Rogério Dutra // http://democraciaeconjuntura.com/
Nada como um dia depois do outro. Vai réu, vem réu,
sai vazamento, chega notícia, a “Operação Lava-Jato” começa a ser tratada como
deve: como juízo de exceção. E por quem menos tem condição de assim o fazer,
pelo suposto “chefe” de quadrilha, o empresário, herdeiro da maior empresa de
engenharia do país, o réu Marcelo Odebrecht.
Mas porque tratar a Lava-Jato de juízo de exceção?
O ponto básico é que, se quisermos atacar a
corrupção de morte, não podemos fazê-lo através da supressão do devido
processo. O processo penal não atrapalha o juízo funcional e tecnicamente
competente. Pelo contrário, ele garante uma decisão juridicamente válida.
É simples: um processo não termina no juízo de
instrução, nem na sentença de primeiro grau. Geralmente há recurso – recurso
garantido a todos pela constituição – e o processo “sobe” para o Tribunal, para
as instâncias superiores, a fim de que se verifique a sua correção.
Assim, toda e qualquer irregularidade processual
deve e provavelmente será questionada num recurso e, certamente o será nesta
“força” “tarefa”.
O que é estranho.
Se o processo será reexaminado, como imaginar que
se deseje ser referendado depois de tantas falhas, vazamentos, excessos?
Este proceder “descuidado” com os procedimentos
legais da “força” “tarefa” gera a suspeita de que o seu objetivo profundo não é
condenar ninguém, mas provocar tsunamis midiáticas, abalos sísmicos na
imprensa, com objetivo outro, não explícito nas laudas do processo.
O juízo de exceção, dizem os entendidos, opera pela
vontade exclusiva de quem dirige o processo. Não se submete aos limites legais
e não avança os respeitando. O juízo de exceção tem, no seu fundamento, um
objetivo político: o de reafirmar um determinado poder.
O Odebrecht da vez sabe disto. Sabe que é um “scape
goat”, um bode expiatório numa luta que é muito mais mesquinha que o tal do
“combate” à corrupção, combate que deixa propositadamente um monte de gente graúda
do lado de fora.
Mas qual o poder que o juízo que quer “lavar à jato
a corrupção” quer combater? Quais as forças políticas que a “força” “tarefa”
enfrenta na verdade, mas sem ousar dizer o nome?
Isto não é mais segredo para ninguém.
O problema é que o caráter político do juízo de
exceção macula o seu pretexto de limpeza e correição. Neste tipo de processo,
quem corrompe o procedimento diz perseguir quem corrompe o país. É o sujo
correndo atrás do mal lavado.
O resultado é que podem falar qualquer coisa sobre
Marcelo Odebrecht. Mas o que fica do seu depoimento ao Juízo da 13ª Vara
Especializada da Justiça Federal do Paraná é que o sujeito foi impávido que nem
Mohamed Ali.
Depois de 133 dias preso, depois de vazadas
conversas de sua mulher com suas filhas para a imprensa, depois de que uma
prisão preventiva se sucedeu à outra sem maiores fundamentações, depois de
ouvir estoicamente a arguição perversa – perversa é a palavra –, do juiz
responsável, o cabra manteve-se hirto.
Ele, o Odebercht, sabe que será condenado pelo juiz
do primeiro grau.
A antecipação da pena – todo processualista penal
sabe – antecipa a sentença. Se não o fizesse, os vazamentos denunciados pelo Deputado Wadih Damous como possivelmente oriundos do juízo em questão o fariam.
A sentença, na verdade, está dada.
Por outro lado, a irritação profunda do juiz diante
da estratégia da defesa escancarou a fortaleza do réu. No interrogatório, a
extensa denúncia, produzida durante meses, está respondida detalhadamente por
escrito e o réu opta por falar apenas o que quer, e não o que querem que fale.
Ele nega estrategicamente a se submeter ao
interrogatório sibilino porque já o fez. Por escrito. E, assim fazendo,
sepultou a possibilidade de que a sua oitiva virasse notícia no Fantástico.
Pelo menos, notícia sem edição.
Odebrecht dá uma aula de processo. Ele, sabiamente,
esperará o momento em que o caso subirá ao segundo grau de jurisdição. Esperará
o STJ, o STF. E sabe que esperará preso enquanto estiver sob o jugo da Operação
lava-jato. Esperará preso, mas calado.
Odebercht, por óbvio, é Casa Grande. Mas a Casa
Grande não é Casa Grande à toa. A profilaxia social do nosso alienista do
momento terá que esperar por outra vítima. Esta sabe que é bode. E saberá
esperar pelos juízes que podem restar em Berlim. Um bode que não é dedo-duro.
Por esta, não esperavam.
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