
Por André Araújo
O caso Ghosn e o Brasil
Carlos Ghosn é o executivo brasileiro de maior relevância mundial. Dirão os céticos “ah, ele não é mais brasileiro, fez carreira na França”. Negativo, Ghosn, nascido nos confins da Amazônia é brasileiríssimo e tem solidas raízes no Brasil, sua mãe mora no Rio de Janeiro e ele tem residência e laços no país onde nasceu. Na França, fez sua impressionante carreira, depois projetada no Japão, mas ele também trabalhou dez anos no Brasil como principal executivo da fábrica de pneus Michelin, onde iniciou sua vitoriosa carreira.
Ghosn foi preso no Japão em função de um GOLPE CORPORATIVO, claro, para tirá-lo do comando da NISSAN, empresa que ele salvou da falência e transformou na montadora de automóveis mais lucrativa do planeta. Criou uma aliança ente RENAULT, NISSAN e MITSUBISHI que se tornou o MAIOR GRUPO AUTOMOTIVO DO MUNDO em número de automóveis produzidos, superando Toyota e Volkswagen. Porque foi um GOLPE CORPORATIVO?
1. Quem o denunciou à Justiça japonesa foi o executivo que ELE INDICOU como Presidente da Nissan, uma traição pessoal. A denúncia baseou-se em dois itens: SONEGANÇAO FISCAL sobre honorários recebidos da Nissan e uso de MORDOMIAS pagas pela Nissan, especialmente a compra de um apartamento no Rio de Janeiro, que pertence à Nissan, mas era usado por Ghosn quando vinha ao Brasil, onde a Nissan tem filial. Portanto, a Nissan tinha uma base brasileira, não era para turismo.
2. O fisco japonês é o mais eficiente do mundo, acham uma formiga em um monte de palha, como Ghosn poderia receber salários sem declarar e sem que a Receita japonesa percebesse isso de uma companhia enorme, de capital aberto, com auditoria internacional? Como isso é possível em grandes corporações?
A acusação de Ghosn ter recebido 40 milhões de dólares não declarados é surreal. Mega corporações como a Nissan são fiscalizadas online pelas Receitas, não é crível uma saída de caixa nessas proporções possa ser considerada “não declarada”. É uma história, obviamente, mal contada do começo ao fim, sabe-se apenas a versão dos acusadores que tem interesse em se livrar de Ghosn.
3. Mordomias, como um apartamento comprado pela Nissan no Rio de Janeiro, são formas absolutamente corriqueiras em grandes empresas, a legalidade é saber se QUEM AUTORIZOU TINHA PODERES PARA AUTORIZAR, o questionamento se dá pelos orgãos de controle da empresa, inclusive e especialmente pelo Conselho de Administração, pode ser certo ou errado do ponto de vista da empresa, mas não é um crime, ele poderia até ser demitido pelo abuso mas não justifica uma prisão. Já fiz parte de Conselho de Administração de grandes empresas e sei como se observa beneficio do CEO, é um dos itens mais debatidos nas reuniões, não passa batido, um dispêndio desse tipo TEM QUE SER APROVADO em Conselho de companhia aberta, é básico.
A narrativa dessa prisão não fecha. O caso foi detonado pela empresa contra Ghosn, não partiu do Ministério Público ou da Receita Fiscal japonesa, como seria lógico, como é possível um executivo de uma gigantesca empresa multinacional que tem Conselho, auditoria interna, compliance, auditoria externa pagar milhões de dólares não autorizados a si mesmo?
Essa alegação não tem credibilidade, um cheque precisa ser processado e assinado pelo setor financeiro, onde há executivos responsáveis. Segundo a denuncia Ghosn recebeu em excesso há muitos anos, NINGUÉM PERCEBEU? É ridículo, isso não existe.
A FUSÃO RENAULT NISSAN
Ghosn estava preparando a etapa final de seu projeto, a fusão da Renault com a Nissan e isso desagradava alguns executivos japoneses da Nissan. Para barrar esse projeto resolveram derrubar Ghosn através de uma prisão espetacular, que resultará fatalmente numa pena de no mínimo 10 anos de prisão. O sistema jurídico japonês é considerado medieval, a defesa tem enorme dificuldades, em 99% dos casos a condenação é certa. A estratégia foi necessária porque Ghosn tinha tal prestígio mundial que sua simples demissão seria insuficiente, era preciso destruí-lo como profissional. Foi um golpe de extraordinária crueldade.
Para se ter uma ideia do prestígio de Ghosn, no ultimo Fórum Econômico Mundial em Davos no ano passado ele foi um dos principais palestrantes sobre os rumos da economia mundial.
O PAPEL DO BRASIL
Se o presidente da Toyota fosse preso no Brasil por algum problema fiscal, o Governo do Japão de imediato protestaria. É algo que todo Governo tem obrigação de fazer. O Governo brasileiro protestou fortemente quando um brasileiro foi preso e depois executado por tráfico de drogas na Indonésia, todo governo tenta defender seus nacionais presos no exterior, não importa o motivo, é uma questão de interesse de Estado cuja primeira função é proteger seu cidadão.
Ghosn tem passaporte brasileiro, é brasileiro nato, o Governo do Brasil tem OBRIGAÇÃO moral e protocolar de tentar defendê-lo, é parte do jogo diplomático. Ainda por ironia e coincidência o Presidente do Brasil tem sangue libanês dos quatro lados, assim como Ghosn é um brasileiro de pais libaneses, mais uma razão, ambos são brasileiros de primeira geração da mesma origem étnica e cultural. Desconheço qualquer “démarche” diplomática do Itamaraty em beneficio de Ghosn, é algo que qualquer grande País faz em defesa de seus nacionais de qualquer nível, mas no caso de uma personalidade como Ghosn e ainda mais justificável. Reafirmo que desconheço esse movimento, se houve ninguém soube, mas caberia inclusive uma manifestação diplomática do mais alto nível em beneficio de um brasileiro preso pelo que parece ser uma TRAMA indefensável, afinal Ghosn salvou uma da maiores empresas do Japão que estava a beira da falência, salvou milhares de empregos, salvou uma marca que estava desmoralizada, isso nada conta, não é considerado atenuante pelos japoneses?
Fico pensando se fosse um cidadão americano no mesmo caso, o Departamento de Estado moveria céus e terra para defendê-lo, como fizeram com os pilotos do Legacy que levaram a morte 186 brasileiros e que não ficaram um dia presos no Brasil, seu País os protegeu.
Há alguns anos um playboy americano de 19 anos fez uma baderna em uma boate em Florianópolis, quebrou a casa, foi preso. Dez horas depois um Vice Consul dos EUA em São Paulo estava em Florianópolis para libertar o jovem, que não era nada especial, apenas um cidadão americano comum, bêbado e arruaceiro, mas seu Consulado correu atrás .
Com a presença do Vice Consul o jovem foi libertado, nem sei se foi processado.
Assim procedem países que se dão ao respeito quando um de seus cidadãos é preso no exterior, a Embaixada do Brasil em Tóquio deu algum telefonema?
A propósito do caso Ghosn, a notícia teve REPERCUSSÃO MUNDIAL e Ghosn foi apresentado nos noticiários como EXECUTIVO BRASILEIRO preso no Japão. E o Brasil, não tem nada a dizer?
O caso Ghosn é parte de um ciclo mundial de Inquisição contra quem faz e produz por parte de quem nada produz, só fica olhando o que outros fazem para depois achar defeito. Onde estavam os procuradores japoneses quando a Nissan afundava? Não havia entre eles nenhuma inteligência superior, um espírito aventureiro no bom sentido para colocar a mão na massa, apta a correr os riscos e o trabalho de salvar a Nissan? Apontar erros nos outros é uma tarefa mais fácil, muito mais fácil, do que construir e realizar obras concretas. Não havia no Japão nenhum cérebro para ver os erros da Nissan, precisaram importar um brasileiro-franco-libanês? Olha que o Japão tem muita gente preparada, mas ninguém se propôs a salvar a Nissan, cadê a coragem? Depois de feito, falar é fácil, difícil é fazer e acontecer.
Depois que ele salvou a Nissan, Ghosn virou bandido, sinal de nossos tempos destrutivos.
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