A Petrobrás e as reservas
descobertas pela empresa podem abrir muitas perspectivas para o Brasil, mas
também abrigam desafios para um projeto soberano.
Rogério Lessa | Via AEPET / www.cartamaior.com.br
O petróleo tem papel fundamental
na estratégia das superpotências interessadas em segurança energética e acesso
às reservas fora de seus territórios, bem como pode ser uma garantia para
projetos de desenvolvimento em países produtores e exportadores. Neste caso, a
Petrobrás e as reservas descobertas pela empresa podem abrir muitas
perspectivas para o Brasil, mas também abrigam desafios para um projeto
soberano de desenvolvimento.
Segundo o professor Maurício
Metri, economista da UFRJ, além da segurança energética há outras três razões
estratégicas pelas quais o uso deste recurso natural ainda permanecerá
importante por bastante tempo: influência decisiva na hierarquia monetária
internacional, alívio para o estrangulamento externo do balanço de pagamentos (no
caso dos exportadores) e instrumento de política externa.
“O petróleo tem papel central nas
estratégias das superpotências e o objetivo primordial é mitigar suas
vulnerabilidades de abastecimento, algo decisivo na Segunda Guerra. Tanto que
Hitler rompeu o tratado de não agressão que tinha assinado com Stalin e atacou
a União Soviética”, disse Metri em sua palestra no seminário “Uma estratégia
para o Brasil, um plano para a Petrobrás – Aspectos estratégicos e geopolíticos
que influenciam o planejamento estratégico e de negócios da Petrobrás”, em
andamento no Clube de Engenharia, no Rio.
O professor da UFRJ destacou o
papel decisivo do petróleo na manutenção do dólar como moeda de referência para
trocas internacionais, com óbvias consequências na política externa das
superpotências, que inclui a inserção de suas petroleiras neste cenário, tanto
pela via diplomática quanto pelo caminho da guerra. “Como estamos submetidos a
um sistema competitivo, a expansão de uns pode significar o estrangulamento de
outros. Precisando garantir abastecimento, muitos dos aliados dos EUA saíram da
Segunda Guerra endividados em dólar”, comentou.
Numa fase seguinte, aproveitando
as tensões entre China e União Soviética, os Estados Unidos abririam seu
mercado interno para os chineses e se aproximariam da Arábia Saudita. “A China
se tornou o novo grande parceiro estratégico nesta diplomacia triangular
desenvolvida pelos EUA. Em 1973, antes do choque do petróleo, Kinsinger (Henry
Kissinger, secretário de Estado de Richard Nixon) e bancos ingleses e
americanos se uniram para exigir que a Arábia Saudita permanecesse
comercializando seu petróleo em dólar. Assim, garantiram a cotação do petróleo
em dólar e os depósitos dos recursos financeiros continuassem sendo feitos em
sistemas que operassem em dólar”, lembrou.
Em seu processo de
industrialização, vivido entre os anos 1930 e 1980, o Brasil saiu-se bem,
segundo o palestrante, ao enfrentar o problema da dependência de dólares ao
usar as exportações de café como meio driblar o estrangulamento externo,
enquanto a União Soviética usou o petróleo para o mesmo fim. No entanto, “a
pressão competitiva, a elevação das taxas de juros e a derrubada dos preços do
petróleo deram à vitória aos EUA na Guerra Fria sem necessidade de confronto
armado com os russos, já que geraram incapacidade de importação na URSS”, disse
Metri.
O seminário “Uma estratégia para
o Brasil, um plano para a Petrobrás – Aspectos estratégicos e geopolíticos que
influenciam o planejamento estratégico e de negócios da Petrobrás”, é uma
realização da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET), em parceria com a
UFRJ e o Clube de Engenharia. O evento, que conta com o apoio da Carta Capital,
prossegue nesta quarta-feira (23), com palestra do economista e pesquisador da
UFRJ, Raphael Padula.
Créditos da foto: wikipedia
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