Ernesto Araújo | Foto: Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Tarso Genro (*)
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Ernesto Araujo não é um ingênuo. É um esperto que usa técnicas fascistas para disputar o que pensa serem seus espaços no brilhante Governo Bolsonaro. Depois da desmoralização completa dos historiadores revisionistas, que negavam os campos de concentração dos nazis e que, no final do século passado, foram completamente desmoralizados na academia, nos meios políticos, nas instituições dos Estados e na pesquisa independente – com estudos que re-comprovaram as matanças em massa
O Ministro Ernesto, todavia, fala para um determinado público: os que precisam – não de uma reflexão – mas de argumento simples, um comando direto – quase animal – para manter-se na escalada do ódio e sair da irrelevância política a que ele foi jogado pela sua própria pobreza moral e intelectual. Para entender seu quadro mental e psíquico temos que lembrar as falas de seu Chefe pedindo a morte dos seus adversários e a imputação de “traição” feita pelos fascistas contra quem, pela esquerda, defendia e defende políticas socialdemocratas ou socialistas, sob assédio do ódio regado pelos nazifascistas em todo o globo.
O republicanismo tosco e falso do seu líder mal balbucia argumentos sem nenhum respeito por qualquer protocolo democrático, como foi, aliás, esta sua esperta manifestação de primitivismo político. O Ministro Ernesto Araujo quer dizer, com este anátema contra a esquerda – na verdade – que o nazismo e o fascismo não são iguais a ele, Ernesto, mas são iguais àqueles que o seu Chefe gostaria de ver mortos, como este declarou em várias oportunidades.
O Ministro Ernesto Araujo, integrante do primeiro Governo que deprecia expressa e formalmente as políticas de direitos humanos, subordinado a um Presidente que já elogiou publicamente a atividade miliciana e defendeu, publicamente, a tortura e o assassinato de 30 mil, inverte – com esta sua fala – a pauta política mais potente do Governo Bolsonaro: outorga aqueles que o seu Governante-Chefe gostaria de eliminar o seu próprio desejo mórbido de matar, bloqueado pelas instituições do Estado de Direito que nos resta!
Nenhum chefe político ou militar com grau de comando superior fez afirmações como aquelas do Presidente Bolsonaro, na nossa história republicana. Elas é que orientam o atual ministro e nenhum ministro da nossa República nos colocou num ridículo tão atroz e numa irrelevância tão grande como esta, em qualquer pasta que tivesse alguma interface internacional.
Intelectuais de todos os campos do pensamento democrático, professores, políticos, artistas, cientistas de toda a terra, estão perplexos com o que ocorre no Brasil. De todas as áreas do pensamento diplomático brasileiro, que teve quadros como Azeredo da Silveira, Rui Azambuja, Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, Celso Amorim – de direita, centro, centro-esquerda – vem um lancinante sopro de vergonha.
O que responderia, o Ministro Ernesto, se lhe fizessem uma pergunta depois que ele lesse este parágrafo
do livro de Ingo Müller, no qual o autor discorre sobre “Os Juristas do Horror” (Libreria Jurídica,Bogotá, 2009):
“Sob o chamado da famosa observação de Goebbels, – pela a qual a tarefa do nacional-socialismo seria apagar o ano de 1789 da história alemã – os juristas iniciaram uma polêmica contra os direitos humanos, (contra) as garantias dos direitos individuais frente ao direito do estado, (contra) as limitações
do poder estatal e (contra) restrições ao direito do Estado de impor penas.”
A pergunta seria: “como explicar que o nazismo é de esquerda, se ele arremeteu contra a Revolução Francesa?” Só poderiam ser dadas duas respostas racionais, pelas deduções históricas já mundialmente clássicas do Ministro Ernesto : “o nazismo não arremeteu contra a Revolução Francesa”, o que seria
simplesmente uma mentira; ou, “o nazismo, como esquerda que é, arremeteu contra a Revolução
Francesa, que foi de direita”, o que seria apenas mais uma imbecilidade.
Na verdade o Ministro poderia dizer qualquer coisa, porque a sua política não precisa de fundamentação, como a lógica do fascismo, pela qual a “ação enterrou a filosofia”. E o seu Governo não precisa pedir desculpas a ninguém para perdurar, mas apenas fazer a reforma da previdência para manter a mesma mídia, que articulou o “impeachment” de Dilma, com tolerância e equilíbrio – afinal Bolsonaro era igual a Haddad – até o final do seu mandato.
(*) Tarso Genro foi Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeito de Porto Alegre, Ministro da Justiça, Ministro da Educação e Ministro das Relações Institucionais do Brasil.
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