
(Carta Maior|) -Tendo aberto a
Caixa de Pandora na Síria, ao tentar retirar esse país da área de influência de
Moscou, armando terroristas islâmicos para derrubar o governo - aliado russo -
de Bashar Al Assad, e depois de destruir, nessa tentativa, a nação que tem mais
refugiados hoje espalhados pelo mundo, Washington reconhece agora que terá de
negociar com Moscou por meio de "discussões táticas práticas", para
evitar "erros de cálculo" que possam colocar os EUA e a Rússia em
conflito no teatro de operações sírio.
Incapaz de colocar tropas no
local - seu negócio é brincar com joysticks, bombardeando apenas algumas
posições do Estado Islâmico, um inimigo que eles próprios criaram, no Iraque e
na Síria, dois países que estavam estáveis e em paz antes das recentes, em
termos históricos, intervenções dos EUA e de seus aliados - Washington diz que
quer evitar que algum soldado russo - existem vários deles no país, sediados na
base naval russa de Tartus e na base aérea síria de Latakia - seja
inadvertidamente ferido por ações militares "ocidentais", dirigidas
contra os terroristas do EI.
Na verdade, por trás das
declarações norte-americanas - "queremos evitar problemas", afirmou o
porta-voz do Pentágono, Peter Cook - está o reconhecimento tardio dos EUA, de
três situações óbvias;
Primeiro, a da tremenda
imbecilidade estratégica que os Estados Unidos cometeram, ao incentivar e armar
terroristas "islâmicos" para derrubar um governo leigo e estável,
propiciando a destruição de todo um povo e o surgimento de um exército de psicopatas,
assassinos e estupradores, que dificilmente será controlado nos próximos anos.
Em segundo lugar, a de que, sem o
auxílio dos russos, combatendo ao lado de Bashar Al Assad, será impossível
tentar ao menos enfraquecer o ISIS, ou EI, na frente síria, ou manter ali,
ocupados, parte de seus combatentes, aliviando a pressão sobre outras frentes
nas quais os Estados Unidos e a OTAN estão mais diretamente envolvidos, como a
do Iraque.
E, em terceiro lugar, o
reconhecimento do poder russo na Síria, como país sob influência direta de
Moscou, que era justamente o que os EUA tentaram desafiar desde o início.
Não teria sido mais fácil ter
feito isso há três anos, antes de arrebentar com toda a região, e de provocar a morte de
centenas de milhares de homens, mulheres e crianças e o exílio forçado, na
maior parte para campos de refugiados no meio do deserto, de - até agora - um
terço da população síria?
Por outro lado, para não dar o
braço a torcer, os EUA e a União Europeia anunciaram também, nesta semana, que
estão pensando em "prorrogar" as sanções contra Moscou, para além de
2015.
Eles têm é que pesar as
consequências, para, também por ali, não continuar atirando contra si mesmos,
transformando o pé em uma peneira. O agravamento da situação na Rússia tem
direta influência sobre a economia e as condições de vida na Ucrânia, que
depende de Moscou, entre outras coisas, para não congelar no inverno como um
imenso picolé, até a medula.
Como já lembramos antes, se
houver um conflito de maior escala entre a Rússia e a Ucrânia, a União Europeia
será invadida por nova onda de refugiados, ao Leste, diante da qual as
"invasões bárbaras" de pobres emigrantes, vindos do Mediterrâneo, vão
parecer - com o perdão da palavra - uma brincadeira.
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