quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Canadense e executiva: a verdadeira história da ‘brasileira negra e pobre’ no vídeo da campanha de Bolsonaro


Mulher que aparece em vídeo ligado a Bolsonaro é canadense e atualmente trabalha como executiva de multinacional. Foto: Reprodução
De Ricardo Senra na BBC Brasil.

A mulher descrita como “negra e de família pobre” em um vídeo favorável ao candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) é na verdade canadense e trabalha como executiva na coordenação financeira de uma multinacional.

O vídeo causou polêmica na última terça-feira. A campanha do candidato diz não ter relação direta com o material e que ele foi produzido por um apoiador.

Filho do presidenciável, o deputado federal Eduardo Bolsonaro publicou o vídeo em seu perfil no Twitter e divulgou a página dos autores para mais de 500 mil seguidores.

A mulher retratada mora em Toronto e gravou o material em 2011, junto a uma série de outros filmes produzidos por um diretor também canadense especializado em criar conteúdo para bancos de imagens.

A ex-atriz tem origem etíope e um perfil bastante diferente daquele descrito na narração usada junto à sua imagem no vídeo.

“Sim, sou mulher negra e vinda de família pobre. Mas não passei procuração para que ninguém fale em meu nome. Há muitos (anos) me libertei do vitimismo que ainda insistem em me colocar nos ombros”, diz a narração do vídeo.

“Meu voto é Bolsonaro”, continua o texto do vídeo

Junto a um link para o vídeo, Eduardo Bolsonaro escreveu no Twitter: “Somente a verdade nos liberta. Quem pede tudo ao Estado, tudo lhe é retirado, inclusive a liberdade”.

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A BBC News Brasil localizou o autor do filme, que diz nunca ter passado por situação semelhante em seus 11 anos de carreira.

“É bastante triste. Eu sou completamente contra qualquer politica de divisão, de ódio. Me sinto mal e sinto que fui roubado”, diz Robert Howard por telefone, durante temporada de férias em Paris.

“E não me parece muito patriótico usar as imagens de uma estrangeira, sem prévia autorização, em um vídeo que supostamente fala pelas mulheres negras brasileiras”, continua Howard, que se descreve como “um cara moderado, liberal, opositor de qualquer extremismo”.

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A advogada Karina Kufa disse à BBC News Brasil que “não há qualquer ilegalidade no vídeo do ponto de vista eleitoral” e que “nada respinga na campanha”.

“Este foi um vídeo de um apoiador que o Eduardo gostou e republicou. A gente não consegue nem rastrear o autor. Tecnicamente, da parte da campanha, não há nenhum questionamento quanto à produção. O apoiador, sob o ponto de vista eleitoral, pode produzir materiais com favorecimento a determinada campanha”, diz.

“Qualquer pessoa, inclusive o candidato, pode publicar o que gosta”, continua Kufa.

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