Eduardo Guimarães
Após semanas de conversas e avaliações, o Blog já pode opinar com maior segurança de que a candidatura Lula já se tornou irreversível, caso ele continue vivo e com boa saúde. Nas últimas semanas, surgiram mais e mais sinais disso. E os motivos, basicamente, são três:
1º – Não haverá tempo para condenar o ex-presidente em segunda instância e não iria colar medida cautelar que o prendesse, proposta sob argumentação de que estaria continuando a cometer crimes ou tentando atrapalhar investigações.
2º – A esquerda não tem alternativa viável de candidatura sem Lula; a única possibilidade de algum outro candidato de esquerda se viabilizar seria se Lula fosse impedido de disputar a eleição e, aproveitando a comoção popular que se formaria, indicasse alguém para representá-lo.
3º O empobrecimento dos brasileiros nos próximos anos será brutal. Cada vez mais a lembrança da era Lula fará os brasileiros quererem que governe de novo o país.
Há pouco mais de um mês, manifesto de artistas, intelectuais, jornalistas e juristas pedindo a candidatura de Lula congregou mais de 50 mil pessoas.
Semana retrasada, a Folha de São Paulo divulgou que o crescimento de Lula no último Datafolha fez um grupo de governadores lançar carta pública em apoio à candidatura do petista à Presidência.
Mas o grande sinal de que a candidatura Lula vai se materializando é a aproximação de um dos mais conhecidos oportunistas deste país, alguém que se notabilizou pela capacidade de ficar sempre do lado vencedor.
Líder da Força Sindical, o deputado federal Paulinho da Força já prepara o desembarque de seu partido, o Solidariedade, até aqui aliado do governo de Michel Temer. A insatisfação com as reformas trabalhista e previdenciária —e sobretudo a proposta de acabar com o imposto sindical— são a principal desculpa de Paulinho.
Na verdade, segundo a coluna Poder em Jogo, do jornal O Globo, Paulinho já assume publicamente que voltará a conversar com Lula sobre apoio na próxima eleição presidencial. Questionado sobre as eleições de 2018, Paulinho afirmou: “Estou sendo pressionado (por correligionários) a voltar a conversar com Lula.”
Até os inimigos declarados de Lula já pregam que Moro o “deixe” disputar a eleição, como se coubesse a Moro essa escolha. Não cabe. Ele pode, no máximo, forçar a mão e condenar o ex-presidente sem provas, mas não sabe se a condenação seria mantida.
Prova disso é a pregação de ultra tucanos como Reinaldo Azevedo e João Doria. Ambos começaram com uma história de que Lula precisa ser derrotado nas urnas.
Não é amor à democracia. Eles sabem que Moro dificilmente vai conseguir fazer a segunda instância condenar Lula a tempo, mas mesmo se conseguir sabe que a pressão contra uma condenação sem provas vai se tornar avassaladora.
A razão é muito simples. Não vão conseguir impedir o Lula de ser candidato. Os seguidos indiciamentos tentam provocar efeitos eleitorais, mas, do ponto de vista prático, mesmo que sejam levados à frente só serão julgados definitivamente bem depois da eleição presidencial do ano que vem.
É nesse ponto que entra em campo uma figura que precisa ser ouvida, ao menos para reforçar a crença na candidatura Lula: Ciro Gomes.
Ex-ministro e ex-governador do Ceará, que foi professor de Direito Constitucional, em entrevista à BBC avalia que não há “nenhuma chance” de o ex-presidente Lula ser condenado em segunda instância a tempo de se tornar inelegível e deixar a disputa à presidência em 2018; “E nem seria justo que acontecesse”, afirma, em entrevista à BBC Brasil; sobre o depoimento de Lula ao juiz Sergio Moro, Ciro acredita que o ex-presidente arrastou o juiz para a política; “O Lula trouxe o Moro para o campo dele, onde ele reina.
E que ninguém diga que isso é conversa de aliado porque, como mostra a íntegra da entrevista, Ciro não é favorável à candidatura Lula; a seu ver, “na hora em que for candidato ele racha o país em bases odientas, rancorosas, violentas, como nós estamos assistindo aos lulistas e antilulistas. E o país não tem ambiente para discutir seu futuro”.
Sim, a candidatura Lula fará isso, mas qualquer outra candidatura de esquerda viável faria a mesma coisa porque o poder, hoje, está nas mãos de uma direita peçonhenta e que não vai aceitar largar o osso, até porque a agenda dos grandes empresários ainda não foi totalmente implantada no país e, sem ela, eles não vão aceitar as regras do jogo, preferindo a instabilidade política e econômica a aceitarem justiça social.
Ciro está errado. Se por acaso Lula não fosse candidato, ele precisaria de seu apoio. E se recebesse o apoio de Lula iria comprar junto o ódio ao ex-presidente, como ocorreu com Dilma.
Claro que Lava Jato e Globo tentarão evitar que Lula dispute porque sabem que suas chances eleitorais são imensas, mas seu crescimento nas pesquisas já chama atenção do mundo e no segundo semestre a ONU aceitará a queixa dele de que é vítima de lawfare.
A condenação que Moro dissimula, mas já decidiu adotar contra Lula, ocorrerá quase ao mesmo tempo em que as atenções do mundo se voltarão ao Brasil devido a uma bomba: as Nações Unidas vão abrir processo contra o Brasil por perseguição política ao ex-presidente.
A decisão da Justiça brasileira em segunda instância sobre Lula será tomada “sub judice” do escrutínio internacional da situação política interna do Brasil. A cada dia que passa o mundo se preocupa mais com a rápida deterioração da nossa democracia.
Isso é que alguns fascistas e golpistas incrustados na mídia, nos partidos, no Ministério Público e no Judiciário não querem entender. Foram longe demais. Estão voando perigosamente perto de um escrutínio solar do mundo civilizado. Suas asas vão derreter.
A questão não é se Lula vai concorrer e/ou se irá se eleger, a questão é como fazer para que tenha governabilidade. Setor pensante da sociedade precisa descobrir como fazer para eleger parlamentares suficientes para dar governabilidade ao terceiro mandato de Lula.
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