segunda-feira, 2 de maio de 2016

Boulos: sobre o Plano Temer e convulsão social

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“O povo vai sangrar”, dizem apoiadores do vice. Com sólido apoio entre parlamentares e blindagem da mídia, ele  já faz cálculos para além do golpe. Talvez se esqueça do fator asfalto
Por Guilherme Boulos // http://outraspalavras.net/
O Brasil amanheceu nesta quinta-feira (28) com mobilizações em avenidas e rodovias de nove Estados. A jornada foi organizada pela Frente Povo Sem Medo e levou às ruas milhares de pessoas. Foi uma demonstração da resistência organizada ao descaminho que o Parlamento parece querer impor ao país.

Se de fato concretizar-se o golpe político em curso e a tentativa de aplicação do “Plano Temer”, o que ocorreu na manhã de hoje poderá se tornar rotina.
O caráter espúrio do processo de impeachment de Dilma evidenciou-se mais uma vez com a escolha da comissão do Senado na última terça.
Não bastava o processo ter sido iniciado e conduzido por alguém da estirpe de Eduardo Cunha. Não bastava o espetáculo lamentável daquela tarde de domingo, onde os deputados falaram de tudo, menos de crime de responsabilidade. Não bastava. Para completar o escárnio, precisavam também colocar Antonio Anastasia na relatoria do processo no Senado.
Anastasia é o fiel escudeiro de Aécio, candidato derrotado em 2014 por Dilma. Anastasia foi governador de Minas Gerais e ficou conhecido por usar e abusar das ditas pedaladas fiscais, que em seu relatório ele colocará como razão suficiente para a destituição da presidente. Aliás, foi ainda mais criativo ao contabilizar vacina de cavalo nas despesas com saúde pública. Uma verdadeira cavalgada fiscal.
Capa-Oficial
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Com essa sucessão de hipocrisias, que desmoralizam por completo o Parlamento – aqui e lá fora –, fortalece-se a descrença popular em qualquer saída institucional para a crise. Restam apenas as ruas.
Mas a mobilização popular, evidentemente, não se pauta apenas pela política: “É a economia, estúpido!”. Como disse num descuido o senador Hélio José (do próprio PMDB), “o povo vai sangrar” com o plano arquitetado por Michel Temer, os “Chicago boys” e a Fiesp.
Nos últimos dias, Temer falou na necessidade de “cortes radicais”, mantendo apenas os investimentos públicos em andamento e não realizando nenhum novo empenho. Ou seja, deixar de construir casas, obras de saneamento e infraestrutura etc. Traduzindo: aumento do desemprego e desestruturação das políticas sociais.
Falou também que um de seus primeiros projetos para o Congresso Nacional seria a desvinculação das receitas obrigatórias do Orçamento da União, o prolongamento e ampliação da DRU. Traduzindo: redução dos já raquíticos investimentos em saúde e educação, que tem vinculação mínima legalmente prevista.
E, como cereja do bolo, falou nas reformas trabalhista e previdenciária, iniciando pela desindexação do salário mínimo para as aposentadorias.
Ora, alguém duvida de que uma agenda econômica como essa, de regressão social sem precedentes, irá convulsionar a sociedade brasileira?
Ainda mais sendo aplicada por um eventual presidente sem a legitimidade do voto, um presidente biônico.
Se de fato vier a assumir, Temer terá uma maioria parlamentar robusta, um apoio consistente do mercado e uma blindagem da maior parte da mídia. Isso talvez lhe permita aprovar medidas hoje heréticas, como a CPMF, diante do sorriso envergonhado de Paulo Skaf e dos patos que o seguem.
Mas essa trégua dos de cima poderá não vir acompanhada de uma trégua dos de baixo. Se consolidada a aprovação do impeachment no Senado no próximo dia 11, deverá abrir-se um período longo de instabilidade.
A descrença popular nas instituições, um governo sem legitimidade e a aplicação de um programa de profunda regressão social formam a combinação explosiva capaz de convulsionar o Brasil.

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