A Operação Zelotes apura o envolvimento de
funcionários públicos e empresas no esquema de fraude fiscal que pode ter
causado um prejuízo de R$ 19,6 bilhões
Najla Passos // www.cartamaior.com.br
Documentos sigilosos vazados nesta quinta (22)
comprovam que o Grupo RBS, o conglomerado de mídia líder no Rio Grande do Sul e
Santa Catarina, pagou R$ 11,7 milhões à SGR Consultoria Empresarial, uma das
empresas de fachada apontadas pela Operação Zelotes como responsáveis por
operar o esquema de tráfico de influência, manipulação de sentenças e corrupção
no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), o órgão vinculado ao
Ministério da Fazenda que julga administrativamente os recursos das empresas
multadas pela Receita Federal.
A SCR Consultoria Empresarial é umas das empresas
do advogado e ex-conselheiro do CARF, José Ricardo da Silva, indicado para
compor o órgão pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) e apontado pela
Polícia Federal (PF) como o principal mentor do esquema. Os documentos integram
o Inquérito 4150, admitido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na última segunda (19), que corre em segredo de
justiça, sob a relatoria da ministra Carmem Silva, vice-presidente da corte.
Conduzida em parceria pela PF, Ministério Público
Federal (MPF), Corregedoria Geral do Ministério da Fazenda e Receita Federal, a
Operação Zelotes, deflagrada em março, apurou o envolvimento de funcionários
públicos e empresas no esquema de fraude fiscal e venda de decisões do CARF que
pode ter causado um prejuízo de R$ 19,6 bilhões aos cofres públicos. Segundo o
MPF, 74 julgamentos realizados entre 2005 e 2013 estão sob suspeição.
As investigações apontam pelo menos doze empresas
beneficiadas pelo esquema. Entre elas a RBS, que era devedora em processo que
tramitava no CARF em 2009. O então conselheiro José Ricardo da Silva se
declarou impedido de participar do julgamento e, em junho de 2013, o
conglomerado de mídia saiu vitorioso. Antes disso, porém, a RBS transferiu de
sua conta no Banco do Rio Grande do Sul, entre setembro de 2011 e janeiro de
2012, quatro parcelas de R$ 2.992.641,87 para a conta da SGR Consultoria
Empresarial no Bradesco.
Dentre os documentos que integram o Inquérito 4150
conta também a transcrição de uma conversa telefônica entre outro
ex-conselheiro do Carf, Paulo Roberto Cortez, e o presidente do órgão entre
1999 e 2005, Edison Pereira Rodrigues, na qual o primeiro afirmava que José
Ricardo da Silva recebeu R$ 13 milhões da RBS. “Ele me prometeu uma migalha no
êxito. Só da RBS ele recebeu R$ 13 milhões. Me prometeu R$ 150 mil”, reclamou
Cortez com o então presidente do Carf.
Suspeitos ilustres
Os resultados das investigações feitas no âmbito da
Operação Zelotes foram remetidos ao STF devido às suspeitas de participação de
duas autoridades públicas com direito a foro privilegiado: o deputado federal
Afonso Motta (PDT-RS) e o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU),
Augusto Nardes. O deputado foi vice-presidente jurídico e institucional da RBS,
afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul. Os termos de sua participação no
esquema ainda são desconhecidos.
Nardes, mais conhecido por ter sido o relator do
parecer que rejeitou a prestação de contas da presidenta Dilma Rousseff
relativa ao ano de 2014, por conta das polêmicas “pedaladas fiscais”, é
suspeito de receber R$ 2,6 milhões da mesma SGR Consultoria, por meio da
empresa Planalto Soluções e Negócios, da qual foi sócio até 2005 e que ainda
hoje permanece registrada em nome de um sobrinho dele.
Processo disciplinar
Nesta quinta (22), a Corregedoria Geral do
Ministério da Fazenda anunciou a instalação do primeiro processo disciplinar
suscitado pelas investigações da Operação Zelotes. Em nota, o órgão informou
que o caso se refere a uma negociações para que um conselheiro do CARF pedisse
vistas de um processo, sob promessa de vantagem econômica indevida, em processo
cujo crédito tributário soma cerca de R$ 113 milhões em valores atualizados até
setembro.
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