas e irrigam, com parte dos
recursos auferidos, candidatos e partidos. Eles não agem em nome do interesse
público ou partidário, não são “azuis” ou “vermelhos”, nem “golpistas” nem
“comunistas”. Se existisse um termo exclusivo para defini-los, seria
simplesmente “corruptistas”, ladrões que se aproveitam das distorções
históricas do atual sistema político.
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