O que o financiamento empresarial
de campanha tem a ver com as infrações cometidas pelos planos de saúde? Tudo. É
só ver o quanto contribuíram nas eleições
Leandro Farias / www.cartamaior.com.br
No último dia 10 de setembro,
circulou pela grande mídia a notícia de que a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) condenou a empresa Unimed em primeira e segunda instância a
pagar uma multa na quantia de R$ 110.000,00 (cento e dez mil reais), por conta
do óbito da farmacêutica Ana Carolina Cassino, 23 anos, que esperou 28 horas
por uma cirurgia de apendicite dentro do Hospital da empresa localizado na
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Devido a espera adquiriu infecção generalizada
e morreu aos 23 anos.
De acordo com a ANS, a Unimed infringiu
os artigos 7º, 10 e 79 da Resolução Normativa (RN) Nº 124/2006, e 35-C da Lei
que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde (9656/98).
Os artigos tratam da obrigatoriedade da cobertura de atendimento em casos de
urgência e emergência e que implicam em risco imediato de vida. Apesar do valor
da multa ser um dos mais elevados de acordo com a legislação da agência, a
decisão foi criticada por boa parte da população, alegando que tal valor é
“vergonhoso” frente ao lucro da empresa somado ao fato de se tratar de uma vida
perdida.
O número de reclamações na ANS
contra os planos de saúde cresce de maneira exponencial, e segundo informações
da agência, entre março e junho deste ano foram notificadas mais de 21 mil
reclamações. Porém uma pequena parte dessas reclamações são de fato revertidas
em multas, e que não são pagas pelas empresas gerando um acúmulo no valor da
dívida ativa com a União. Somando as multas aplicadas e o ressarcimento ao
Sistema Único de Saúde (SUS), os planos devem mais de R$ 500 milhões aos cofres
públicos.
Infelizmente sabemos que o
financiamento empresarial de campanha é uma realidade, e que corre o sério
risco de ser regulamentado pelo Congresso Nacional, mesmo que tenha sido
surpreendentemente rejeitada pelo Senado, e o Supremo Tribunal Federal (STF)
ter julgado procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) Nº4.650,
movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), proibindo o financiamento
empresarial de campanha, no início desse mês, após o ministro Gilmar Mendes,
ter pedido vista, por mais de um ano, e ter impedido o julgamento desta ação de
2011. Tal regulamentação se deve ao fato de termos a Câmara dos Deputados
presidida por um parlamentar que recebeu milhões em sua campanha eleitoral,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que notoriamente defende os interesses dos
empresários que o financiaram. As propostas que tratam do financiamento
empresarial foram aprovadas na Câmara através de textos incluídos pelos
deputados Celso Russomano (PRB-SP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Mas afinal, o que o financiamento
empresarial de campanha tem a ver com as infrações cometidas pelos planos de
saúde e a ANS? Pois bem, na última eleição (2014) os planos de saúde doaram em
torno de R$ 52 milhões, contribuindo para a candidatura de 131 parlamentares,
um deles Eduardo Cunha, e que a agência que deveria regular e fiscalizar os
planos de saúde tem sua diretoria composta por representantes dos empresários
da saúde, uma vez que a nomeação ocorre por indicação política, e que rotineiramente
observamos parlamentares criando PECs, MPs e PLs que visam beneficiar o lucro e
o crescimento vertiginoso dessas empresas, tendo como contraponto um SUS
atrofiado e sucateado, além de pressionar a favor do perdão da dívida que estes
tem frente a União por conta de infrações cometidas, como a que culminou no
óbito da jovem Ana Carolina.
Então, para os críticos do valor
da multa aplicada pela ANS frente ao caso que envolveu a Unimed. Na atual
conjuntura de crise onde observamos um Executivo corrompido, um Legislativo
financiado e um Judiciário sem credibilidade, e partindo das informações
citadas acima e de uma história verídica, cabe a nós como sociedade tomarmos
“as rédeas da situação”, através de mobilizações em conjunto visando um novo
modelo de Estado, de maneira a beneficiar o coletivo e não apenas a classe
dominante. Talvez a solução esteja em uma maior participação social na tomada
de decisões, nas lutas contra o financiamento empresarial de campanha e em
defesa de uma saúde pública de qualidade e contra a visão mercantil desta.
Chega de descaso.
Créditos da foto: Fabio Rodrigues
Pozzebom / Agência Brasil
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