Recentemente, em entrevista a uma rádio, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, disse que “todo mundo sabe que os tribunais não vão deixar Lula registrar a candidatura por causa da Ficha Limpa” e que “é mais fácil um boi voar do que o PT apoiar alguém”. Eis a fórmula que Ciro usou para empreender uma carreira política de pouca – ou nenhuma – importância ao longo de mais de 30 anos: falar demais e na hora errada.
Ciro Gomes, ao contrário do que se pensa, é paulista de Pindamonhangaba, mas filho de um cearense. Ele disputou e se elegeu na sua primeira eleição, em 1982, aos 24, para deputado estadual do Ceará. De lá para cá, foi deputado, prefeito de fortaleza e governador do Ceará, além ministro da Fazenda do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso e ministro da Integração Nacional do governo Dilma Rousseff.
Ciro nunca venceu uma eleição fora do Ceará, apesar de ter tentado duas vezes ser presidente da República. Na primeira, vez, em 2002, enterrou uma até razoável posição na campanha por falar demais e falar bobagem sobre a sua então esposa Patrícia Pillar, dizendo que a principal função dela era “dormir” consigo.
Ciro Gomes iniciou a carreira política no PDS (Partido Democrático Social), legenda sucessora da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido que dava sustentação à Ditadura Militar Brasileira; em 1982, foi para o PMDB; em 1988, migrou para o PSDB; em 1996, filiou-se ao PPS; em 2003, foi para o PSB; em 2013, foi para o PROS; em 2015, filiou-se ao PDT para concorrer à presidência em 2018.
Ciro não consegue estabelecer uma relação mais durável com partido algum devido ao seu temperamento mercurial e, pior do que isso, à sua obsessão em só participar de grupos políticos que possa liderar.
Por algum tempo, Ciro aproximou-se de Lula achando que sua candidatura presidencial seria apoiada pelo PT sem se filiar ao partido. Ao ver que isso não aconteceria, começou a atacar Lula publicamente com críticas inoportunas à sua atuação política e à do próprio Lula.
Como se vê, Ciro não tem jeito. Ele se aproxima de um partido político do tamanho do PT, que pesquisa Datafolha recente mostrou que é o partido preferido dos brasileiros, e quer que um partido como esse – que, em qualquer eleição, terá sempre, no mínimo, 20% dos votos – e quer mandar na agremiação e ser apoiado por ela incondicionalmente.
A megalomania de Ciro, porém, faz-se acompanhar de um defeito pior e que muitos não conheciam: o oportunismo. A grandiloquência e a frequência dos ataques de Ciro a Lula vem aumentando tanto que os aliados do ex-presidente já começam a dar respostas, como fez o deputado federal gaúcho Paulo Pimenta após mais uma onda de ataques do pedetista.
“Não vai ser batendo no Lula e bajulando a Globo que ele vai se credenciar como um nome com capacidade de conduzir o País em um projeto de desenvolvimento e retomada do crescimento com inclusão social”, escreveu Pimenta.
Pelo twitter, o petista disse que Leonel Brizola, fundador do PDT, “ficaria envergonhado” com as declarações do pré-candidato.
O que Ciro não entende é que o setor da sociedade que execra Lula não vai apoiá-lo só por ser boca-grande como Bolsonaro. Quem puxa os cordéis de gente como Bolsonaro não quer um político com ideias até progressistas como Ciro Gomes.
O que a direita quer é um demente que proponha genocídio de pobres e discriminação racial e social. Ciro pode ter muitos defeitos, mas tem ideias civilizadas sobre política. Não interessa à elite um presidente com ideias próprias e que não proponha sugar o sangue do povo.
Antes de terminar este comentário, quero esclarecer uma coisa.
Os adeptos de Ciro Gomes leram críticas que venho fazendo a ele e me cobraram “gratidão” a ele por ter “me defendido” quando foi alvo da sanha autoritária do juiz Sergio Moro.
Ciro Gomes não defendeu Eduardo Guimarães, defendeu a democracia, o Estado de Direito. Pela lógica de Ciro, eu deveria a ser grato a Reinaldo Azevedo e a Ricardo Noblat, dois jornalistas de direito que falaram até mais a meu favor do que Ciro quando foi preso ilegalmente pelo juiz Sergio Moro, por uma manhã inteirinha.
Assista, a seguir, a reportagem em vídeo
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