quarta-feira, 29 de maio de 2019

Bipolaridade, por Izaías Almada

Ansiosos, procuramos escapar do prejuízo que nos causaram as eleições do ano passado. E nessa corrida surgem os primeiros sintomas da bipolaridade



Bipolaridade

por Izaías Almada

Caro leitor, a procura diária por notícias sobre a atual situação econômica, política e social do Brasil pode ocasionar o fenômeno da bipolaridade, transtorno mental que leva a cada um de nós termos momentos de esperança ou desânimo consoante as mudanças do quadro de penúria em que o país se meteu ao eleger de maneira irresponsável, mesmo que democrática, “ma non troppo”, alguém que estivesse minimamente preparado para o cargo de presidente da república.

Se essa bipolaridade, entretanto, não chegar aos casos extremos de excitação ou depressão, então não se alarme. A política é parcialmente causadora de tal fenômeno.

Freud e Charcot ainda não haviam surgido nos finais do século XIX com seus estudos sobre a mente humana e Sócrates foi obrigado a beber cicuta na Grécia antiga. Nero botou fogo em Roma antes de se imolar. E não estou fazendo piada.

O que fazer quando tomamos conhecimento das notícias e das análises diárias dos “grandes” órgãos de informação da mídia brasileira e mesmo internacional? São jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão sem um pingo de vergonha na cara. Acendem velas a Deus e ao Diabo, desde que seus interesses e de seus grandes anunciantes sejam preservados e o neoliberalismo econômico seja mantido a ferro e fogo.

Na contrapartida da imprensa calhorda procuramos por algumas tábuas de salvação, como algumas TVs e rádios comunitárias e os blogues progressistas que procuram levar o jornalismo ainda a sério.

Ansiosos, procuramos escapar do prejuízo que nos causaram as eleições do ano passado. E nessa corrida surgem os primeiros sintomas da bipolaridade onde, num dia ficamos sabendo do significado e da extensão do movimento do dia 15 de maio último e uma semana depois, o ex-presidente Lula exorta os seus partidários e seguidores que evitem a campanha do “impeachment já” para a derrubada do Napoleão de hospício. Esperança e desanimo.

Já sei, já sei: o exemplo não é bom, pois Lula é um grande estrategista político e sabe o que está falando. Não tenho porque duvidar da capacidade política do ex-presidente, mas vamos esperar o Jair Messias cair de podre? Quando? Nas próximas semanas? No final do ano? Em 2020? Ao completar seu mandato?

A novíssima democracia brasileira começou a fazer água com o golpe de 2016, deixando vir ao de cima o lado podre do nosso esgoto institucional. A tampa do bueiro levantou e ninguém conseguiu fechá-la. Ao seu redor o cheiro é insuportável a cada dia que passa.

A confusão é geral, mesmo daqueles que tentam explicar da melhor maneira possível aquilo que vai ficando inexplicável. Momento em que, não é incomum, vermos um analista substituir a realidade por um desejo, o objetivo pelo subjetivo.

No caso em questão, o dia a dia da política brasileira, a confusão beneficia a extrema direita. As chamadas “fake news” beneficiam a extrema direita com a entronização da mentira na informação diária, deixando em dúvida centenas de milhares de cidadãos, cuja formação política – na falta de um pensamento crítico minimamente organizado e consistente – sucumbe ao canto da sereia do capital e do mercado financeiro e seus cãezinhos amestrados espalhados pela mídia.

O capitalismo entrou em fase terminal e ainda vai causar grandes estragos mundo afora. Quem viver verá. Nessa caminhada teremos que encontrar os remédios que nos ajudarão a enfrentar a bipolaridade da informação entre o medo e a esperança.

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