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// Wanderley Guilherme dos Santos
Bem, não sei interpretar o momento nacional.
Somando a reduzida previsibilidade e credibilidade de instituições centrais da
democracia: partidos políticos, imprensa e decisões de governo – sobra pouco
para garantir racionalidade ao quebra-cabeça resultante.
Pior, parece-me que nem governo nem Legislativo se
encontram em situação muito mais sólida. Mesmo a imprensa, sempre coerente em
seu estranho afazer, ora incensa ora amaldiçoa suas fontes anônimas e seus
ídolos arroz de festa de inúteis reportagens. A economia é uma, nas declarações
ministeriais, e outra nos indicadores e pesquisas de institutos acadêmicos. A
crer no currículo de fracasso de ambos, ambos devem estar errados. Exceto se
peco por implicância, as personagens políticas, desgastadas em entrevistas
diárias, são já insuportáveis, tanto quanto a xaropada de colunistas sobre
corrupção alheia e as previsões despudoradas das autoridades, qualquer
autoridade, sobre este, aquele, ou qualquer assunto.
O Judiciário entrou na roda. Não só pelos indícios
de arbitrariedades em algumas investigações, mas por surpreendentes novidades
interpretativas. A mais recente convoca a figura criminal de alguém ser
“suspeito de ser suspeito”, que não é assim nomeada, mas único entendimento
possível para justificar prisões controversas. Por pouco não se obriga a
população à cruel escolha da narrativa bíblica entre o bom ladrão e o mau
centurião. Em cinemas de bairro o bom ladrão acaba aplaudido. Aliás, o que deve
fazer um ladrão para ser bom? Talvez o que tem feito o reincidente criminoso e
delator Alberto Youssef. Transcrevo O Globo, 29/11/2015, página 5. Incapaz de
explicar como passava somas clandestinas a enorme lista de políticos, o doleiro
foi ajudado pelo inquisidor da seguinte maneira: “Questionado no depoimento se
os nomes de outros deputados poderiam ter sido incluídos só para que a cúpula
recebesse mais repasses (bola levantada pelo agente público – WGS), o doleiro
disse que não se pode duvidar disso”. Não se pode duvidar? Quer dizer, a
suspeita do agente ganhou comprovação pelo juízo abalizado do doleiro? E aí o
doleiro fez o gol de placa da moral da Lava Jato:
“‘Dessa gente pode se esperar tudo’, registra o
termo do depoimento do doleiro”.
Alberto Youssef passou a ser, oficialmente, o
inspetor dos costumes políticos brasileiros.

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