
Eleições de faz de conta num país muito, muito, muito distante...
por Fábio de Oliveira Ribeiro
Duas notícias chamaram minha atenção na internet esta semana. A primeira diz respeito ao assombro de uma suposta jornalista com o aumento das intenções de voto em Lula. A segunda foi o sentimento de fracasso atribuído a Sérgio Moro porque ele não conseguiu anular a liderança de Lula nem mesmo metendo-o na prisão.
As duas notícias estão interligadas. Elas revelam mais do que enunciam. Se a jornalista fosse isenta ela não teria ficado assombrada, mas apenas relatado o fato de maneira serena procurando saber qual a razão do desempenho eleitoral de Lula. Não seria muito difícil encontrar razões para justificar o que está ocorrendo.
O Brasil cresceu e distribuiu renda durante o governo Lula. A mesma população que o ex-presidente petista ajudou a obter sustento, educação, saúde e alimentação está agora desempregada, faminta e desprotegida pelo Estado neoliberal criado com ajuda da imprensa. O fracasso do desgoverno Michel Temer é evidente e isso também beneficia Lula.
A jornalista pressupõe que o povo brasileiro não tem memória. Pior, ela esqueceu que a imprensa foi incapaz de eleger um presidente desde 2002. O assombro dela não convencerá ninguém a deixar de votar em Lula.
Após proferir sua sentença a relação do juiz com o réu deveria deixar de existir. Se queria destruir a liderança política de Lula me parece evidente que Sérgio Moro deveria ter se afastado do processo por causa de sua evidente suspeição. Nenhuma motivação pessoal deve orientar a ação do juiz. Ele deve julgar o réu de maneira impessoal. Se for incapaz de fazer isso ele viola o direito do réu a ser julgado por um juiz imparcial.
No campo político a parcialidade é uma necessidade. Pode até mesmo ser considerada uma virtude, pois raramente os traidores são perdoados pelos seus ex-aliados. No campo jurídico a parcialidade envenena não só o processo em que o juiz atua. Ela compromete a segurança que a população deveria ter de que as decisões judiciais não seriam contaminadas por motivações de ordem econômica, ideológica, política, racial, social, sexual, etc…
Não existe democracia sem legitimidade governamental obtida de maneira tranquila e consensual. Portanto, sem eleições livres com a participação de todos os candidatos preferidos pelos diversos grupos populacionais o regime político será qualquer coisa menos democrático.
O programa econômico neoliberal de Michel Temer foi rejeitada pelos eleitores em 2014. Tudo que tem sido feito (entrega do petróleo aos estrangeiros, privatização de estatais, congelamento de investimentos em educação e saúde, revogação de direitos sociais e trabalhistas etc...) padece de um vício que propaganda jornalística alguma será capaz de esconder ou disfarçar. Apesar de estar sendo maltratado por um sistema de poder criminoso que assaltou a presidência através de um golpe de estado disfarçado de Impedimento, o povo brasileiro tem agido de maneira pacífica e cordata porque sabe que tudo pode voltar a ser como era através das eleições de 2018. Mas a tolerância dos brasileiros também tem limite.
A normalidade de faz de conta vai acabar se Lula não for autorizado a disputar a presidência. O golpe das eleições sem Lula não será recebido com a mesma passividade demonstrada até o presente momento. A reação violenta dos eleitores de Lula à exclusão dele da disputa é previsível e será inevitavelmente considerada justa pelos petistas. Com muito pouca legitimidade o novo desgoverno neoliberal que for eleito será obrigado a enfrentar uma verdadeira revolta civil que tem tudo para piorar o quadro de fuga de investimentos, prejuízos insuportáveis, redução de arrecadação tributária, desemprego e estagnação econômica que foram produzidas deliberadamente pelo usurpador Michel Temer.
A democracia deve igualar os eleitores de Lula aos demais eleitores (refiro-me obviamente à minoria abastada que assaltou o Estado e está lucrando com o empobrecimento do país). Com tantos juízes, Tribunais, promotores e MPs a maioria dos brasileiros está cansada de não desfrutar direito algum diante de policiais que desde o golpe de 2016 agem de maneira cada vez mais violenta nas periferias das maltratadas cidades brasileiras. Os PMs só são educados, prestativos e humanos quando fazem ronda nos bairros nobres. A igualdade perante a Lei prescrita na CF/88 parece até o início convencional de uma fábula medieval. Era uma vez num país muito, muito distante... eternamente mantido à distância da maioria de sua população por aqueles que odeiam a igualdade eleitoral garantida pelo regime democrático.
A paz civil abre caminho para o sucesso econômico. Ninguém vai pacificar o Brasil excluindo Lula da disputa. Quem quiser vencê-lo nas eleições terá que oferecer ao povo brasileiro mais do que o PT fez desde 2002. Menos que isso será obviamente rejeitado pelos eleitores.
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