quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O que está acontecendo na Grécia?

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O Syriza subiu no palanque sem disfarce e sem gravata: o poder supremo das finanças está sendo contestado, e talvez até derrotado, na Grécia.

Por Michel Plon, de Paris – http://cartamaior.com.br/

Há duas semanas vemos se desenrolar um importante acontecimento. Embora os meios impressos e audiovisuais não deem a devida importância, ocupados demais que estão em nos distrair com os fatos e gestos dos «Príncipes » que supostamente nos governam, parece claro que uma guerra de verdade, opondo a política ao mercado, foi declarada, pelo menos em um país; e que o poder supremo das finanças – o FMI, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia, que através da sacrossanta dívida organizam a miséria pelo mundo – está sendo contestado e, talvez até derrotado, na Grécia.

Para medir a importância do acontecimento, convém enfatizar a implacável subordinação da política – isto é, de praticamente todos os governos – ao mercado internacional. O que mais pensar se, em quase todos os países, em qualquer eleição, seja presidencial, legislativa ou local, quaisquer que sejam os "vencedores", nada, ou quase nada, muda. É o que podemos chamar, de forma geral, com nuances que não alteram a mise-en-scène, de Comédia Democrática, cujo último ato é sempre o mesmo: os pobres ficam mais pobres e os ricos, mais ricos. Às vezes acontece de a farsa eleitoral não funcionar ou funcionar mal: foi o caso do Chile, e sabemos como a comédia se transformou em tragédia. Exceto este caso dramático, os povos, espectadores resignados, suportam o decorrer de uma peça que conhecem de cor. Ocorre-lhes também de se revoltar – movimento dos indignados da Espanha, « Occupy Wall Street » - mas, com a ajuda de cassetetes e gases lacrimogêneos, ou apenas do sentimento de impotência, a ordem é restabelecia e os manifestantes voltam pra casa, enquanto alguns continuam a sonhar com o surgimento de um salvador da pátria.

Na Grécia, desta vez sem podermos prever o que acontecerá nas próximas semanas e nos próximos meses, o velho script não funcionou. A política, na voz do SYRIZA e de seus líderes, subiu no palco, sem disfarce, sem gravata, apoiada, impulsionada pelo povo grego abatido, anunciando o fim da comédia, que o povo já havia pago o suficiente, que a sua ruína tinha sido em grande parte organizada especialmente, e há alguns anos, pelo banco Goldman Sachs. Agora é preciso olhar e ouvir os príncipes de Bruxelas, criados dos bancos e da "Troika”; que estão agitados e parecem dizer aos seus interlocutores gregos algo como "Acabou o recreio, chega de bla bla bla, agora é hora de falar sério". Os gregos, que parecem desconhecer os códigos do decoro diplomático, insistem em dizer que é preciso continuar a lhes dar o dinheiro de que precisam – sejamos claros, a lhes reembolsar o que seus interlocutores, Merkel, Cameron, Hollande e Junker, entre outros, roubaram-lhes, obedecendo às ordens de Wall Street e da City de Londres – e sem exigir o pagamento da dívida, verdadeiro instrumento de tortura para os povos desobedientes. Escândalo inédito: estes neófitos da política mundial não apenas não renegam as promessas feitas ao povo, como ainda por cima parecem querer cumprir o que prometeram! Convenhamos que os outros líderes europeus, mencionados acima, têm razões de sobra para engasgar de raiva.

Este é o acontecimento: os salões com detalhes dourados e habituados ao sutil tilintar de taças de champanhe foram invadidos pela verdadeira política representada por alguns gregos – muitos dos quais, imaginem vocês, até falam Inglês e estudaram economia – que não chegam com uma faca nos dentes, apenas determinados a dar nome aos bois.

O carnaval acabou e, em Paris e na França, as férias de inverno na neve também terminarão em breve. Então, pensemos em como agir, como apoiar os gregos. Não nos contentemos com o papel de espectadores, esta batalha é de todos nós.

PS: Estas linhas foram escritas na noite de domingo para segunda, 22 a 23 de fevereiro. Na manhã de segunda-feira, todos os meios de comunicação alardeiam que as autoridades gregas fizeram algumas concessões! A resposta foi imediata: a bolsa de Nova York e o índice Dow Jones... subiram! Então: quem é que manda?

Tradução de Clarisse Meireles


Créditos da foto: Left.gr

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