quinta-feira, 28 de maio de 2015

PCdoB sela, em vão, acordo com o diabo

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Com medo da instituição de uma hipotética cláusula de barreira via reforma política, a bancada comunista da Câmara votou pelo 'distritão' de Eduardo Cunha.


A bancada do PCdoB na Câmara chocou até mesmo sua própria militância, na noite desta terça (26), durante a primeira rodada de votações da reforma política, ao se pronunciar favorável ao “distritão”, o modelo de sistema político defendido com unhas e dentes pelo presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, de tão retrógado e nocivo à democracia, só é adotado em países como o Afeganistão e a Jordânia.

O modelo, apontado pelo campo progressista como responsável por hiperpersonalizar a política e exacerbar o poder do dinheiro nas campanhas, acabou derrotado, com 267 votos contrários, 210 favoráveis e cinco abstenções. No campo da esquerda, foi rechaçado do governista PT ao oposicionista PSOL. No campo da direita, pela maioria do PSDB que, a exemplo do senador Aécio Neves (PSDB-MG), classificou o modelo como retrocesso democrático.
Defendeu fervorosamente o “distritão” a cada vez menor ala do PMDB ainda fiel a Cunha. E, claro,  o ultraconservador DEM. Causou estranhamento, portanto, ver o PCdoB, aliado histórico da esquerda, no meio deste agrupamento. E logo os boatos que corriam pelos corredores da Câmara de que as lideranças comunistas haviam selado um acordo com o diabo se confirmaram.
Em nota oficial divulgada nesta quarta (27), a bancada do PCdoB admitiu ter votado em favor do “distritão” em função de acordo feito com Eduardo Cunha para impedir que o partido pudesse vir, futuramente, a ser prejudicado pela instituição de uma hipotética clausura de barreira, aquele mecanismo que impede os partidos que não alcançam um percentual mínimo de votos em determinada eleição de terem representação no legislativo.
Como o “distritão” prioriza a eleição dos candidatos mais conhecidos do eleitor, em detrimento de partidos e ideias, o medo dos comunistas era  que, com a adoção do modelo proposto por Cunha, o partido até conseguiria eleger seus nomes mais fortes, mas não atingiria o percentual de votos necessário para uma participação atuante no parlamento.  Portanto, no salve-se quem puder da política brasileira, falou mais forte a defesa da própria sobrevivência do partido, com sua pequena bancada de 13 membros.
Na nota, a bancada do PCdoB ressalta que lutou bravamente pela aprovação do voto em lista, que fortalece os partidos políticos e permite a eleição de seguimentos minoritários, inclusive as mulheres.  Uma forma elegante de pisar no calo do PT que, apesar de ser defensor histórico do modelo, votou contrário à emenda aglutinativa que o propunha, com a justificativa de que o tema não era matéria constitucional, conforme apresentado.
A bancada comunista destacou, principalmente, seu árduo trabalho pela rejeição da emenda aglutinativa que se propunha a constitucionalizar o financiamento privado de campanha, também defendida por Cunha e seus seguidores, mas que vai na contramão das vozes das ruas e das propostas de reforma política apresentadas pelos movimentos sociais e entidades da sociedade civil.
Os deputados do PCdoB, porém, justificam ter firmado o estranho acordo com Cunha pelo temor de que os grupos derrotados possam concentrar seus esforços para aprovar a instituição da cláusula de barreira que, na opinião deles, eliminaria as múltiplas representações partidárias e estabeleceria uma reforma restritiva e antidemocrática.
“Para combater essa reação, optamos pelo acordo de voto a favor do distritão para, em contrapartida, defender a sobrevivência no Parlamento não apenas do PCdoB, mas de todos os partidos de matizes ideológicas e que possuem profunda relação com a representação popular e com histórico de luta democrática e que não se configuram legenda de aluguel. Estes partidos têm história e identidade no Brasil e não podem se transformar em sublegenda de partidos grandes”, diz o documento.
A nota oficial não deixa claro, mas também pesou na decisão do PCdoB de apoiar o “distritão” o medo de que a reforma política acabe por aprovar o fim das coligações, o que reduziria ainda mais a representatividade do partido no parlamento. Mas o fato é que, com a derrota acachapante do modelo defendido pelo presidente da Câmara, o acordo com o diabo fez água. E ao PCdoB só restou o desgaste que a nota tenta, mas não consegue nem de longe reverter.


Créditos da foto: reprodução

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