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Guilherme dos Santos
A sede do reacionarismo mudou-se
de Minas Gerais para São Paulo. Parte da razão é econômica. Entre 2002 e 2012,
só os estados do Norte, Centro-Oeste e Nordeste, com exceção da Bahia,
aumentaram a contribuição de suas economias para a formação do Produto Interno
Bruto. Atribuir a desconcentração econômica exclusivamente aos governos
petistas seria tão simplista quanto convocar apenas a sabedoria do mercado para
explicá-la. Com participação cadente no PIB nacional, a economia paulista
enfrenta um crescimento medíocre nos últimos anos, com substancial retração
anunciada para este ano, 2015, e, pelo menos, o próximo, senão ainda 2017.
Quando a liderança de um país escolhe a ladeira da recessão, é muita ousadia,
talvez presunção tecnocrática, proclamar quando ela irá terminar. A incerteza
de que falam os porta-vozes jornalísticos não é do País, mas a da que paira
sobre o destino da geração empresarial afilhada da ditadura.
Como de hábito, em momentos
cíclicos desfavoráveis o empresariado esquece noções primárias de economia. O
alienado da ficção de Nelson Rodrigues era a favor do capitalismo, embora
contra o lucro. Agora, vários imaginavam um ajuste fiscal com manutenção do
nível de consumo. Não há panelaço à altura de semelhante tolice. Reduzido o
tamanho do bolo e posta a economia em pandarecos, a competição entre segmentos
empresariais adquire vocalizes bárbaros, com origem em sua garganta inflamada –
São Paulo. A histórica truculência da política bandeirante contaminou a cultura
cívica nacional, os vitupérios se abrigam nas reportagens e nos editoriais, a
pornografia e o mau gosto florescem no mundo da internet e de medíocres colunas
jornalísticas. A guerra civil paulista foi exportada para Brasília. O palavrão
virou estilo!
De junho de 2013 a 2015 o
protagonismo baderneiro de São Paulo foi crescente. Baderna institucional e,
como o capitalista ideológico de Nelson Rodrigues, alienada. Ser responsável
por quase 40% do total nacional de manifestantes, como o foram os paulistanos
em 16 de agosto último, será heroicamente lembrado em futuros editoriais e
teses de pós-graduação no circuito universitário de São Paulo. Claro, caso os
movimentos de esquerda e o governo de Dilma Rousseff, que lhes deu as costas,
sejam definitivamente enforcados no palco da hipocrisia nacional. Um resultado,
porém, será certo: não há substituto de governo que amenize o futuro imediato
de um parque industrial que ainda não justificou o regime de engorda obtido desde
o governo JK. Em outras palavras: o mau gosto continuará desfilando na
imprensa, nas ruas e nas tribunas. Este, sim, é um carnaval decadente.
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