segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O dinheiro é um bem público

LAUREZ CERQUEIRA // http://www.brasil247.com/
Banqueiros 2

A frase “O dinheiro é um bem público”, misturada a ruídos e imagens distorcidas no filme Film Socialism, do cineasta Jean-Luc Godard, salta como um chamado à Europa para enxergar a decadência na qual se encontra.

Não só à Europa, mas ao mundo, que se afoga em dívidas. Com ela, os desvalidos, os trabalhadores e os setores médios da humanidade hipotecam o futuro nos bancos.

Imagine se a humanidade compreendesse que o dinheiro é mesmo um bem público, que a dívida pública é uma fraude, e mandasse os banqueiros às favas!

No ano passado, o Credit Suisse divulgou um estudo com dados assustadores sobre a concentração financeira no mundo.

A projeção para o final de 2016 é de que a riqueza de 1% da população deve ultrapassar a dos 99%, numa velocidade de acumulação inimaginável, fruto da ganância estúpida que se espraia deixando no planeta feridas da crise, pobreza, guerras, mortes, e migração de multidões de pessoas como nunca se viu na história da humanidade.

Toda a produção mundial atualmente é mais que suficiente para prover as necessidades básicas da população. Se fosse repartida pelos habitantes da Terra, cada família receberia em média R$ 9 mil por mês.

As mega corporações do sistema financeiro mundial funcionam como grandes aspiradores de dinheiro e riquezas para as nações centrais.

A organização não governamental britânica Oxfam também divulgou um estudo mostrando que o mundo tem hoje 62 bilionários com mais riqueza acumulada do que as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres.

No novo relatório da Rede de Justiça Tributária (Tax Justice Network) consta que cerca de 10 milhões de pessoas esconderam, em paraísos fiscais, uma quantia equivalente às economias dos EUA e Japão combinadas.

Os paraísos fiscais estão com esconderijos, para o dinheiro dos milionários, cada vez mais sofisticados, a fim de não pagarem impostos às Repúblicas.

James S. Henry, ex-economista da McKinsey & Co., autor do livro “Os banqueiros de sangue”, estima que há cerca de US$ 32 trilhões em paraísos fiscais, enquanto o PIB mundial é de US$ 72 trilhões.

Ou seja, um capital parado, se multiplicando com especulação, sem produção e sem pagamento de impostos.

O professor François Morin, da Universidade de Toulouse, membro do conselho do Banco Central da França, autor do livro A Hidra, o Oligopólio Bancário, afirma que a espiral especulativa é governada pelos 28 maiores bancos do mundo, que controlam 90% dos ativos internacionais. Segundo ele, o total é superior às dívidas de 200 países do planeta.

Enquanto os bancos têm ativos (bens, dinheiro, clientes, empréstimos, entre outros) que somam US$ 50,3 trilhões (R$ 178 trilhões), a dívida pública mundial é de US$ 48,9 trilhões (R$ 173,7 trilhões), diz Morim.

A consultoria McKinsey, que trata de estratégia de negócios no mundo, divulgou recentemente uma pesquisa com informações impressionantes.

Os dados apurados mostram que houve uma explosão da dívida total (dívida pública, privada e individual) em mais de US$ 57 trilhões nos últimos sete anos.

Superou US$ 200 trilhões (R$ 710,7 trilhões), cerca de três vezes o PIB mundial. A situação se inverteu: quem tinha pequena poupança nas últimas décadas, agora tem dívida com bancos em cartão de crédito e outros mecanismos de endividamento da população.

A Comissão Europeia, Estados Unidos e Grã-Bretanha resolveram, em 2012, investigar como a alta concentração dos bancos leva à manipulação do mercado.

Foram investigados 11 dos 28 maiores bancos que controlam 90% dos ativos no mundo: Bank of America, BNP-Paribas, Barclays, Citigroup, Credit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland e UBS.

No final constataram, obviamente, que as instituições financeiras manipulam as taxas de juros chamadas “Libor”, diz o relatório. A taxa Libor é fechada diariamente em Londres e determina as taxas de empréstimo e outras operações.

Foi observado que as instituições não são exatamente concorrentes, por trabalharem para manipular taxas de juros, mercados de câmbio e de crédito, mas um cartel mundial.

O sistema financeiro mundial subordina as nações com políticas econômicas e financeiras extremamente recessivas e antinacionais ditadas por seus gerentes encrustados nos governos locais.

O capital se apropria das riquezas, dos bens e dos serviços públicos com governos subservientes às grandes corporações multinacionais. Essa praxe está estabelecida no mundo. O governo local que resolve enfrentar as corporações é derrubado.

Há poucos dias o Tesouro Nacional divulgou um rombo histórico de R$ 25,3 bilhões, em setembro, arrecadação com queda de 7,5% e 12 milhões de desempregados. É o saldo de mais de dois anos de empreitada da oposição para derrubar o governo Dilma.

Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Michel Temer na vice-Presidência da República conspirando e Aécio Neves, derrotado nas eleições de 2014, se juntaram e bloquearam todas as medidas, para saída da crise, enviadas pelo governo ao Congresso Nacional. Asfixiaram e derrubaram o governo.

Ultrapassamos a marca de R$ 3 trilhões em dívida externa no último mês. Feitas as contas, concluiu-se que um brasileiro já nasce devendo R$ 15 mil.

Os juros extorsivos estabelecidos pelo Banco Central elevaram a dívida à estratosfera. Só no último ano, foram R$ 650 bilhões de juros e amortizações embutidos nos R$ 3 trilhões. Ao longo do tempo, quase toda a dívida resultou de juros.

Por outro lado, a sonegação de impostos no Brasil deve ultrapassar R$ 500 bilhões, em 2016.

Em 2015, o Sindicato dos Procuradores da Fazenda Nacional (Simprofaz) divulgou um estudo mostrando que a sonegação chegou a R$ 415 bilhões por ano, o equivalente a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o mesmo percentual previstos no Plano Nacional de Educação, para aplicação no sistema educacional brasileiro.

Segundo o Sinprofaz a arrecadação brasileira poderia crescer 23% se a evasão fiscal fosse eliminada.

Mas esqueça isso, o governo Temer veio para proteger o capital financeiro, o grande empresariado, e passar a conta para os de baixo, com um corte brutal de investimentos públicos por 20 anos (PEC-241), e outras loucuras mais, para entregar ao setor empresarial privado a exploração dos serviços públicos.

A dívida pública é uma farsa, alimentada por taxas de juros manipuladas e mecanismos criados por tecnocratas.

Por incrível que pareça, tudo isso acontece sob proteção rigorosa de leis, de sistemas judiciários, de forças armadas e policiais.

Imagine se todo esse aparato do Estado, ao invés de trabalhar para os de cima, na manutenção da ordem estabelecida pelas grandes corporações bancárias multinacionais estivesse do lado dos de baixo na defesa intransigente dos direitos dos desvalidos, dos trabalhadores, e dos setores médios da sociedade, ou seja, da população que gera a riqueza com seu trabalho, o Brasil seria outro.

Laurez Cerqueira

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