Com medo da instituição de uma hipotética cláusula de
barreira via reforma política, a bancada comunista da Câmara votou pelo
'distritão' de Eduardo Cunha.
Najla Passos / http://cartamaior.com.br/
A bancada do PCdoB na Câmara chocou até mesmo sua própria
militância, na noite desta terça (26), durante a primeira rodada de votações da
reforma política, ao se pronunciar favorável ao “distritão”, o modelo de
sistema político defendido com unhas e dentes pelo presidente da casa, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), que, de tão retrógado e nocivo à democracia, só é adotado em
países como o Afeganistão e a Jordânia.
O modelo, apontado pelo campo progressista como responsável
por hiperpersonalizar a política e exacerbar o poder do dinheiro nas campanhas,
acabou derrotado, com 267 votos contrários, 210 favoráveis e cinco abstenções.
No campo da esquerda, foi rechaçado do governista PT ao oposicionista PSOL. No
campo da direita, pela maioria do PSDB que, a exemplo do senador Aécio Neves
(PSDB-MG), classificou o modelo como retrocesso democrático.
Defendeu fervorosamente o “distritão” a cada vez menor ala do
PMDB ainda fiel a Cunha. E, claro, o
ultraconservador DEM. Causou estranhamento, portanto, ver o PCdoB, aliado
histórico da esquerda, no meio deste agrupamento. E logo os boatos que corriam
pelos corredores da Câmara de que as lideranças comunistas haviam selado um acordo
com o diabo se confirmaram.
Em nota oficial divulgada nesta quarta (27), a bancada do
PCdoB admitiu ter votado em favor do “distritão” em função de acordo feito com
Eduardo Cunha para impedir que o partido pudesse vir, futuramente, a ser
prejudicado pela instituição de uma hipotética clausura de barreira, aquele
mecanismo que impede os partidos que não alcançam um percentual mínimo de votos
em determinada eleição de terem representação no legislativo.
Como o “distritão” prioriza a eleição dos candidatos mais
conhecidos do eleitor, em detrimento de partidos e ideias, o medo dos
comunistas era que, com a adoção do
modelo proposto por Cunha, o partido até conseguiria eleger seus nomes mais
fortes, mas não atingiria o percentual de votos necessário para uma
participação atuante no parlamento.
Portanto, no salve-se quem puder da política brasileira, falou mais
forte a defesa da própria sobrevivência do partido, com sua pequena bancada de
13 membros.
Na nota, a bancada do PCdoB ressalta que lutou bravamente
pela aprovação do voto em lista, que fortalece os partidos políticos e permite
a eleição de seguimentos minoritários, inclusive as mulheres. Uma forma elegante de pisar no calo do PT
que, apesar de ser defensor histórico do modelo, votou contrário à emenda
aglutinativa que o propunha, com a justificativa de que o tema não era matéria
constitucional, conforme apresentado.
A bancada comunista destacou, principalmente, seu árduo
trabalho pela rejeição da emenda aglutinativa que se propunha a
constitucionalizar o financiamento privado de campanha, também defendida por
Cunha e seus seguidores, mas que vai na contramão das vozes das ruas e das
propostas de reforma política apresentadas pelos movimentos sociais e entidades
da sociedade civil.
Os deputados do PCdoB, porém, justificam ter firmado o
estranho acordo com Cunha pelo temor de que os grupos derrotados possam
concentrar seus esforços para aprovar a instituição da cláusula de barreira
que, na opinião deles, eliminaria as múltiplas representações partidárias e
estabeleceria uma reforma restritiva e antidemocrática.
“Para combater essa reação, optamos pelo acordo de voto a
favor do distritão para, em contrapartida, defender a sobrevivência no
Parlamento não apenas do PCdoB, mas de todos os partidos de matizes ideológicas
e que possuem profunda relação com a representação popular e com histórico de
luta democrática e que não se configuram legenda de aluguel. Estes partidos têm
história e identidade no Brasil e não podem se transformar em sublegenda de
partidos grandes”, diz o documento.
A nota oficial não deixa claro, mas também pesou na decisão
do PCdoB de apoiar o “distritão” o medo de que a reforma política acabe por
aprovar o fim das coligações, o que reduziria ainda mais a representatividade
do partido no parlamento. Mas o fato é que, com a derrota acachapante do modelo
defendido pelo presidente da Câmara, o acordo com o diabo fez água. E ao PCdoB
só restou o desgaste que a nota tenta, mas não consegue nem de longe reverter.
Créditos da foto: reprodução
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