TEREZA CRUVINEL / http://www.brasil247.com/
O jornal americano The New York
Times registrou com clara satisfação a prisão do almirante Othon Pinheiro da
Silva, presidente afastado da Eletronuclear, apontando-o como chefe de um
programa nuclear clandestino durante a ditadura e um “militar nacionalista”
resgatado do ostracismo em 2003 pelo governo do presidente Lula.
O programa nuclear brasileiro
nunca foi clandestino, vinculando-se inicialmente a um acordo internacional com
a Alemanha, que muito irritou os Estados Unidos. Foi o acordo que possibilitou
a construção das usinas Angra I e Angra II. Mas Angra III já vem sendo
construída com tecnologia nacional pela Eletronuclear, tecnologia desenvolvida
a partir das pesquisas estratégicas realizadas pela Marinha. Estas sim,
tratadas como segredo de Estado, tanto quanto as empreendidas pelos países
ricos nesta e em outras áreas. Othon teve papel relevante neste processo, do
qual é considerado como principal líder intelectual.
Como escreveu o economista e
jornalista José Carlos de Assis em artigo republicado pelo 247, “o almirante
Othon é um arquivo vivo de tecnologia”. Foi sob sua coordenação que o projeto
Aramar desenvolveu as super-centrífugas brasileiras que processam o urânio a
custos 70% menores que outros países, inclusive os Estados Unidos, que sempre
quiseram se apropriar da tecnologia brasileira.
O programa nuclear brasileiro foi
metaforicamente detonado por Collor, quando fechou o “buraco da serra do
Cachimbo”, depósito de dejetos nucleares do programa, em sinal de sua
paralização. E por Fernando Henrique, quando deixou o projeto Aramar definhar
por falta de verbas. Lula, depois de empossado, visitou o projeto e de fato
resgatou o almirante Othon ao resgatar o programa e retomar os investimentos na
construção da terceira usina nuclear.
O Brasil foi privilegiado pela
natureza com um potencial invejável para a geração de energia hidrelétrica,
limpa e relativamente barata. Mas esta fonte está se acabando, quase todos os
rios já foram devidamente explorados, forçando a construção de novas usinas na
região Norte. Em algum momento, a energia nuclear, bem como a de outras fontes,
como a eólica, será fundamental para o desenvolvimento nacional.
A prisão do almirante Othon, um
homem de 76 anos, tem uma relação direta com as questões acima. A Lava Jato não
apresentou até agora provas de que os recursos na conta de sua empresa sejam
oriundos de corrupção. Ela presta
serviços aos construtores das dezenas de pequenas hidrelétricas espalhadas pelo
Brasil. Será preciso demonstrar a origem dos recursos. Mas culpado ou inocente, por tudo o que ele
sabe e representa, não pode ser submetido à sanha dos procuradores e delegados
por delações premiadas. O Estado brasileiro tem grande responsabilidade por seu
destino, ao qual estão vinculados segredos da política nacional de defesa.
Mas até agora, não se ouviu uma
palavra do Governo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12