EMIR SADER // https://www.brasil247.com/
A capacidade de iniciativa é
fundamental na luta política. Quem a detém define a agenda política, coloca os
temas que lhe interessam, nos termos que lhe interessa.
A oposição detém completamente a
iniciativa política no Brasil, desde o fim das eleições presidenciais. E
concentra sua ação no pessimismo econômico e no denuncismo político, ocupando
com isso praticamente toda a agenda nacional, valendo-se do monopólio privado
dos meios de comunicação e da falta de discurso alternativo.
As denúncias obrigam ao governo,
ao PT e ao ex-presidente Lula a tomar um tempo enorme respondendo sua falta de
fundamento, mas com isso reiteram a centralidade dos temas. Do que se trata,
para a oposição, é de manter a centralidade do tema, aprofundando na opinião
pública os vínculos do governo e do PT com a corrupção e levantando tal
quantidade de suspeitas – mesmo se nenhuma comprovada – contra o ex-presidente
Lula, que gerem rejeição em torno do nome dele.
Não há discurso alternativo, que
não seja o de divulgar os casos de corrução que envolvem a oposição e, com
razão, embora sem efetividade, reclamar da falta de apuração desses casos.
Ressaltar os casos que vinculam a oposição é como que aceitar os casos de
corrupção denunciados sobre o PT, mas consolar-se em denunciar que casos
semelhantes ocorrem com a oposição e têm tratamento diferente.
No caso do denuncismo econômico
acontece algo similar. A partir do momento em que o governo aceitou que a via
para sair da crise seria cortar os gastos do Estado, aceitou o discurso
opositor e fortaleceu ainda mais essa visão da oposição. Como o ajuste não leva
à recuperação econômica, mas a mais recessão, tampouco neste campo o governo
tem como disputar a agenda com a oposição.
E como não há propostas próprias
de saída da crise politica e econômica, que não sejam a defensiva de
preservação da legalidade democrática e medi, mas as econômicas de mais cortes
ainda, a iniciativa permanece plenamente nas mãos da oposição, que orienta o
debate politico nacional. Não surpreende assim que, com esse quadro e o
monopólio privado dos meios de comunicação – e de pesquisas da opinião publica
também – se considere que a corrupção é o problema mais importante do Brasil e
que o pais está sendo conduzido numa direção equivocada.
Esses resultados são consequência
da situação de isolamento do governo e o reiteram, como bumerangue, diante da
falta de capacidade de iniciativa do governo. Mesmo ao Conselho Econômico e Social,
que precisa ainda ganhar legitimidade, o governo não vai com propostas claras
de reviravolta na situação politica e econômica. Pode perder essa oportunidade
também.
Enquanto isso, embora
enfraquecido o impeachment, temos uma presidenta que está sob essa acusação,
não se sabe até quando. E as previsões econômicas ja projetam consensualmente
um segundo ano seguido de recessão, ja com projeções negativas também para
2017, o penúltimo ano deste mandato.
Sem capacidade de iniciativa, não
se faz política, não se sai da crise, não se disputa influência com a oposição,
não se governa, na realidade, senão como reações a iniciativas da oposição.
Retomar iniciativa é apresentar uma proposta politica e econômica de superação
da crise pela retomada do desenvolvimento com distribuição de renda, recolocar
o debate nos verdadeiros termos com que se enfrenta o pais. Anuncia-se que o
governo apresentaria ao Congresso uma proposta de um pacto pelo
desenvolvimento. Seria um caminho para a retomada da iniciativa e a disputa da
agenda política nacional, mas que supõe que o governo fale muito, argumente,
mobilize a opinião publica, se sintonize com os movimentos que o defendem
contra o golpismo, gerando uma modificação radical na opinião publica, hoje
adversa ao governo.
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