O Syriza subiu no palanque sem
disfarce e sem gravata: o poder supremo das finanças está sendo contestado, e
talvez até derrotado, na Grécia.
Por Michel Plon, de Paris – http://cartamaior.com.br/
Há duas semanas vemos se
desenrolar um importante acontecimento. Embora os meios impressos e audiovisuais
não deem a devida importância, ocupados demais que estão em nos distrair com os
fatos e gestos dos «Príncipes » que supostamente nos governam, parece claro que
uma guerra de verdade, opondo a política ao mercado, foi declarada, pelo menos
em um país; e que o poder supremo das finanças – o FMI, o Banco Central Europeu
e a Comissão Europeia, que através da sacrossanta dívida organizam a miséria
pelo mundo – está sendo contestado e, talvez até derrotado, na Grécia.
Para medir a importância do
acontecimento, convém enfatizar a implacável subordinação da política – isto é,
de praticamente todos os governos – ao mercado internacional. O que mais pensar
se, em quase todos os países, em qualquer eleição, seja presidencial,
legislativa ou local, quaisquer que sejam os "vencedores", nada, ou
quase nada, muda. É o que podemos chamar, de forma geral, com nuances que não
alteram a mise-en-scène, de Comédia Democrática, cujo último ato é sempre o
mesmo: os pobres ficam mais pobres e os ricos, mais ricos. Às vezes acontece de
a farsa eleitoral não funcionar ou funcionar mal: foi o caso do Chile, e
sabemos como a comédia se transformou em tragédia. Exceto este caso dramático,
os povos, espectadores resignados, suportam o decorrer de uma peça que conhecem
de cor. Ocorre-lhes também de se revoltar – movimento dos indignados da
Espanha, « Occupy Wall Street » - mas, com a ajuda de cassetetes e gases
lacrimogêneos, ou apenas do sentimento de impotência, a ordem é restabelecia e
os manifestantes voltam pra casa, enquanto alguns continuam a sonhar com o
surgimento de um salvador da pátria.
Na Grécia, desta vez sem podermos
prever o que acontecerá nas próximas semanas e nos próximos meses, o velho
script não funcionou. A política, na voz do SYRIZA e de seus líderes, subiu no
palco, sem disfarce, sem gravata, apoiada, impulsionada pelo povo grego
abatido, anunciando o fim da comédia, que o povo já havia pago o suficiente,
que a sua ruína tinha sido em grande parte organizada especialmente, e há
alguns anos, pelo banco Goldman Sachs. Agora é preciso olhar e ouvir os
príncipes de Bruxelas, criados dos bancos e da "Troika”; que estão
agitados e parecem dizer aos seus interlocutores gregos algo como "Acabou
o recreio, chega de bla bla bla, agora é hora de falar sério". Os gregos,
que parecem desconhecer os códigos do decoro diplomático, insistem em dizer que
é preciso continuar a lhes dar o dinheiro de que precisam – sejamos claros, a
lhes reembolsar o que seus interlocutores, Merkel, Cameron, Hollande e Junker,
entre outros, roubaram-lhes, obedecendo às ordens de Wall Street e da City de
Londres – e sem exigir o pagamento da dívida, verdadeiro instrumento de tortura
para os povos desobedientes. Escândalo inédito: estes neófitos da política
mundial não apenas não renegam as promessas feitas ao povo, como ainda por cima
parecem querer cumprir o que prometeram! Convenhamos que os outros líderes
europeus, mencionados acima, têm razões de sobra para engasgar de raiva.
Este é o acontecimento: os salões
com detalhes dourados e habituados ao sutil tilintar de taças de champanhe
foram invadidos pela verdadeira política representada por alguns gregos –
muitos dos quais, imaginem vocês, até falam Inglês e estudaram economia – que
não chegam com uma faca nos dentes, apenas determinados a dar nome aos bois.
O carnaval acabou e, em Paris e
na França, as férias de inverno na neve também terminarão em breve. Então,
pensemos em como agir, como apoiar os gregos. Não nos contentemos com o papel
de espectadores, esta batalha é de todos nós.
PS: Estas linhas foram escritas
na noite de domingo para segunda, 22 a 23 de fevereiro. Na manhã de
segunda-feira, todos os meios de comunicação alardeiam que as autoridades
gregas fizeram algumas concessões! A resposta foi imediata: a bolsa de Nova
York e o índice Dow Jones... subiram! Então: quem é que manda?
Tradução de Clarisse Meireles
Créditos da foto: Left.gr
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