por Marcio Pochmann, para a RBA // http://www.redebrasilatual.com.br/
O discurso neoliberal segue em alta. Proliferam as
vozes a defender equivocadamente que o problema brasileiro é fiscal, quando em
2015 somente os rentistas - que representam menos de 1% da população – deverão
apropriar-se de quase a metade de todo o orçamento do governo federal. Enquanto
99% da população tenderão a conviver com a redução nominal do PIB estimada em
745,3 bilhões de reais em 2015, por conta da recessão econômica, o 1% mais
ricos receberá como ganho financeiro 548 bilhões de reais adicionais devido à
alta dos juros.
Após 30 meses de elevação contínua na taxa básica
de juros (Selic, o País comprometerá quantia equivalente a quase 9% do Produto
Interno Bruto com o pagamento dos serviços do endividamento público. Somente no
ano de 2015, a dominância dos gastos financeiros responde por 94% de todo o
déficit público nominal.
Ademais de comprometer o funcionamento do Estado,
uma vez que representa o desvio crescente dos recursos que deveriam ser
aplicados nas despesas públicas como nas áreas sociais e investimento, a
altíssima taxa de juros inviabiliza o crescimento econômico e eleva o custo do
setor produtivo. Dessa forma, a dominância financeira gera recessão econômica e
mais inflação.
No ano de 2015, a economia brasileira deverá recuar
entre 3 a 4% em relação ao ano passado, assim como a inflação poderá ser 56%
maior que a de 2014. A oposição nas eleições passadas defendia que o País vivia
uma crise brava e uma profunda desorganização nas finanças públicas.
Ao abandonar a trajetória da política econômica
anterior, aceitando o diagnóstico da oposição e passando a governar com o
programa dos perdedores, o Brasil terminou por confirmar posteriormente o
vaticínio neoliberal. Não há saídas positivas sem a retomada do crescimento
econômico, desprendendo-se radicalmente da dominância financeira.
Com a atual taxa básica de juros praticada
insistentemente pelo Banco Central, dificilmente a atividade produtiva obterá
retorno positivo, capaz de competir com a dominância financeira. Salvo as
atividades ilegais.
Desde 2011 que os ganhos financeiros vêm
proporcionando retornos positivos e maiores do que aqueles provenientes das
atividades produtivas, pelo menos de uma amostra de empresas que considera as
maiores companhias de capital aberto e fechado que operam no Brasil. Enquanto
entre 2011 e 2015, a taxa de retorno das atividades produtivas decresceu 89,7%,
em média, o ganho financeiro subiu 39,8% no mesmo período.
O movimento contrário ocorreu justamente na segunda
metade dos anos 2000. Enquanto a taxa de retorno nas atividades produtivas caiu
4,1%, em média entre os anos de 2006 e 2010, os ganhos financeiros foram
reduzidos em 35,9%.
Nesse sentido, não pode haver dúvidas de que se
houve algum tipo de ensaio desenvolvimentista, ele pode ter ocorrido no segundo
mandato do presidente Lula (2006-10). Mesmo assim, com taxas de retorno
levemente decrescentes nas atividades produtivas ante a queda brusca nos ganhos
financeiros.
Apesar dos esforços da presidente Dilma em seu
primeiro mandato na defesa do crescimento econômico, a taxa de retorno das
atividades produtivas caiu aceleradamente, sendo de 73,9% entre 2001 e 2014.
Com a recessão em 2015, a queda na taxa de retorno das atividades produtivas
desabou (33,1%).
Paralelamente, aumentaram os ganhos financeiros,
sendo de 11, 2% entre 2011 e 2014. No ano de 2015, a dominância financeira
tornou-se imbatível.
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