
A imprensa está perdida. Ela não consegue criar o clima "de festa" para a posse presidencial. Chega a comover o desalento narrativo.
O clima é de medo generalizado. Medo da cerimônia em si e medo do que vem depois.
A produção de mentira, que fique bem claro, depende em grande medida do que se tem de verdade disponível. É impossível falar em otimismo, mesmo dissimulado, quando o grupo que chega ao poder quer refundar o país em bases suicidas de anti-comunismo charlatão.
Otimismo, só em pesquisa, que verifica, em grande medida, a saturação da população em opinar "de novo" sobre os mesmos políticos de sempre, que prometem e não cumprem.
Criou-se um jogo entre instituto de pesquisa, população e cena político-econômica muito parecido com o que acontece no ensino básico: professor finge que ensina e aluno finge que aprende.
Toda essa encenação, pasmem, acaba por se efetivar no horizonte concreto da realidade: a gente vive o universo paralelo das bestas que se negam a encarar a realidade social do país (imprensa, bolsonarismo e economismo - que é também charlatão).
O PT produziu um choque de realidade - por isso, realizou tanto. O problema, parceiro, é que lidar com a realidade dá trabalho. A elite e sua irmã 'boçalidade pequeno burguesa' incrustada na classe trabalhadora que acha que é média, não são só escravocratas, violentas e burras: elas são também preguiçosas.
De sorte que a porção podre do Brasil se encontra finalmente consigo mesma nessa posse demoníaca que recebe o bastão presidencial de um satanista-golpista.
Nem Romam Polanski daria conta de um roteiro desses.
São linchadores em catarse, prontos para a contradição ambulante que é ter a obrigação semântica de "celebrar" alguma coisa.
O bolsonarismo - uma espécie de racismo subdesenvolvido - não celebra, porque o sentido de 'celebrar' se avizinha aos sentidos de solidariedade e amor.
As palavras 'solidariedade' e 'amor' "queimam" se pronunciadas em meio a bolsonaristas. É como mostrar um crucifixo a um vampiro ou expô-lo ao sol.
Tem a água benta também.
Brasil, ame-o ou mate-o. Esse é o lema do fundamentalismo grotesco que chega ao poder e produz uma espécie de des-celebração da democracia.
A rigor, a posse de um grupo de linchadores enseja cuidados. Estar em um lugar em que o público é violento, a segurança é violenta, os visitantes são violentos e o suposto protagonista é violento, pode fazer o mais cético dos céticos a aceitar a tese de que se trata de um evento com "risco extremo" para a vida das pessoas.
Risco imediato e histórico.
A agenda regressiva que já se instalou no Brasil e que vê seu aprofundamento radical - aguardem o dia 2 de janeiro para já sentirem o que vem por aí - é cianeto de hidrogênio: veio para matar.
A ascensão desse nazismo subdesenvolvido e avacalhado faz lembrar aqueles controles espontâneos e apocalípticos de superpopulações: na falta de uma doença biológica para exterminar indivíduos em massa, a natureza do discurso produz uma doença política para fazer o serviço.
Extermine-se, metralhe-se e libere-se as ferramentas letais de violência. Em 2 anos, talvez, o Brasil volte à casa da centena de milhões de habitantes.
A ideia de um governo Bolsonaro é meio "Planeta dos Macacos". Daqui a alguns séculos, poder-se-á andar em Copacabana e encontrar a mão do Cristo soterrada na areia.
Tal é o nível de desumanidade e anti-civilização deste holocausto surgido das cinzas do ódio, do ressentimento, da desinteligência e das pulsões suicidas.
Contra tudo isso, devo dizer com todas as letras e sons: a luta só começou.
E lutas difíceis assim são as lutas boas de se lutar. Desafios fáceis são para os fracos.
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