Foto Ricardo Stuckert

Lula está preso e o país não pegou fogo
por Izaias Almada
O escritor, poeta e pensador irlandês Oscar Wilde cunhou uma frase, ainda em finais do século XIX, que se encaixa de maneira magistral para definir o atual jornalismo brasileiro: “O jornalismo moderno tem uma coisa a seu favor: ao nos oferecer a opinião dos deseducados, ele nos mantém em dia com a ignorância da comunidade”. Na mosca.
Por que o brasileiro não se insurge? Não luta? Por que insiste em respeitar democraticamente um governo que se impôs por um golpe de estado?
Nessa barafunda que se tornou o Brasil atual, terra “sem lei e sem alma”, como nos velhos faroestes de Hollywood, chega a ser patético o grau de ignorância e hipocrisia com que se trata a política no país. Ou mesmo as suas leis. Que o digam Sergio Moro e agora o seu Goebells de saias. Mas não só esses dois.
Tornamo-nos, depois do golpe mequetrefe de 2016, que levou uma quadrilha de meliantes ao poder político, um país de “juristas”, todos entendidos sobre o que se pode e o que não se pode fazer a partir da Constituição de uma República Federativa, constituição essa que poucos conhecem e, por essa mesma razão, menos ainda a respeitam.
Juízes, promotores, procuradores, advogados, muitos deles formados na padaria da esquina, mandam cada um no seu pedaço, usando daquela falsa e erudita linguagem com que gostam de dar a conhecer a sua arrogância, mas que também serve - mesmo que ridiculamente - para encobrir a sua incompetência.
E sempre, claro, todos eles agora amparados na luta contra a corrupção. Falta-lhes, em muitos casos, a presença de um bom espelho em casa ou, sobretudo, no local de trabalho, pois corrupção para essa gente só existe a alheia. A dos amigos ou a própria não conta ou, como diz o Torquemada dos Pinhais, não vem ao caso.
Mentalidade subdesenvolvida tão comum entre boa parte da nossa classe média, grupo social bem avaliado política e ideologicamente pela professora Marilena Chauí. Fascistas, mesmo sem o saber.
Como somos um país democrático e minimamente civilizado, mesmo considerando a escória que acabou de ganhar alguma notoriedade nos últimos três anos (uso o termo aqui para qualificar a massa ignara e belicosa que ganhou voz nas redes sociais), fico pensando porque andamos às cegas em relação ao nosso futuro imediato como nação. Não entendemos ou não queremos entender o que se passa?
Sim, porque os golpistas, apesar de ‘michos’, continuam dando as cartas, comendo o mingau pela beirada, pois os nossos homens de bem – seja lá o que isso signifique na atual conjuntura brasileira – falam, falam, criticam, criticam, mas não têm ou não conseguem ter nenhuma iniciativa para desalojar de Brasília um governo que se impôs através de um golpe. Mequetrefe.
A votação dos deputados a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 foi um dos espetáculos mais degradantes da política brasileira contemporânea. É sempre bom que se lembre.
Vivemos a partir dali numa democracia de fancaria, cujo governo chegou ao poder pelo golpe de estado e, pasmem, respeitamos como bons meninos tal governo. Queremos combatê-lo dentro da lei. Mas que lei?
A começar pelos nossos militares, sempre prontos a intervir quando se trata de combater a ‘ameaça comunista’, esse bicho papão que hoje em dia só cabe na cabeça da escória. Mas quando se trata de impedir a ascensão do fascismo, aí não, aí ficam todos mudos.
O que será que devem pensar os pracinhas da FEB, lá onde quer que estejam e que deram sua própria vida para combater o nazifascimo na Itália na Segunda Grande Guerra? Força Aérea, Marinha e Aeronáutica perderam milhares de homens para defender a democracia contra Hitler, Mussolini et caterva... . Em Monte Castelo e nas águas do Atlântico Sul.
E a soberania do país, onde é que fica? E o pré-sal, o Nióbio, o submarino nuclear, a Eletrobrás, a Embrear, o Aquífero Guarani... Vamos tirar as calças e entregar tudo de mãos beijadas, na bacia das almas? Temos vergonha de ser brasileiros? Nossas FFAA têm vergonha de serem brasileiras? Elas não gostam do povo brasileiro?
E os movimentos sociais, os sindicatos, os estudantes? Onde anda essa gente? Uma pequena manifestação aqui, um debate acolá, algumas reclamações ao papa, uma meia dúzia de pneus queimados, umas poucas faixas no México ou em Parias; umas vaias aos golpistas em aeroportos e vamos caminhando à espera de um milagre. À espera de Don Sebastião.
Que bom seria se tivéssemos orgulho dos oito milhões e quinhentos mil metros quadrados que habitamos, não? Solo fértil, subsolo riquíssimo em minerais, rios piscosos e água abundante. Já agora com o pré-sal, um dos melhores petróleos do mundo. População trabalhadora, apesar dos atuais 13 milhões de desempregados, mas dócil, aceitando que lhe esbulhem os direitos, fazendo voltar o Brasil aos tempos do grande estadista e “sociólogo” FHC.
Pelo andar da carruagem, tudo indica que no primeiro dia de janeiro de 2019 subirá a rampa do palácio da Alvorada um presidente eleito “democraticamente” e gerado no ventre de um governo ilegítimo, com o aval de um país que não sabe o que é lutar por sua soberania e muito menos viver em uma democracia plena e sólida.
Até quando irão deixar o ex-presidente Lula numa solitária? Onde estão aqueles que disseram que se Lula fosse preso o país ia pegar fogo? Nem médico pode receber na sua solidão.
Esse, infelizmente, é o Brasil real. Não adianta tapar o sol com a peneira. E antes que me esqueça, um aviso aos navegantes: O Senhor Ciro Gomes é mais do mesmo. De político machão o Brasil já está cheio.
O problema do brasileiro esclarecido é o medo, afinal quase todo o aparato de segurança para não dizer está todo, parece estar no golpe, boa parte do judiciário/mp está no golpe, a população "midiota" não tem noção do que está acontecendo e defende o golpismo sem saber, então amigo quem tem tem medo... Pelo andar da carruagem, só a fome é que vai mover as massas e ai quem sabe o que teremos Bastilha, Nurenberg ou quem sabe a escravidão de fato retorne para ficar de vez.
ResponderExcluirAcontece, Anônimo, se depender da fome é que estaremos mesmo fracassados.Se a fome promovesse Revolução, as Regiões mais pobres do mundo já teriam pegado fogo. Ao contrário, a fome é cria as "melhores" condições para o dominador. Nem precisa recorrer à História. O presente mostra isso. Claramente.
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