domingo, 31 de julho de 2016

A sensação dos 7×1 continua forte

      ALMEIDA // http://jornalggn.com.br/
                          Como no território Brasileiro cabem 23 Alemanhas, o nosso potencial solar dá de 46 x 1 na Alemanha.
O Brasil tem o maior território continental dos Trópicos. Usar energia solar pareceria uma obviedade ululante, mas os decisores do nosso sistema energético querem nos convencer, de que enxergar o Sol da nossa realidade tropical é uma 'unanimidade burra'. Nesse artigo publicado pelo Instituto Ilumina, são analisadas algumas causas para a cegueira solar da eletrocracia ─ é bom lembrar que para certos inter$$e$, ela tem os olho$ muito aberto$ ─ e realçada a imensa versatilidade do sistema brasileiro de reservatórios eletricamente interligados, para absorver a energia das fontes renováveis intermitentes, como energia armazenada em forma de potencial gravitacional de massas hídricas, dispensando o uso de caríssimas baterias.

Sobre os motivos para a cegueira, eu acrescentaria mais alguns. Enfatizo dois: o modelo mercantilista neoliberal em vigor no Setor Elétrico, que privilegia cartórios de garantia "física" de energia, e a incapacidade historicamente revelada do capitalismo cartorial oligopolizado, vigente em terras tupiniquins, para financiar pequenos produtores, como os donos das pequenas cargas elétricas, em baixa tensão, onde a geração descentralizada por painéis solares é de fato competitiva, principalmente com as tarifas escorchantes praticadas pelo modelo mercantilista neoliberal. A eletrocracia e seus "padrinhos" na fisiologia política querem as grandes obras, com recursos centralizados. Numa grande obra, sai eleição de governador, senador, etc; numa obra de telhado residencial, sai no máximo umas cervas, pro bico dos instaladores que trabalharam, e olhe lá!
Segue o artigo:
por Roberto Pereira D’Araujo
O título desse artigo também poderia ser “O Sol que ninguém enxerga”.
Acima, uma comparação aproximada do nível de insolação da Alemanha e Brasil.
Mas, será que nos vingamos dos 7 x 1 ou aqui também nós perdemos?
Nada como uma experiência pessoal para perceber o grande atraso no qual o Brasil está mergulhado.
Fiz um orçamento para a instalação de placas fotovoltaicas na minha residência através de três empresas. Com pequenas diferenças, a estimativa é que com a cobertura de 27 m2, o meu telhado seria capaz de gerar 4.700 kWh/ano, uma média de 390 kWh/mês.
Depois de todas as trapalhadas feitas pelos sucessivos governos, atualmente, sem as bandeiras tarifárias, o MWh da Light-Rio está custando R$ 836 (US$ 245, “apenas US$ 100 mais caro do que a média do continente norte americano e o triplo da tarifa da Hydro Quebec!!!).
Portanto, sob tarifas absurdamente altas, com as placas solares, eu poderia economizar quase R$ 4.000/ano.
Esse potencial exige que eu invista R$ 40.000, o que significaria um rendimento de 10% ao ano. Com uma inflação que beira os 10%, é como a poupança, mas, esse quadro é piorado quando se percebe os “atrasos” desanimadores:
  • Todo o processo está nas mãos das distribuidoras, que, certamente, não têm interesse que sua conta se reduza.
  • Todo tipo de dificuldade pode surgir como exigência da distribuidora. Uma das empresas chegou a informar que a Light iria exigir um cabo terra independente, não sendo suficiente ter um cabo neutro aterrado! Isso inviabilizaria a instalação, pois não haveria como instalar um novo cabo nos dutos existentes. (Forçoso lembrar que o aterramento do neutro, antes uma obrigação da distribuidora, foi relaxada após a privatização. Que tal a tomada de 3 pinos quando quase nenhum domicílio tem o cabo terra?)
  • Em alguns casos, o processo de aprovação pode levar 4 meses para uma instalação que dura 2 dias.
  • Há um consumo mínimo que 100 kWh que o cliente tem que pagar à distribuidora, mesmo que não consuma! Os R$ 4.000 de economia já se reduzem a R$ 3.000.
  • Até bem pouco tempo, se a instalação gerasse acima do seu consumo, claro, essa energia seria reservada nos reservatórios brasileiros. Mas, se o consumidor usasse esse saldo de volta, teria que pagar ICM-S por uma energia produzida na sua propriedade!
  • Aos trancos e barrancos, agora temos a Política Estadual de Incentivo ao Uso da Energia Solar. A Lei 7.122/2016 isenta o pagamento do imposto relativo a esses saldos. Dada a situação fiscal do Rio, é preciso desconfiar que esse benefício resulte em alguma outra taxa.
  • Se a sua área tem constantes “apaguinhos” ou picos de luz, como é comum no Brasil, não imagine que sua fotovoltaica irá salvá-lo. Como a energia gerada no seu telhado tem que ser sincronizada com a da distribuidora, caso o fornecimento da empresa se interrompa, você também fica sem energia. Só no caso da instalação de um sistema muito mais caro com baterias você deixa de ser vítima.
Esses são os desincentivos na “microeconomia” do consumidor. Mas, quando se analisa a questão nacional, é que se percebe o imenso atraso das políticas energéticas brasileiras.
  • Todos os equipamentos são importados. Em um dos casos consultados, até a estrutura de alumínio era alemã. Impossível não lembrar dos 7×1.
  • Se as autoridades brasileiras acordarem e resolverem ao menos reduzir os impostos de importação sobre esses equipamentos, o custo se reduziria. Até agora, com toda essa crise fiscal, todas essas incertezas só causam o adiamento do investimento. Mais atraso.
  • O governo ainda insiste em leilões de usinas solares, cujo custo tem que ser acrescido de transmissão e distribuição, ao contrário da fotovoltaica distribuida.
  • Uma simples regra de 3, mostra que, se 27 m2 produzem 4,7 MWh/ano, toda a energia consumida pelo Brasil em um ano pode ser gerada por 3.000 km2 de placas fotovoltaicas! Claro que ninguém está propondo essa política, mas serve para deixar cada vez mais evidente o nosso atraso, pois essa área é 15% da área do estado de Sergipe!
  • O nosso nível de insolação é mais do dobro da Alemanha, justamente o país que nos vende os equipamentos e onde a energia solar já responde por quase 10% da energia produzida? Outro 7 x 1?
Mas esse avanço do solar no mundo desenvolvido também traz problemas. A curva que mostra a evolução média da carga num dia típico parece uma silhueta de um camelo com duas corcovas (no gráfico abaixo a curva marcada 2012).
Uma dessas preocupações é essa mudança para a Duck Curve, ilustrada na figura abaixo. A tradicional curva do Camelo está lentamente sendo transformada na curva do Pato, quando a demanda se reduz bastante durante o dia. O maior problema surge no ocaso do sol, quando a carga sobe numa rampa íngreme. Para sistemas de base térmica, essas variações súbitas de carga são um problema, pois usinas a gás não “gostam” muito de alterar sua geração em curto espaço de tempo.
No futuro, esses países estão angustiados até com geração em excesso, pois não dá para ficar desligando e ligando térmicas. Já se chega a pensar numa limitação da energia solar de tal modo a evitar o vale profundo na carga nas costas do pato.
Mas essa energia extra seria jogada fora? Claro que já se está pensando em baterias. Vejam quantos problemas!
Mas, e o nosso caso? Que consequências surgiriam para o nosso sistema interligado com reservatórios capazes de guardar um volume de água suficiente para 5 meses de consumo?
Vamos supor que, em algum momento do futuro, a nossa curva de carga passe a ser a curva azul, ao invés da vermelha no gráfico abaixo. No futuro, caso nossa autoridades adotem uma política efetiva para aproveitar o sol, ela pode mudar de tal forma que a área amarela seja a energia “economizada” pelo sistema pois será gerada junto à carga.
  • O primeiro ponto a observar é que a nossa ponta (máxima do dia) está ocorrendo no entorno das 15hs. Justamente no momento onde o sol está fornecendo alta energia!
  • Portanto, o sistema interligado irá sentir uma redução da carga no período da insolação.
  • Se o sistema é hidrotérmico com reservatórios, essa energia pode resultar em:
  1. Menor geração térmica.
  2. Maior armazenamento, pois seria guardada nos reservatórios
  3. Uma combinação dos dois anteriores.
Por isso, a maioria dos problemas dos países que estão investindo em solar não existem no Brasil.
Desde que:
  • Como o sistema brasileiro é operado e expandido sob um modelo que determina a gestão dos reservatórios que propicie o menor custo de operação atualizado, é urgente começarmos a pensar nesse efeito. Será que precisaremos de tantas térmicas? Que tipo de térmicas seriam úteis?
  • A ocorrência de rampas de consumo, em princípio, não é um problema para sistemas de base hidráulica, pois usinas hidroelétricas podem aumentar sua geração em curto espaço de tempo. Essa capacidade de resposta rápida pode ficar comprometida por falhas na transmissão. Nesse sentido preocupa bastante os últimos leilões vazios dessa área.
  • A redução da carga num horário específico não chega a ser um problema para quem tem reservatórios, pois a água economizada na hora X pode ser usada para gerar na hora Y.
  • Alguém comece a considerar essa realidade de outros países no nosso sistema, coisa que não vem ocorrendo.
Analisando todas essas questões, com todas essas vantagens o Brasil continua deitado em berço esplêndido sendo derrotado sucessivamente por diversos 7 x 1.

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