O SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO DF E A LIÇÃO DO VELHO MARINHEIRO

Nonato Menezes - Assumir função pública de relevância não deve ser tarefa das mais fáceis. Uma Secretaria de Estado de Educação então, exige alguns sacrifícios, sobretudo de quem é marinheiro de primeira viagem.
O atual Secretário de Educação do DF não é, a rigor, um marinheiro de primeira viagem. Já foi diretor de escola pública, membro do Conselho Estadual de Educação, fez parte de um grupo pelego no Sindicato dos Professores e professor regente por vários anos. Ideologicamente é afinado com o setor privado, marca indelével que quer fazer valer no setor público.

Nem bem assumiu a Secretaria, o novo timoneiro nos apareceu com uma decisão extremamente autoritária, daquelas que nem os governos mais conservadores ousaram em tomar. No calor do afago do poder, mudou o calendário escolar sem sequer consultar outras instituições diretamente envolvidas. E ainda saiu cantando de galo ao dizer que “esta é prerrogativa minha”. Ôpa! Foi truculento ao extremo, nosso nobre secretário.
 Numa entrevista à CBN, talvez embriagado com o vai-e-vem do poder, disse que “entende a angústia dos trabalhadores da educação que estão sem dinheiro, mas o governo teve que optar pelo pagamento da saúde”. Entendimento brilhante, este!
Então, tá! O governo têm suas preferências quanto a salários, diferencia bem professores de médicos e outros servidores. Só não percebe que violar direitos, seja de quem seja, é crime. Então, estamos diante de um governo criminoso. É isso, secretário?
Nos microfones da CBN disse também, “que os professores deveriam ter sido mais cautelosos em dezembro, uma vez que já imaginavam o que poderia acontecer em janeiro”.  Aplausos!
Então, deveríamos ter imaginado que o governo Enrollemberg não cumpriria um princípio fundamental que é pagar pelo trabalho prestado? Deveríamos imaginar que a incompetência do governo Enrollemberg seria tamanha que cumprir obrigações primárias, utilizando-se dos recursos que o governo tem como, remanejamento de recursos de outras pastas, tomada de empréstimos, entre outros, não seria possível?
E se tivéssemos imaginado tudo isso, secretário, que diferença faria? Ou Vossa Excelência está sugerindo que sejamos monges, ao ponto de renunciar ao almoço, ao jantar e outros momentos de prazer e necessidade em nome de sacrifício existencial? Pondera, secretário!
Finalizou a entrevista à rádio com uma mensagem nada convencional. “Que os professores façam uma reflexão quanto ao atraso dos salários". E ainda deu uma pista para o exercício reflexivo. “O Estado não gera dinheiro e que as paralisações não vão ajudar”. Meu Deus, quanta sabedoria!
Devo então, refletir sobre não ter recebido o décimo terceiro, o salário do mês trabalhado e não pago? E que o Estado não tem como parir dinheiro?
Oráculos deste mundo nos ajudem a compreender isso, essa façanha do pensamento humano que nos conduz ao êxtase! Nos ajudem a refletir sobre a falta de alimento, de condições para nos locomover e de tantas outras necessidades que só o dinheiro atende. Nos dê condições de refletir sobre a falta daquele dinheiro que, por direito e merecimento, não vem ao nosso encontro, por atitudes irresponsáveis daqueles que acham que pimenta nos dos outros é sorvete.
Já são muitas as asneiras ditas por um Secretário de Educação que está apenas há quinze dias no poder. É excesso de verborragia de um Professor/Secretário que diante dos desencontros do governo não consegue expor seu pensamento sobre os relevantes problemas do sistema, mas, sorrateiramente, usa palavras debochadas contra quem, há dias, não recebe seu salário.
Como professor que é e aposentado por direito, no mínimo, no navegar da vida, o nobre Secretário deveria ter aprendido a grande lição do Argumento do extraordinário Paulinho da Viola: “Faça como um velho marinheiro/Que durante o nevoeiro/Leva o barco devagar.”

Para não naufragar.

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