MAURO SANTAYANNA // http://www.brasil247.com/
Não consta que entre os santos do panteão brasileiro no Vaticano esteja o meu nome, nem o de São Palocci, uma figura controversa e polêmica não apenas em algumas regiões de São Paulo, o seu estado, mas também em outros pontos do país.
Tais circunstâncias não negam, no entanto, o caráter arbitrário, injusto, desnecessário, injustificável, da prisão do ex-ministro da Fazenda do governo Lula pela Polícia Federal esta semana.
A maior prova contra Palocci, no caso, é a existência de um tal "italiano" em uma planilha da Odebrecht.
Palocci é sobrenome italiano.
Logo seria ele, com certa aura de moldura mafiosa, coroada pelo nome da nova fase da operação Lava-Jato, Omertá, o "italiano" que presumidamente teria recebido - não se indica quanto, em que conta, de que forma - dezenas de milhões de reais da Odebrecht.
Ora, e por que esse "italiano" não seria, seguindo a curiosa linha de raciocínio adotada pelos "investigadores", o ex-ministro Guido Mantega, por exemplo?
Afinal, a família Mantega é também oriunda da Velha Bota do Mediterrâneo.
Assim como os sobrenomes Cameli, Sperafico, Pizzolato, Vaccareza, Covatti, Vaccari, Negromonte, que também se encontram, ou já estiveram relacionados à Operação Lava-Jato pela "santa" inquisição curitibana.
Como distinguir um "italiano" do outro?
Seria o ex-ministro da Fazenda mais "italiano" que os demais?
Ora, a prisão do ex-ministro Antônio Pallocci, principalmente se prorrogada, irá confirmar o que já se sabe, e se tem cada vez mais certeza, aqui e no exterior.
O Brasil está se transformando em um país no qual aprisiona-se com base em presunção, ou melhor, da fabricação de ilações entre indícios frágeis e o "suspeito" da vez; decreta-se o bloqueio de seus bens, ou de um grupo, em proporções milionárias, para dar a impressão à opinião pública de que o detido possui realmente essa avultada fortuna e a "roubou"; prorroga-se a prisão para exercer pressão sobre o prisioneiro e cria-se uma situação que o obriga a delatar alguém mesmo sem provas, sob pena de permanecer encarcerado indefinidamente; com o intuito de produzir nova prisão e manter em evidência e movimento uma operação jurídico-policial-midiática, que tem extrema influencia, senão propósitos específicos, no contexto do processo político nacional.
Em qualquer lugar do mundo, é normal que um Ministro de Estado, um Senador, um deputado, um Presidente da República, apoie empresas nacionais.
Como fez Barrack Obama, por exemplo, quando mandou o tesouro norte-americano comprar ações de empresas que praticamente quebraram na crise de 2008 - ah, o que não aconteceria, ou ocorreria, com ele, se estivesse no Brasil e fosse do PT!
Ou Nicolas Sarkozy quando veio ao Brasil, tentar vender caças Raffale e parceria no desenvolvimento do submarino atômico citado agora pela Polícia Federal no caso Palocci, que também está sendo acusado de ter obtido financiamento do BNDES para exportação de bens e serviços brasileiros para Angola, por meio da Odebrecht.
Um projeto que possibilitou, assim como o do porto cubano de Mariel, centenas, senão milhares de empregos e centenas de milhões de reais em negócios para nosso país.
Só no Brasil esse tipo de apoio é crime, passível de se tranformar, daqui a pouco, em hediondo, no contexto geral da estúpida criminalização da atividade política e administrativa, inaugurada, institucionalmente, por setores que pretendiam, no início, derrubar o PT do poder e que não tiveram a paciência de esperar que se escoasse normalmente o tempo que nos separava dos próximos pleitos do calendário eleitoral.
Se o sujeito estiver no governo, é crime cumprir sua função, porque ele não pode receber ou ouvir empresários, ou "beneficiar", direta ou indiretamente, nenhuma empresa, mesmo que seja a maior empregadora do país.
Se estiver fora do governo, também é crime - como se denota de declarações da "coletiva" sobre a prisão - porque não pode prestar nenhum tipo de serviço a nenhuma empresa, estando condenado a parar de trabalhar -dependendo de seu partido, naturalmente, porque temos ex-funcionários do Ministério das Comunicações e da ANATEL, na época do governo FHC, que participaram ativamente do processo de esquartejamento e privatização da Telebras, que são, há anos, altos executivos de gigantescas empresas de telecomunicações estrangeiras no Brasil, sem serem importunados por isso, claro está.
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