
Nonato Menezes - Uma fechada no nosso trânsito caótico das grandes cidades é quase banalidade. Seja pelo stress, por descuido ou porque o outro veículo encontra-se perdido no ponto morto dos retrovisores. Quem não deu ou levou uma fechada, sem a menor intenção, ao dirigir em nossas ruas? Até os profissionais do volante fecham e são fechados.
Nos bares, nas praias, em lugares e eventos similares quem enche a cara não é pobre. Não é quem mora nas favelas, ganha salário mínimo, vive de bicos ou não tem o almoço garantido todos os dias. Esses lugares e eventos são frequentados por quem tem o que gastar. É quem toma Cachaça da boa, paga Vodka, Uísque ou outra bebida de preço médio para cima, sem pechinchar, ou aquele que tenta sufocar as amarguras com várias garrafas de cerveja.
O ódio, tão aflorado nos dias de hoje, não vem de quem labuta pela sobrevivência. Não habita os corações e mentes de quem está preocupado com as carências básicas do dia-a-dia. Ódio não é, geralmente, sentimento de pobre. No tempo que pobre passa lutando pela vida não há disposição para lidar com arrogância e ódio.
Fechar ou ser fechado no trânsito, encher a cara em ambientes e eventos por quem tem o que gastar e cultuar o ódio da maneira como tem sito nesses últimos anos, majoritariamente, tem sido assunto da classe média. É ocupação e envolvimento de quem tem suas necessidades materiais básicas satisfeitas, daquele que adquire, para um momento só, uma camisa verde e amarela e tem tempo para sair por aí se mostrando branco, bem alimentado e, aos urros, professando seu credo e querendo impor sua verdade.
São esses momentos, típicos da classe média, portanto, que são potencialmente passiveis de atitudes violentas, com mortes, inclusive. Sendo a maioria por arma de fogo, hoje com a aquisição e porte legalizados e irresponsavelmente incentivados pela milícia que está no poder.
Aquisição de uma até quatro armas por pessoa ao custo de R$ 2.000,00 para acima, por unidade, só mesmo para a classe média. A classe que tem carro, dinheiro para encher a cara sem fazer falta, e carrega na alma ódio e arrogância que serve de combustível e ânimo para matar, morrer, ferir ou ser ferido.
É assim, por negligenciar as prioridades, que o fascismo lidar com a vida e a morte. Para os fascistas não há pessoas com fome, sem emprego, sem moradia, sem saneamento, sem atendimento adequando à saúde, sem educação, mas sobram inimigos. E não são os pobres os inimigos, pois eles estão aí há séculos. Inimigos da hora são os que transitam sobre rodas, os que podem gastar sem comprometer o almoço e os que odeiam com a mesma facilidade que terão para apertar o gatilho.
Não nos enganemos, porque o destino das armas liberadas é a classe média. É ela quem vai se matar, para deleite da indústria de armas dos EUA.
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