Nonato Menezes
Um dos pontos fortes do
sindicalismo progressista é a presença da representação junto às suas bases. É
o sindicalista na fábrica, na escola e no escritório. Conversar com os
trabalhadores, observar o ambiente de trabalho e fazer a leitura possível das
relações que ali existem é o engajamento necessário para minimizar ou mesmo
evitar a exploração exacerbada. É a pedagogia da politização contra a alienação
imposta pela rotina produtiva e contra os nocivos efeitos da burocracia tão bem
articulada em benefício dos patrões e de seus sequazes.
Acontece que nossos
sindicalistas, em geral, e a diretoria do Sinpro/DF, em particular, já não lembram
mais a cor do chão em que os trabalhadores pisam. Na fábrica, na escola e no escritório,
só vão de passagem, quando muito. E quando isto ocorre é para vender produtos,
não para fazer política. Vender facilidades para o consumo dos trabalhadores
está virando o must da ação sindical.
Aqui na capital federal, onde “a
política” jorra nos becos e não causa receio aos
alambrados, a diretoria do Sinpro/DF segue desfrutando do conforto de sua
inércia. A ausência de seus diretores e diretoras nas escolas é tal, que chega a
ser notada, como disse recentemente um colega: “os diretores do nosso sindicato
não aparecem mais na escola; já estou até sentido saudades!”.
Se a ausência percebida dos sindicalistas nas
escolas já configura um problema sério, mais preocupante é o que alguns dizem e
se comportam diante das circunstâncias em que vivemos.
No período eleitoral, o grupo da
chapa que ganhou a eleição não teve coragem de discutir o golpe que estava em
curso, com a alegação de que nas escolas muitos professores defendiam o “Fora
Dilma!”.
Ora, ora, ora... Em nome de uma
eleição que, de certa maneira, já estava ganha, renunciar a princípios
fundamentais não só é perigoso, mas é uma estratégia de se abdicar do principal
em nome do secundário. Isto configura a mais reacionária das atitudes que se
possa ter.
Tivesse sido essa manifestação
apenas no momento eleitoral, poderia até ser considerada por muitos como
“aceitável”, visto estarem os dirigentes em circunstâncias de campanha, momento
em que se costuma vender até a mãe com deságio.
Mas não. A situação é bem mais
assustadora. Gravíssima, aliás.
De comentário confiável, fiquei
sabendo que alguns diretores dizem, sem recomendarem segredo, que não irão mais
às escolas fazer discurso progressista (de esquerda), pois muitos professores e
professoras são de direita. E pensar que para Gramsci o papel mais importante
do sindicato é o de educar o trabalhador para que esse ascenda a altos níveis
de consciência de classe e com ela lute para sua libertação. Talvez o velho
mestre estivesse equivocado.
A despeito do que isso significa
para nossa categoria, para a instituição e para a própria sociedade do Distrito
Federal, há um motivo forte para tais disparates. Os atuais dirigentes, que,
aliás, se apossaram do Sinpro/DF, têm muito medo de se exporem à disputa
política através do debate.
Esta diretoria, salvo exceções, é composta por
medrosos e por pessoas escoladas em manobras rasteiras e mesquinhas. Seu
objetivo tem sido apenas a conquista de troféus de vencedores, em vitórias que
há muito vem consolidando o atraso e o retrocesso de nossa entidade e da
categoria, como bem demonstra a própria avaliação que ela, a diretoria, faz das
tendências dos professores da rede pública.
Isso nos leva a entender a ênfase
dada pela diretoria do nosso sindicato aos convênios e acordos comerciais que
estimulam o consumismo nas formas mais variadas: compras em lojas e postos de
gasolina, frequência a clubes de bairro nobre de Brasília, baile de réveillon, locadora de automóveis em Rio
Branco, Acre. Houve um tempo em que os dirigentes do Sinpro/DF eram
absolutamente contrários à existência da Asefe. Acreditavam eles que o papel
assistencial daquela entidade arrefecia a luta dos trabalhadores explorados.
Mantida esta dinâmica, não custa
o Sinpro/DF conveniar-se com a Mars One, organização holandesa que está
recrutando voluntários para colonizar Marte. Eis uma boa oportunidade para
alguém da diretoria se candidatar, obviamente com todas as despesas pagas pelo
próprio sindicato, a tal aventura, com um detalhe, sem direito a retorno. Boa
viagem!
De certo, os convênios, mesmo que
seja com uma barraquinha de vender coco na praia, deve criar, em muitos, aquela
sensação: Ah, eles estão fazendo! O que
não se está levando em conta é que esse tipo de assistencialismo de província
tem sido, via de regra, o caminho mais curto que leva ao aprofundamento da já arraigada
estupidez consumista e da ignorância política.
Se esta é, como todos os
indicadores apontam, a única alternativa política encontrada pelos nossos
corajosos militantes sindicais, justo no momento em que nosso país vivencia uma
das maiores crises políticas de sua História, resta-nos aguardar o momento em
que o nosso rico Sinpro/DF mudará de nome. Pela compreensão política de seus
dirigentes e pela concepção de função que os mesmos veem dando à entidade, ela
passará a ser uma segunda Asefe.
Por fim, nada mais justo do que o
Sinpro/DF assumir o lugar daquela que um dia foi a forte agência assistencialista
dos professores do Distrito Federal, cujo ocaso veio com a contribuição
sorrateira do próprio Sindicato dos Professores no Distrito Federal, nossa,
agora, futura Agência de Convênios Diversos e Serviços Miúdos para Todos os
Oprimidos pela elite governadora.
Se a razão não está conseguindo
nos mostrar o melhor caminho; que a sorte nos guie.
A todos, um não triste, 2017.
Caro professor Nonato,
ResponderExcluirVocê sabe do apreço e do respeito que tenho por você como pessoa e profissional comprometido com a educação pública do Distrito Federal, foram inúmeras as ocasiões em que discutimos ideias, educação, política..., sempre comprometidos com a verdade, mesmo quando ela não nos favorecia. No entanto, meu caro amigo, penso que posso chamá-lo assim, não poderia deixar de manifestar-me diante do texto de sua autoria intitulado – “Diretoria do Sinpro/DF potencializa convênios para fugir das escolas” e o farei por considerar que o momento requer que qualifiquemos os debates, considerando a atual conjuntura política do nosso País e concordando com você de que vivemos “uma das maiores crises políticas de nossa História”. Assim, destaco alguns pontos:
1º) Como professora sindicalizada, senti-me atingida pelas “denúncias” apresentadas, considerando que o “sindicado somos nós”, assim, você não ataca apenas os (as) dirigentes, mas também a categoria que conscientemente elegeu a atual diretoria com 58,82% dos votos. É portanto, uma diretoria legitimada por docentes críticos e cônscios de suas responsabilidades sindicais e com o conjunto da categoria.
2º) A conjuntura política do DF e do Brasil, todos nós sabemos é completamente desfavorável às classes trabalhadoras e aos sindicatos. Nossos inimigos são outros, precisamos unir a nossa capacidade de crítica e nossas energias para as lutas que teremos que construir para garantir as conquistas sociais e trabalhistas alcançadas nos últimos 13 anos.
3º) Acredito que ainda vivemos em um Estado Democrático e podemos e devemos nos expressar nos diferentes espaços sociais, digitais, mas, causou-me estranheza a forma como você optou por se expressar; a ironia, definitivamente não combina com os posicionamentos sérios e ponderados do professor Nonato que eu conheço.
4º) Embora, sejamos críticos da sociedade do consumo para poucos, não vejo como inconciliável firmar convênios comerciais que favoreçam os (as) trabalhadores (as) e a atuação sindical, principalmente no atual contexto de perdas salariais, aumento da inflação, qualquer vantagem que contribua para garantir melhoria da qualidade de vida do (a) trabalhador (a) é bem-vinda. Eu tenho feito uso dessas vantagens e não me considero uma “estúpida consumista e ignorante política”.
5º) A justiça é um princípio para mim, com base nele, não posso concordar com a assertiva de que os convênios sejam as únicas alternativas apresentadas pela atual diretoria do SINPRO-DF. Eu tenho participado de congressos, encontros, reuniões de formação político-pedagógica, ora como ouvinte, ora como palestrante. Devo destacar que um sindicato de professores deve aliar a formação política à formação pedagógica, por ser esta a finalidade da nossa atuação docente. Causou-me estranheza mais uma vez, a afirmação de que não há interação face a face entre os dirigentes sindicais e a categoria, digo isto, por ter tido a oportunidade de vivenciar momentos em que realizava palestras em Regionais de Ensino, tendo a presença de dirigentes sindicais na plenária, respeitosamente aguardando a conclusão das falas dos (as) expositores (as) para dialogarem com os (as) professores (as) presentes no auditório. Isso ocorreu na CRE de Santa Maria por exemplo no mês de outubro de 2016.
Por fim, acredito que a razão deve vir acompanhada da sensibilidade e da coerência, durante os 30 anos de trabalho na rede pública de ensino do DF, procurei mantê-la, os (as) colegas que conviveram e trabalharam comigo podem testemunhar, é com base nessa história/trajetória, que conclamo a todos e todas a nos unirmos em prol de interesses que suplantem o individual, o nosso projeto deve ser maior, deve alcançar a todos e a todas, deve ser voltado aos (às) trabalhadores (as), aos (às) professores (as) e, sobretudo aos interesses da população do DF, principalmente dos(as) nossos(as) estudantes.
A todos e a todas um ano de 2017 de luta e de união, juntos somos mais fortes!
Professora Edileuza Fernandes
Professora aposentada da SEEDF, atual professora da FE/UnB
Caríssima professora e colega Edileuza,
ResponderExcluirQue bom este reencontro! E por um motivo nobre: o debate. É o que eu dizia antes de aposentar: que mudaria de parque, mas sem sair da brincadeira. E aqui estamos tentando puxar a corda da contribuição. E nada mais auspicioso do que o debate sobre as condições às quais estamos vivenciando. Condições que, aliás, são difíceis e lamentáveis por um lado, mas promissoras e exigentes por outro. Exigências que recaem sobre nós enquanto cidadãs e cidadãos e, sobretudo, sobre as instituições, cujos papeis no cenário político são de considerável importância.
Como a Instituição Sinpro/DF é o objeto do nosso debate, recorro um pouco à História recente dos movimentos políticos de suas direções.
Em 1998 tivemos eleições para governador no Distrito Federal e a direção do Sindicato, naquele momento, deu sua contribuição na derrota do governo de centro-esquerda que apoiávamos. Nos quatro anos do então governador Cristovam, hoje golpista, o Sinpro/DF fez oposição forte, por vezes, inconsequente.
Perdemos a eleição e parece ter sido aquele evento um marco na ação política do nosso sindicato.
Daí em diante foram doze anos de governos conservadores. Oito liderados pelo grupo do senhor Joaquim Roriz e quatro pelo grupo do inesquecível Roberto Arruda.
Nesse período a direção do Sinpro/DF, majoritariamente formada por outro grupo, teve um comportamento político diverso. Ora se comportava como oposição firme e determinada. Ora, negociava no frescor da madruga e, por vezes, fez concessões a nada menos do que àquela senhora que mais tarde foi flagrada enchendo a bolsa de dinheiro de propina.
Ressalvo que esta lembrança não é para incriminar ninguém, nem a Instituição, mas apenas para frisar o quanto a política do nosso Sindicato foi dúbia, por vezes, irresponsável. A ponto de ter se submetida à certas conveniências, quando deveria ter feito esforços em defesa de princípios tão caros a qualquer instituição que representa os trabalhadores.
Findo esse período, novamente um governo de centro-esquerda. E novamente a diretoria do Sinpro/DF teve revigorada sua postura de oposição. E mais uma derrota, dessa vez sequer no segundo turno chegamos.
Não quero deixar aqui impressão de que em certas ocasiões o Sinpro/DF tenha que “ser governo”; jamais. Apenas ressalto que o grupo majoritário do nosso Sindicato tem sido, em todo esse tempo, oposição aos governos de centro-esquerda e condescendente com os governos reacionários e historicamente inimigos dos trabalhadores.
Em retrospectiva, podemos observar que o ocorrido em 1998 abriu as portas para ações pouco recomendáveis para uma instituição de trabalhadores, que já chegou ao ponto de, em campanha, se negar a discutir o golpe, em curso naquele momento, por ter nas escolas potenciais eleitores que defendiam o “Fora Dilma”, sendo esta a mais cretina das desculpas, para um evento que seu desfecho abriu a mais forte crise institucional que nosso país na viveu.
E para coroar o conservadorismo, agora alguns diretores alegam dificuldades nas escolas para um discurso progressista (de esquerda), pois lá há muitos professores e professoras de direita.
Não é demais?
Por fim, caríssima colega Edileuza, a ênfase dada aos convênios pela atual diretoria não é nada mais do que parte desse processo, cujo caminho está aberto a qualquer procedimento semelhante ao que a direita brasileira – a pior do mundo – vem fazendo há mais de quinhentos.
Mas há um caminho promissor, que é este que estamos fazendo: o debate. É hora de fazermos a discursão sobre nosso Sindicato, sobre seus procedimentos, a respeito do conservadorismo de seus diretores e diretoras e do mais necessário debate a ser feito: do reacionarismo que está tomando de conta de nossas escolas.
E por fim, desejo sincero de um ano vindouro não triste e que mantenha esse espírito para o debate, com a elegância que é intrínseca à sua pessoa.
Salve!