No caso da Ucrânia, cujo governo
teve origem num golpe de Estado, houve acordos, já no da Grécia, onde um
governo de esquerda foi eleito democraticamente..
Rodrigo Fernández - El País / www.cartamaior.com.br
Há meses lutando para melhorar
sua problemática situação financeira, a Ucrânia conseguiu, nesta quinta-feira
(27/8), uma vitória muito importante: nada mais nada menos que o perdão de
parte da dívida. Após cinco meses de negociações, um significativo grupo de
credores – entre os quais não se encontra a Rússia – chegaram a um acordo para
a reestruturação de 17 bilhões de euros dos passivos adquiridos no exterior,
aproximadamente 20% do total. O governo ucraniano celebrou a conquista, que
oxigenará bastante a economia do país, fortemente golpeada pelos enfrentamentos
que não cessam, contra os rebeldes pró-russos.
Com isso, a Ucrânia deu um passo
importante em seus esforços por estabilizar sua economia, com uma
reestruturação de 19,3 bilhões de dólares da sua dívida com alguns dos seus
credores mais importantes. Esse acordo, do qual a Rússia não participou, implica
numa redução de quase um quinto dos seus compromissos. O primeiro-ministro
ucraniano, Arseni Yatseniuk, assegurou que Moscou não poderá obter condições
melhores que a do resto dos credores.
O acordo acontece depois de mais
de cinco meses de difíceis negociações entre Kiev e os credores. Após a
conclusão dessas árduas conversações, a ministra da Fazenda da Ucrânia, Natalie
Yaresko, não escondeu sua satisfação com o perdão concedido. “Todos ganhamos
com esse acordo. Agora podemos avançar sem colocar em risco o valor dos
títulos”, declarou a responsável pela economia do país. As finanças ucranianas
atravessam uma profunda crise, agravada pela situação que se vive no leste do
país, onde as forças de Kiev se enfrentam há mais de um ano com os rebeldes
pró-russos.
A redução de quase 20% da sua
dívida se produz depois que o Comitê de Credores a reduziu em 3,8 bilhões de
dólares, com um período de quatro anos nos que deverá pagar somente os juros.
Em um princípio, Kiev havia pedido que lhe perdoassem 40% do valor total da
dívida, mas Yaresko reconheceu que seu objetivo não era chegar a essa cifra
particular, e sim cumprir com o objetivo que o Fundo Monetário Internacional
havia planteado.
Ficaram de fora do acordo os 3
bilhões de dólares que deve pagar à Rússia até o final de dezembro. A exceção
se deve, segundo Anton Siluánov, ministro de Desenvolvimento Econômico russo,
não só ao fato de Moscou decidir não participar das negociações, mas também
porque a Rússia não recebeu nenhuma proposta oficial por parte da Ucrânia. O
ministro russo afirmou também que o governo do seu país de viu obrigado a tomar
essa decisão devido às dificuldades que sua economia experimenta, por causa da
queda nos preços do petróleo – que caiu cerca de 50% em menos de um ano – e as
sanções ocidentais. “Limitaram os nossos créditos nos mercados financeiros, e
agora nós mesmos precisamos de divisas”, comentou Siluánov.
Pouco depois do perdão se tornar
público, Yatseniuk negou que a Rússia vá receber “melhores condições” que as
dos demais credores. “Sob nenhuma circunstância, a suspensão dos pagamentos que
os nossos inimigos esperam já não sucederá”, assegurou o chefe de governo
ucraniano, após reunião do conselho de ministros, na qual Yaresko deu a boa
notícia da desaparição de parte da dívida. Naturalmente, Yatseniuk se referia à
Rússia, país que classifica como agressor.
Por sua parte, a ministra da
Fazenda afirmou que é “altamente improvável” que outros credores rechaçassem o
acordo, e previu que o processo será encerrado por volta de outubro.
O pagamento do montante principal
da dívida deverá ser feito entre 2019 e 2027, e não nos prazos estabelecidos
inicialmente, entre 2015 e 2023. Yatseniuk detalhou que o adiamento de quatro
anos na devolução do crédito principal representa um grande triunfo, pois são
as melhores condições de refinanciamento outorgados a um país do FMI desde o
ano 2000, e permitiu à Ucrânia evitasse declarar a suspensão dos pagamentos.
Apesar do acordo, a situação
econômica da Ucrânia continua sendo bastante difícil. Além de uma inflação
galopante – de mais de 55% neste ano, e que se espera chegue a 40% em 2016 –, o
país enfrenta também o retrocesso do Produto Interior Bruto: o FMI prevê
retração de 9% para o ano em curso.
Comentário do Other News: É
curioso observar que, no caso da Grécia, desde que o governo de esquerda de
Alexis Tsipras assumiu, os credores insistiram numa postura extremamente dura,
enquanto, no caso da Ucrânia, cujo governo teve sua gênese num golpe de Estado
e o deficit é filho do roubo, os acordos são feitos com uma rapidez
surpreendente, e sem tantas exigências.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Sasha
Maksymenko / FLickr
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12