Durante seu discurso de posse no
cargo, em 1º de janeiro de 2014, o novo prefeito da cidade de Nova York, Bill
de Blasio, se comprometeu a enfrentar como prioridade principal a obscena
diferença na distribuição de riqueza na Grande Maçã, como a cidade é conhecida
nos Estados Unidos. Ele havia chamado este problema de uma "história de
duas cidades" ao longo de sua campanha, mas no discurso de posse reafirmou
que o fim das "desigualdades econômicas e sociais que ameaçam desintegrar
a cidade que amamos" não era um discurso barato, uma promessa eleitoral,
mas o princípio básico do programa de sua administração.
Por Teresa Albano, no People's
Worker / http://www.vermelho.org.br/
Os outros altos funcionários da
cidade que acabavam de assumir o cargo, a defensora pública Leticia James e o
procurador Scott Stringer, também fizeram promessas semelhantes, embora tenham
ampliado ainda mais o alcance delas. Leticia, a primeira negra eleita para
ocupar um cargo oficial, que é responsável por toda a cidade de Nova York,
criticou as políticas favoráveis a Wall Street aplicadas pelo prefeito que
deixava o cargo, Michael Bloomberg, e que levaram a cidade "à idade
dourada da desigualdade, na qual refúgios para desamparados e projetos de
urbanização decrépitos para pessoas de recursos escassos foram esquecidos para
dar lugar a brilhantes condomínios de vários milhões de dólares".
Stringer disse que adotaria uma
agenda progressista, baseada na "responsabilidade fiscal" que pudesse
"levantar a todos os nova-iorquinos", destacando que os dois
elementos não são mutuamente excludentes.
Nova York é uma cidade
excepcional, mas seus problemas não são únicos. O que de Blasio descreveu como
uma "crise silenciosa" das disparidades em matéria de riqueza afeta a
todas as cidades dos EUA. De fato, se trata de um trem fora do controle que
ameaça criar o caos, não só para os setores urbanos, mas também para as
periferias, reservas e povoados de forma geral. Para o escritor, procedente de
Chicago e onde o atual prefeito ganhou o título de "prefeito do um por
cento", a promessa de mudar as políticas que favorecem os multimilionários
é música para os ouvidos.
Entretanto, a crise não é igual
em todos os lugares. Detroit – uma cidade que também poderia ser descrita como
singular – enfrenta uma falência provocada por anos de desigualdades raciais e
de classe, condições econômicas e sociais que, talvez somente nos detalhes,
sejam muito diferentes das de Nova York, mas todas as cidades estão com
dificuldades, de um modo ou de outro, em áreas de interesse público, como
educação pública, aposentadorias, impostos, empregos e salários, moradias
acessíveis e prejuízos raciais nas políticas de aplicação das leis e da justiça
penal.
Os moradores das grandes e
pequenas cidades veem que suas escolas públicas precisam desesperadamente de
financiamento, enquanto que as corporações privadas e as escolas particulares
seguem absorvendo recursos públicos. Os empregos com baixos salários na
indústria de alimentos e no comércio varejista travam as economias urbanas. Os
sistemas de transporte em massa são sucateados e as políticas em matéria de
policiamento são dirigidas para acossar a juventude negra e seguir alimentando
o "complexo industrial de prisões", com novas gerações de jovens.
A lista poderia continuar
indefinidamente e com cada problema aumentam e intensificam as desigualdades
raciais e de classe. Alguns chamam isto de "o urbanismo neoliberal",
no qual os mercados de capitais regem livremente a economia local e, com isso,
assumem o controle social, político e ideológico. Para dizer de outro modo, a
crise das cidades tem sua origem no capitalismo.
A luta pelo progresso tem muitas
formas e é livrada em muitos âmbitos, com diferentes coalizões e movimentos. A
vitória de de Blasio ofereceu uma nova esperança de que se pode produzir uma
mudança progressiva nacionalmente, em relação à luta contra as desigualdades
raciais e de distribuição da riqueza que assolam as cidades dos Estados Unidos.
No início de dezembro, de Blasio
e mais de uma dezena de outros prefeitos eleitos foram convidados para a Casa
Branca, para se encontrarem com o presidente Obama. Depois do evento, de Blasio
descreveu o que se poderia definir como um "consenso de interesses"
entre os prefeitos que poderia ser a base de um movimento nacional.
"Algo está ocorrendo
aqui", quando prefeitos de todo o país dizem ao presidente o mesmo com
relação à pobreza e à educação infantil", disse de Blasio depois da
reunião.
"A luta contra a
desigualdade é a missão da nossa era", disse.
Esse movimento – que combina as
lutas contra as desigualdades raciais e de classe – tem preocupado os titãs
corporativos e seus cães de guarda. De Blasio, da mesma forma que Obama, será
desafiado pelos acontecimentos e uma oposição feroz, em primeiro lugar por
parte da extrema-direita. Wall Street se assegurará disso. As grandes
corporações se alimentaram dos contribuintes durante décadas, seja mediante a
privatização dos recursos públicos ou por meio de incentivos fiscais e créditos
com a promessa de criar postos de trabalho.
Um exemplo, há pouco tempo a
Bolsa de Mercadorias de Chicago (CME na sigla em inglês) – uma das maiores
instituições financeiras do mundo – recebeu US$ 15 milhões da cidade de Chicago
para pagar a renovação de seu balneário, em troca de algumas centenas de postos
de trabalho e a promessa de permanecer em Chicago até o ano de 2017. Em outras
palavras, a cidade estava disposta a pagar o "resgate" depois que a
Bolsa ameaçou abandonar a cidade. Depois que os cidadãos repudiaram e protestaram
contra a negociata, a Bolsa voltou atrás e "recusou" o dinheiro.
O movimento progressista também
terá o objetivo de sair de sua zona de conforto e construir coalizões com
aliados, começando com o movimento operário, para ampliar seu alcance. Para
fazer frente aos problemas da desigualdade é essencial aplicar uma nova
política industrial, verde, que seja baseada nos salários propostos pelos
sindicatos. Reconstruir pontes e fábricas e proporcionar moradias acessíveis é
inevitável. Isso significa soluções a nível nacional e estatal. Entretanto, as
eleições legislativas de 2014 foram parte do desafio e a derrota para os
republicanos e para o Tea Party, renovando o domínio deles sobre o Congresso,
criou um obstáculo muito maior para o movimento progressista nos Estados
Unidos.
Fonte: People's Worker. Traduzido
por Humberto Alencar
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