Para Rafael Correa, presidente do Equador, o aturdimento em
que caíram as antigas direitas nacionais e internacionais depois da “débâcle”
do neoliberalismo já foi superado; no momento, observa-se claramente uma
coordenação das forças reacionárias mundiais, continentais e nacionais
Beto Almeida,Emir Sader
e Valter Xéu
de Brasília (DF) / http://www.brasildefato.com.br/
Em passagem recente pelo Brasil, o presidente do Equador,
Rafael Correa, concedeu entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Além do
jornalista Beto Almeida, que representava o jornal e a TV Cidade Livre, de
Brasília, também participaram dela o jornalista Valter Xéu, da página Pátria
Latina, e o sociólogo Emir Sader.
Correa – que governa o Equador desde 2007 e pretende
concorrer à reeleição em 2017 – esteve no Brasil para participar da reunião da
Unasul, que reúne países da América do Sul, com os Brics, integrado por
China, Rússia, Brasil, África do Sul e Índia.
O presidente equatoriano, que defende a existência de leis
que limitem o poder midiático, também acredita que, no momento, está em marcha
na América Latina uma “restauração conservadora”, que tem como objetivo pôr fim
ao ciclo de governos progressistas que emergiu no continente nos últimos anos.
Emir Sader – Presidente, após sua primeira eleição, o
senhor disse que não era mais uma época de mudança, mas uma mudança de época
para a América Latina e o Equador. Com esses últimos acontecimentos, podemos
dizer que estamos começando a sair de um mundo unipolar, como o da Guerra Fria,
em direção à construção de um mundo multipolar?
Rafael Correa – Existe uma mudança de época. Começamos um
novo ciclo na América Latina, quando muitos governos progressistas chegaram à
região diante da débâcle [mudança brusca que acarreta desordem ou ruína
financeira] neoliberal. As direitas nacionais e internacionais estavam
aturdidas por sua falta de projeto, por esse fracasso estrondoso do
neoliberalismo, sobretudo, na nossa América Latina. Por isso, falei de uma
mudança de época. Não eram simples reformas que se planejavam de acordo com os
modos existentes, mas mudanças profundas, históricas. Mudanças nas relações
de poder, nas transformações de nossos Estados burgueses em Estados populares
com a chegada de Hugo Chávez, Lula da Silva, Partido dos Trabalhadores, Tabaré
Vasquez, no Uruguai, Evo Morales, na Bolívia, Michelle Bachelet, no Chile, a
revolução cidadã no Equador... Contudo, temos que estar muito atentos.
Provavelmente, se inicia um novo ciclo conservador, no que chamam de
restauração conservadora. Esse aturdimento em que caíram as antigas direitas
nacionais e internacionais, depois da débâcle do neoliberalismo e da chegada de
tantos governos progressistas, já foi superado. Claramente se vê uma
coordenação das forças reacionárias mundiais, continentais e nacionais. Eu
creio que a América Latina jamais permitirá retornar completamente ao passado.
Mas muito do que foi ganho, sim, se pode perder. Essa nova correlação de
forças, em favor das grandes maiorias, que os governos progressistas
conseguiram obter pode, sim, ser revertida. Com base nas mentiras – do que
Gramsci chamava de cultura hegemônica – transmitidas pelos meios de
comunicação que fazem os pobres acreditarem que o que é bom para as elites é
bom para eles, ao passo que seguem nessa condição de exploração histórica que
sempre viveu nossa América. Temos que estar muito atentos a esse respeito. Com
relação à outra pergunta, se esse encontro de blocos significa uma outra
mudança de época. Pode ser. Estamos começando. Como você disse, vivemos na
última década em um mundo unipolar onde, claramente, a América Latina saiu
prejudicada. Perdemos importância. Antes se preocupavam um pouco mais com a
América Latina para evitar que se infiltrasse o comunismo e etc. Quando
passamos a um mundo unipolar isso não era mais prioritário. E a América Latina
saiu perdendo com esse mundo unipolar. A maneira de mudar essa ordem mundial,
que não é só injusta, mas imoral, tudo em função dos mais fortes, dos países
hegemônicos, do grande capital financeiro, o capital do pior tipo, o capital
especulativo, o fundo buitre [abutre] – um exemplo clamoroso no caso da
Argentina. A maneira de mudar essa ordem mundial e transformá-la em um mundo
multipolar com maior equilíbrio de poder, maior justiça, maior participação, só
pode ser em função de blocos. Só o Equador não vai fazer absolutamente nada.
Brasil um pouco, pode aumentar a economia, 200 milhões de habitantes, mas o
país é como o Equador e outros países latino-americanos, é pouco o que
podemos fazer ilhados. Então, temos que consolidar nossos blocos, neste caso
a Unasul. Que bom que os Brics estão se consolidando. Que bom que existam
encontros entre esses blocos. Então é uma grande esperança. Mas, no entanto,
falta ver se, realmente, é o início de um novo ciclo de transformação da ordem
mundial em uma ordem multipolar.
Beto Almeida – Essa reunião que aconteceu aqui, entre Brics
e Unasul, que tem um desdobramento muito importante em escala internacional,
pode reivindicar também uma articulação política. O presidente Chávez falava de
uma Quinta Internacional. Outros falam da conformação de um campo
anti-imperialista internacional. Como seria a conformação de uma iniciativa, de
escala internacional, política, para iniciativas que sustentem as coordenações
econômicas, com os bancos que estão nascendo, mas no campo exclusivamente da
política anti-imperialista?
Veja, devemos ser bem realistas. São boas notícias as
conformações desses blocos alternativos que buscam romper a hegemonia de um ou
dois países ou regiões em nível mundial. Mas não quer dizer que todos os Brics
têm governos progressistas. Não é que dentro da Unasul todos são governos
progressistas. Temos que estar muito atentos e saber até onde podemos chegar.
Mas já é muito apresentar alternativas, por exemplo, em arquitetura
financeira regional. Para não depender dos mesmos todo o tempo. Isso estão
propondo os Brics com seu fundo de reservas, com seu banco de desenvolvimento,
incluindo o intercâmbio, com
a compensação de comércio, e comércio em moeda própria, como
já estabeleceu o Brasil com a China. Então, independentemente da orientação
ideológica de determinados governos dentro dos Brics, esses já são passos
importantes para um mundo um pouco mais justo, um mundo menos concentrado, com
menos concentração de poder. Oxalá, também possamos aprofundar o diálogo
político, mas insisto, não nos enganemos. Nem todos os governos do Brics ou da
Unasul são progressistas, contudo, chegaremos a um consenso em função de nossos
interesses, se é um governo de direita ou esquerda, buscando uma nova
arquitetura financeira, buscando que os meios de pagamentos internacionais não
passem pelos Estados Unidos, porque uma decisão dos Estados Unidos pode ser
quebrar a Argentina. Sinceramente, porque tem a capacidade de apreender todos
os pagamentos que passam por esse país. Então, buscando alternativas, apenas
isso, já seriam passos gigantescos para um mundo menos injusto e para mais
oportunidades às novas economias emergentes.
Valter Xéu – Senhor presidente, durante o seu mandato, os
índices de saúde e educação no seu país cresceram muito. Também a erradicação
da pobreza. Como o senhor explica o Equador, uma economia pequena, e o senhor
consegue atingir índices que países de economia muito mais forte não conseguiram
ainda?
A mudança nas relações de poder. O desenvolvimento é
basicamente um processo político. Por que a América Latina não se desenvolveu
e a América do Norte sim? Tendo mais recursos, tendo mais tecnologia, tendo
civilizações consolidadas como os maias, astecas, incas... A pergunta e a
resposta são complexas, o grande enigma do desenvolvimento. Mas certamente, uma
das respostas é o tipo de elite que nos dominou historicamente. Uma elite
excludente, que concentrou o poder, que impediu que os outros desfrutassem do
progresso técnico... Por isso, o início do processo de desenvolvimento é
político. A mudança das relações de poder. O que alcançamos no Equador é porque
já quem manda é o povo equatoriano. Porque de um Estado burguês o estamos convertendo
em um Estado popular em função das grandes maiorias. Muitos dos recursos
estavam aí, como, por exemplo, o recurso petrolífero. De cada 100 barris, 80
ficavam com as petroleiras. Em três anos, renegociamos os contratos e quatro
petroleiras deixaram o país, que vão com Deus... Mas agora é exatamente a razão
inversa. De cada 100, 80 ficam para o povo equatoriano. Se pagava uma dívida
ilegítima até por antecipação. Então eram recursos que estavam aí, mas nas
mãos erradas. E como alcançamos isso? Porque agora há um governo e um Estado
que reflete o bem comum. Funciona com base nas grandes maiorias, houve uma
mudança na relação de poder em função do poder popular. Contudo, esse processo
tem um limite, limites externos. Quando virem que o sucesso do Equador é
perigoso, seremos atacados por todos os lados. Que ninguém duvide. Muito
depende de nós, mas existem restrições externas. Esses tratados de proteção
recíproca de inversões como acontece com o caso Chevron que poderia ter
quebrado o Equador. O Grupo de Ação Financeira (Gafi) que nos impõem, aos
países de Terceiro Mundo, o que nunca cumprem os países desenvolvidos. Ah, é
para controlar a lavagem de dinheiro, o financiamento de terroristas, uma
série de condições que não cumprem os países desenvolvidos. E esses são os
países onde estão os paraísos fiscais. Então, há uma dulpa moral internacional
terrível. E todos os direitos de propriedade... o conhecimento se privatiza.
Quando o conhecimento, que é um bem público, enquanto mais gente tenha acesso a
esse conhecimento já criado, maior o bem estar social. Mas os bens ambientais
devem ser consumidos gratuitamente, nem sequer se fala em Kyoto. E os bens
ambientais nós produzimos. E é caro produzir bens ambientais. Conservar a
selva etc, porque é um recuso natural e tal. Então, existem restrições externas
que só poderemos enfrentar com a integração. E não só isso. Um primeiro passo
no nosso processo tem sido assegurar da melhor maneira os recursos
existentes. Já uma seguinte etapa, criar mais recursos, criar mais riquezas. E
aí é onde o socialismo sempre falhou um pouco. E devemos falar dessas coisas.
O socialismo falou muito em justiça social, mas falou pouco em eficiência. E o
socialismo moderno tem que falar em eficiência.
Emir Sader – Frente à debilidade dos partidos de direita
latino-americanos em particular, os monopólios dos meios de comunicação fazem
as vezes de partidos de oposição. Vocês avançaram bastante na democratização
dos meios de comunicação. Qual o modelo atual de formação de opinião pública
democrática?
Nossos principais adversários são os meios de comunicação
que, como você mesmo disse, hão tomado, descaradamente, o lugar os partidos
políticos de direita. Porque a quem pertencem os meios de comunicação na América
Latina? Aos pobres ou às oligarquias? Esse é um instrumento para manter o
status quo. Mas temos que avançar com muito cuidado. Tem sido uma luta enorme.
Não conseguiram vencer o governo, pela credibilidade que esse tem, mas mais
de 90% dos meios de comunicação no Equador estão em mãos privadas. Claro que há
toda uma propaganda de que o Correa tem acumulado meios de comunicação porque
temos um dos periódicos nacionais dos seis existentes – locais e regionais
existem mais de duzentos. Porque temos dois canais, de banqueiros que fugiram
e encampamos os canais, dos seis ou sete canais nacionais, mas existem dezenas
de canais regionais. Porque resgatamos a Rádio Nacional, mas existem umas mil
estações de rádio. Então, com isso engana o povo. “Quanto poder acumulado pelo
governo e todos os meios estão em mãos públicas”. Mas a realidade é que nem
10% dos meios de comunicação são públicos, e não falo só governo central, mas
de municípios, assembleias, universidades públicas... O resto segue em mãos
privadas. Uma luta enorme na área da comunicação é uma contradição de base. A
comunicação é um direito. E é algo fundamental para a coesão social, para a
convivência. E de acordo com modelo capitalista, esse direito, esse serviço, é
provido por negócios privados que visam o lucro, uma contradição em si mesmo.
Entre lucro e direito. E por definição entram em conflito. Entre garantir um
direito e um negócio que visa lucro, por definição, vai prevalecer o que visa o
lucro. Mas é claro que não se busca apenas lucro. Busca-se poder. Essa é uma
forma de dominar. Todo poder deve ter controle social. Poder político, poder
econômico, poder social, poder religioso, poder midiático. Mas quando se
trata de colocar limites a esse poder midiático é um atentado à liberdade de
expressão. É totalmente inconsistente. Quando falamos de pôr limites ao poder
político todos aplaudem, inclusive o poder financeiro aplaude. Quando se fala
em pôr limites ao poder midiático, é um atentado à liberdade de expressão. É a
capacidade que esses negócios têm para, defendendo seus interesses, fazer com
que o povo acredite – o que falava Gramsci quanto à cultura hegemônica –, de
que estão defendendo os direitos do povo. Então, temos que falar claramente
que isto é um problema planetário, mas, sobretudo, na América Latina porque a
imprensa latino-americana ultrapassa todos os recordes quanto à falta de
ética, concentração de propriedade, falta de profissionalismo, manipulação
política etc...
Beto Almeida – Diante dessas articulações no campo
monetário, econômico, financeiro que representam a Celac, a Unasul, o
Mercosul... parece haver também uma necessidade de nascer um jornalismo de
integração porque só há um jornalismo de desintegração. Em relação à Copa,
parecia que seria um fracasso porque os meios a apresentaram como se fosse ser
um fracasso inevitável, e não o foi. Também apresentam todos esses eventos,
como a reunião dos Brics com a Unasul como se não fosse nada, como se não fosse
um momento histórico porque o tipo de jornalismo é o de desintegrar, separar,
como se o povo não pudesse ter uma aptidão para a solidariedade, cooperação.
Como o senhor vê a necessidade de um outro jornalismo?
É que, precisamente, do diagnóstico sairia uma solução. O
problema base é que seja um direito, já que este bem fundamental para a
questão social está em mãos privadas. É um negócio privado visando lucro.
Ademais, uma propriedade privada altamente concentrada nas mãos das
oligarquias. No Equador, os meios nacionais são propriedade de meia dúzia de
famílias. Me disseram que no Brasil, um país muito maior, são propriedade de
até menos famílias. Daí, se deriva a solução. Ter muito mais meios
comunitários, sem fins lucrativos, que busquem realizar o verdadeiro
jornalismo sem essa contradição fundamental entre o lucro e a garantia de um
direito. Ter mais meios públicos, o que não significa serem meios do governo,
mas da sociedade, da cidadania, com controle social. Não só meios públicos do
governo central, mas de governos municipais, de universidades. Com a nova
Constituição do Equador se regula que ao menos a frequência para meios
audiovisuais no espectro radioelétrico se distribua um terço para o setor
privado com fins lucrativos, um terço para o setor público e um terço para o setor
comunitário, sem fins lucrativos. Trata-se de uma luta duríssima porque
significa quebrar a espinha dorsal do poder midiático no país. Ou seja, a
grande parte desse espectro, que é propriedade de todo o povo equatoriano,
ainda está concentrado em meios privados. Então, temos que ir diminuindo a
proporção de privados, aumentando a proporção de comunitários e públicos. Mas
terão denúncias de que estamos atentando contra a liberdade de expressão porque
reduzimos a proporção de meios privados audiovisuais para repartir o espectro
em setores comunitários e públicos. É uma das respostas dentre outras medidas
mais que se podem tomar para termos um jornalismo muito melhor, que no lugar
de desintegrar, integre; não desinforme; não manipule; comunique.
Beto Almeida – Porque há uma universidade para a integração
criada por Lula aqui no Brasil, a Unila; a Escola Latino-americana de Medicina,
em Cuba, mas também seria necessário um jornalismo com outra perspectiva...
É fundamental. Um dos grandes desafios da humanidade do
século 21 é vencer esse poder midiático que tem fortes mecanismos para fazer
crer que criticar esses negócios de comunicação é atentar contra a liberdade de
expressão. Ou seja, se você critica o poder financeiro, praticamente, todo mundo
vai aplaudir. Mas quando se critica o poder midiático, muita gente vai dizer
que estamos cometendo um atentado à liberdade de expressão. Temos que superar
esse engano.
Emir Sader – Recentemente, vocês fundaram uma nova
universidade, baseada na ideia do “conhecer bem”, do saber comum. Qual é a
natureza deste projeto novo que estão desenvolvendo?
Na verdade, criamos quatro novas universidades. A qual se
refere? Acredito que você se refira à Ikiam [Universidade Regional Amazônica],
na selva. Aproveitando essa vantagem enorme que é a selva amazônica, maior e
melhor laboratório natural do mundo, e diferentemente do Brasil onde a
floresta amazônica fica bastante distante das grandes cidades, aqui no Equador,
em três horas e meia, a partir de Quito, pode-se estar em plena selva
amazônica, onde a Ikiam está localizada. Criamos essa nova universidade,
chamada Ikiam, que na língua shuar, uma das tantas línguas ancestrais que têm
nosso país, significa “selva”, que fica no meio de uma reserva natural de cerca
de 900 km², para ser uma universidade de nível mundial, basicamente, para no
caso nacional atender a região amazônica que, praticamente, carecia de
universidades ou eram universidades de péssima qualidade... no meio da selva,
orientada ao bioconhecimento. Então, posso lhes garantir que será uma
universidade única e com vantagens irrepetíveis nessa classe de estudo: de
biodiversidade, de bioconhecimento.
Valter Xéu – Voltando a falar sobre o terrorismo
midiático. No início do seu governo, houve um atrito com a empresa brasileira
Norberto Odebrecht e a imprensa brasileira só faltou dizer ao Planalto que
invadisse o Equador. A imprensa independente foi a que compreendeu as razões do
Equador e o defendeu. Naquela época, isso criou um certo mal-estar dentro do
governo e hoje como estão as relações bilaterais entre Equador e Brasil?
Até o momento, são extradiordinárias, com Dilma e com Lula
também. Mas nesse momento, lá atrás, nos tiraram até o embaixador, contudo, o
tempo nos deu absolutamente toda a razão. A Odebrecht reconheceu o seu erro.
Era uma hidroelétrica mal construída, que entrou em colapso. Reparou a
hidroelétrica, assumindo os custos como tinha que ser. E agora está
trabalhando normalmente no Equador e ganhando muitos contratos.
Beto Almeida – Sabemos que o senhor gosta bastante de falar
sobre o papel das ONGs porque há ONGs e ONGs... Aqui tivemos uma experiência
muito sinistra. Algumas ONGs estão promovendo manifestações que promovem a
violência gratuitamente para destruir prédios públicos, instalações públicas,
metrôs... Na Venezuela, sabemos o que aconteceu... as guarimbas [protestos e
bloqueios], com muitas ONGs financiadas por fundações externas de países ricos
que estão atuando. Mas esse é um novo processo que alguns chamam de “a cara social
do neoliberalismo”... porque estamos também enfrentando isso aqui no Brasil no
momento..
É um problema gravíssimo, com bonitas embalagens, porque
quem vai chamá-lo de, por exemplo, aqui temos nosso grupo de
“desistabilização de governos progressistas”... lógico que não, vão colocar
nomes bonitos: ONG, organizações sociais, representantes da sociedade civil.
Lembrem-se que sempre se apresentam com nomes bonitos. O Chile de Pinochet
falava-se de um Chile libertário... Nossas elites sempre falaram de
democracia, mas quando a democracia podia mudar algo se acabava com a
democracia, uma democracia de conveniências. Temos que estar atentos com isso.
Todos cremos na ação das organizações sociais, não governamentais, mas cuidado
porque essa é uma nova estratégia de inflitração em nossos países. Como já
disse Álvaro García Linera, o vice-presidente da Bolívia, não é que sejam
organizações não governamentais, mas sim organizações de outros governos
trabalhando em nossos territórios para impor uma série de restrições e
condicionamentos em função dos interesses das grandes potências. Por exemplo,
tudo isso quanto ao “não toquem nos recursos naturais”, “mantenham a selva
intacta”... Claro, e nós, tontos úteis lhes produzindo bens ambientais para que
os grandes contaminadores sigam consumindo seus bens ambientais de forma
absolutamente gratuita porque nem sequer se comprometem com Kyoto. Então, não
podemos cumprir esse papel que nos querem designar na nova divisão do
trabalho em nível internacional. Eles produzindo conhecimento que privatizam
e nós produzindo bens ambientais que eles consomem gratuitamente. Mas essas
ONGs não funcionam só neste sentido, mas, claramente, nós temos ONGs ainda no
Equador, não mais financiadas pela USAID que já se foi do Equador, mas pela
NED, da extrema-direita estadunidense, para “capacitação política”,
“aperfeiçoamento da democracia”, em outras palavras, ativar líderes locais de
oposição ao nosso governo para ver se nos desestabilizam. Então, a América
Latina deve estar muito atenta. E as próprias organizações sociais, as
verdadeiras ONGs e as ONGs patriotas, nacionalistas, devem estar muito atentas
a isso porque muitas vezes se cai no engano, e com um espírito de corpo,
defendem esse “onguismo”, que é uma maneira de inflitrar em nossos governos. E
já que tocou no tema, as organizações sociais de esquerda na América Latina
deveriam falar de maneira clara porque composições, algumas vezes extremas,
prejudicam esses processos progressistas. Veja o reconhecimento que tem
alcançado o processo equatoriano e, mesmo assim, quanto crítica temos de
supostas organizações sociais de esquerda no Equador que não entendem o que é
governar, não entendem os dilemas, as decisões que têm que tomar e defendem a
natureza firmemente como se nós não a defendêssemos. E que até mesmo para
defendê-la, necessitam de recursos e para isso não se hesita em aproveitar
seus recursos naturais. Então, essa posição de supostas ONGs, organizações
sociais de esquerda nacionais – equatorianas, bolivianas, venezuelanas – que
dizem para “não tocar nos recursos naturais”... Imagina o que seria da
Venezuela sem o petróleo. Imagina o que seria a Bolívia sem o gás. Isso é suicida
e propõem essas coisas. Há pronunciamentos claros de organizações sociais de
esquerda nesse sentido... Porque mesmo que você não creia, no caso equatoriano,
provavelmente, nos criam maior oposição do que a própria direita.
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