É possível evitar uma catástrofe climática. Mas a
janela da oportunidade está se fechando. Será um momento decisivo dessa corrida
contra o relógio
Alejandro Nadal - La Jornada, México // www.cartamaior.com.br
Existe a possibilidade de evitar uma catástrofe
climática. Mas a janela da oportunidade está se fechando rapidamente. A
conferência sobre o clima, que acontecerá em Paris, dentro de seis semanas,
será um momento decisivo dessa corrida contra o relógio.
Há anos, o objetivo em termos de emissões de gases
do efeito estufa tem sido estabilizar a concentração na atmosfera num nível de
450 partes por milhão (ppm). Essa meta requer cortar 80% das emissões até o ano
de 2050, o que permitiria assegurar que a mudança na temperatura global não
supere os 2 graus centígrados.
Vendo o cenário atual, parece muito difícil
alcançar a meta das 450 ppm. Para isso, os países ricos já deveriam estar
reduzindo significativamente suas emissões, pensando no ano 2025, que já está
bem próximo, para que esses gases do efeito estufa, produzidos por países ricos
e pobres, possam ter seus índices em queda constante nos anos posteriores.
Existe a possibilidade de se chegar a essa meta, mas bem pequena, e cada vez
menor.
A 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas
(UNFCCC) se realizará em Paris, entre o final de novembro e o começo de
dezembro. O instrumento de base para as negociações da COP21 foi divulgado no
dia 5 de outubro, e está marcado por sérios problemas. Se trata de um documento
de vinte páginas, do qual depende o destino da humanidade, literalmente.
Como se sabe, as negociações da COP21 se realizarão
com cada país sendo chamado a apresentar seus compromissos nacionais
independentemente determinados – os agora conhecidos como INDC, por sua sigla
em inglês. Esses compromissos são a resposta à seguinte pergunta: quem
determina as reduções de emissões que cada país deve aplicar? Tendo em vista
que as negociações sobre reduções das emissões estão travadas há anos (seis
anos, para ser mais exato, desde a conferência de Copenhague), se pensou que
seria melhor cada país em liberdade absoluta para estabelecer suas metas
nacionais.
Hoje, já temos diante de nós os compromissos
nacionais que foram entregues de forma voluntária ao secretariado da UNFCCC. O
resultado é realmente decepcionante. Vários destacados economistas realizaram
cálculos: a soma de todas as metas nacionais corresponde a apenas 44
gigatoneladas de CO2 equivalente, quando o que se necessita é um corte de 55
gigatoneladas para o ano de 2050 para que nos manter a temperatura do planeta
abaixo dos 2 graus centígrados.
É de se esperar que daqui até a inauguração da
COP21 na capital francesa, vários países modifiquem seus compromissos
nacionais, para poder chegar a esse objetivo. Mas o documento de negociação tem
um defeito: não contém um mecanismo que garanta o cumprimento por parte de cada
país de suas metas individuais independentemente determinadas.
Na verdade, existem poucas esperanças de
estabilizar a concentração de gases do efeito estufa em 450 ppm. Para chegar a
este objetivo, as emissões não podem superar um nível absoluto entre 800 e mil
gigatoneladas de CO2: desde 1880, já emitiram 535 gigatoneladas. E do restante
já se encontram comprometidas umas 250 gigatoneladas, devido aos investimentos
já realizados na infraestrutura ligada à indústria de combustíveis fósseis em
todas as suas formas. As companhias que realizaram esses investimentos querem
evadir as metas, e para isso vão fazer tudo o que for possível para que suas
instalações continuem funcionando e emitindo gigatoneladas de CO2. Enfim,
estamos amarrados a uma trajetória que leva a um cenário de surpresas realmente
desagradáveis a respeito do clima.
No mundo financeiro também existem forças que
pretendem nos manter amarrados a essa trajetória. Hoje, as 200 principais
empresas ligadas à indústria de combustíveis fósseis têm um valor de mercado
próximo aos 4 trilhões de dólares e uma boa parte disso corresponde ao valor de
suas reservas. No caso de se conseguir um acordo significativo na COP21, com um
compromisso claro para reduzir as emissões, o valor dessas reservas deverá
sofrer um forte ajuste para baixo, talvez até um 60%. As conexões entre a
indústria de combustíveis fósseis e o mundo financeiro são muito fortes e isso
traria sérias consequências. Por exemplo, se estima que os fundos de pensão e
as contas individuais de aposentadoria nos Estados Unidos possuem 47% das ações
das companhias de petróleo e gás natural desse país. É evidente que também existe,
por parte do setor financeiro, uma resistência a mudar o perfil energético da
economia mundial.
Só a pressão dos povos de todos os países pode
reverter essas forças. Quem sabe ainda há tempo, independente do que aconteça
na COP21.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: jaymantri.com
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