terça-feira, 28 de março de 2017

Assim fala o novo idiôtés: "trabalhe menino,trabalhe!"


Por Jean Paulo Pereira de Menezes
http://www.carosamigos.com.br/

Há poucos dias, em um curso de Política (na Universidade ainda Pública), entre meus alunos, falávamos do idiôtés na Grécia antiga e como este personagem atravessou a história e se manifesta em nossos dias. É verdade que idiôtés é uma classificação para o indivíduo, mas aqui tomarei a liberdade de considerar a ligação da palavra grega com a definição latina, onde o idiota é também uma pessoa tola. E abusando mais um pouco da etimologia, colocarei o tolo aqui organizado em classe dominante e muito preocupado com uma política para si.

“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que as coisas voltem a ser como era antes”.

Ou ainda, nas palavras de Michel Temer:

“Não eliminamos nenhum programa social. Estamos é levando adiante. Tudo isso é para preservar os mais carentes, os mais pobres”.

Estas afirmações exclamativas tornaram-se parte do mantra da classe dominante nos últimas décadas para tentar convencer a classe trabalhadora de que é necessário fazer sacrifícios para retomar o crescimento e sair da crise. O que o mantra não diz é que são exclusivamente os trabalhadores que devem pagar pela crise!

As peças publicitárias do Estado nos apresentam a categoria mística de sociedade, escondendo com ela o caráter de classe e o papel destas diante da produção e reprodução da vida. O Estado tenta mistificar ainda mais quando trata por povo, genericamente, as classes sociais, na tentativa de esconder, velar, o papel da classe dominante diante da crise. Por isso, dirá o novo idiôtés: “todos devem fazer a sua parte em nome da recuperação do Brasil”.

A realidade é que estão depositando apenas nas costas da classe trabalhadora o preço de uma crise que não foi feita pelos trabalhadores. Uma crise gerada pela própria classe burguesa, pela lógica imanente do sistema capitalista e pela ganância da burguesia obcecada pelo lucro inconsequentemente.

Diante da estagnação e do déficit, para retomarem o crescimento da taxa de lucro, colocam a culpa nos trabalhadores e das conquistas históricas desta classe para operarem os planos de austeridades e retomarem o crescimento dos seus negócios. E neste sentido a leitura que diz que o Estado é um balcão de negócios da classe burguesa se mostra mais uma vez correta e atual.Nos escreveu Karl Marx e Engels em 1848:

A burguesia, afinal, com o estabelecimento da indústria moderna e do mercado mundial, conquistou, para si própria, no Estado representativo moderno, autoridade política exclusiva. O poder executivo do Estado moderno não passa de um cômite para gerenciar os assuntos comuns de toda a burguesia (MARX; ENGELS, 1999, p.12).

O Estado, para recuperar o crescimento da taxa de lucro da burguesia tenta desesperadamente propagar que é necessária uma série de medidas impopulares para colocar o País nos trilhos do desenvolvimento. Que desenvolvimento? O da classe que domina, é claro!

As “medidas impopulares” é um eufemismo para embelezar o crime contra toda a classe trabalhadora! Trata-se de fazer trabalhar até a morte. Trata-se de negar o direito a aposentadoria. É a negação mais nítida ao futuro. É um decretar do retorno a escravidão!
"Impõem a liberdade de terceirização (PL 4302, aprovado nesta quarta-feira, 22) quando já é mais do que provado que este regime de trabalho só faz a escravização dos trabalhadores! A terceirização abre caminho para o fim do serviço público e consolidação do trabalho escravo" 
  
A reforma da previdência deveria se chamar “decreto de morte... trabalhe menino, trabalhe”. Querem fazer a classe trabalhar até morrer! Mas não é só isso... Querem impor o fim das leis trabalhistas, acabarem com as garantias mínimas (mesmo que ainda nos marcos do capitalismo) conquistadas com a luta dos trabalhadores... Impõem a liberdade de terceirização (PL 4302, aprovado nesta quarta-feira, 22) quando já é mais do que provado que este regime de trabalho só faz a escravização dos trabalhadores! A terceirização abre caminho para o fim do serviço público e consolidação do trabalho escravo. Prova mais cabal desta nossa afirmação é a própria realidade onde a relação capital e trabalho terceirizado expressa as maiores condições precárias de trabalho, com diversas pesquisas que demonstram o quanto é vil esse regime e como se nega ao mesmo tempo os direitos conquistados.

A regência da burguesia diante da crise orquestra um conjunto de ações através do Estado que são profundas no que diz respeito a própria existência da classe trabalhadora. Desmonte ainda maior da educação; destruição do sistema previdenciário; fim das leis trabalhistas e terceirização.

Para ficarmos nestes três... Observem meu caro leitor... Trata-se de preparar uma estrutura para retomada da taxa de lucro da burguesia: Desmonte da educação e mais liberdade para o setor privado atuar neste setor altamente rentável para os tubarões do ensino. Desmonte da providência pública para o deleite da previdência privada. Destruição das leis trabalhistas e fortalecimento da prioridade do negociado sob o legislado... ou seja, enfraquecimento do sistema sindical de representação de classe e imposição das condicionalidades de interesse do capital em detrimento do trabalhador. E o vírus da terceirização que na verdade é uma das formas de desmonte de todo o setor público, dando espaço para a ação da burguesia onde hoje atua o Estado, possibilitando, por exemplo, que prefeituras, estados e união contratem empresas privadas para realizarem o que hoje é feito por servidores públicos.

Mas não é apenas isso, separadamente, pois o conjunto destes desmontes ageorganizadamente em todos os setores. Ou seja, estes ataques, coordenadamente, colaboram para que a precarização ainda maior da vida do trabalhador seja afetada em todos os sentidos. Menos saúde, educação, serviços públicos, trabalho, direitos, menos tudo para a classe trabalhadora que é a que gera toda a riqueza!

E agora pergunto (?)... O que a burguesia vai pagar para o “Brasil sair da crise”???

A resposta é nítida: não querem pagar absolutamente nada!

Uma classe social tola e repugnante. Tola porque está confiante que passará ilesa por mais uma crise do capitalismo, fazendo os trabalhadores pagarem por tudo. Repugnante porque vive da exploração que promove sob os trabalhadores, realizando-se como parasitas, dissipando a vida de seu hospedeiro.

Insisto no mantra que diz:

“É preciso fazer o Brasil crescer e para isso é necessário que o menino trabalhe! As contas precisam fechar. É preciso trabalhar, sem corpo mole! Para sairmos da crise o menino tem que trabalhar, todos os meninos! É preciso que a sociedade faça a sua parte para que as coisas voltem a ser como era antes”.

Ser “como era antes” trata-se da burguesia desesperada para retomar a taxa de lucro! É preciso “trabalhar”, a burguesia não trabalha há séculos!

Querem colocar nas costas da classe trabalhadora o pagamento de uma crise que não fizemos. Querem que arquemos com as responsabilidades de uma lógica que só faz nos explorar e oprimir! Querem que sejamos dóceis e obedientes! Não!

Tolos parasitas... Provavelmente Alexis Tocqueville continuaria dizendo que estão sentados sob um vulcão prestes à erupção e ainda não consideraram isso com a devida seriedade, pois apostam nos corpos dóceis. Nas suas palavras, em 1848, na Câmara dos Deputados da República Francesa:

"Tal é, senhores, minha convicção profunda: no momento em que estamos, creio que dormimos sobre um vulcão… Pois quando passo a procurar em diferentes tempos, em diferentes épocas, entre diferentes povos qual foi a causa eficaz que provocou a ruína das classes que governavam, vejo claramente que a causa real e eficaz que faz com que os homens percam o poder é que se tornaram indignos de mantê-lo" (TOCQUEVILLE, 2011, p. 50).

A classe trabalhadora já demonstrou que está cada vez menos confusa com toda esta crise e no último dia 15, por todo o Brasil, deixou claro que não esta a fim de pagar a conta de um jantar que não alimenta os seus filhos.

É preciso que as centrais sindicais e movimentos sociais convoquem uma greve geral para responder com firmeza: Nós não vamos pagar nada!

Pela greve geral de trabalhadores!

Fora todos eles!
Referências:
TOCQUEVILLE, Alexis. Lembranças de 1848, as jornadas revolucionárias de Paris.
Clássicos Penguin& Companhia, 2011.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. (Tradução Maria Lucia Como). 4ª ed. revista. Rio de Janeiro: Paz e Terra 1999

 Jean Paulo Pereira de Menezes é docente no curso de graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Campus de Paranaíba. 

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