quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

A GLOBO NÃO FALA PELO BRASIL - II

2. "O Globo foi contra a criação da Petrobras"  
Por Fernando Morais, em seu Facebook


Nonato Menezes

O Globo, fundado em 1925, foi o embrião das Organizações Globo. De lá, com seus quase cem anos de existência, a marca Globo nunca inseriu em suas pautas a defesa da Democracia. Jamais advogou pelo Estado de Direito. E pior, os interesses nacionais sequer fizeram, nem fazem, até hoje, parte de suas estratégias de poder e acumulação de riquezas. Em outras palavras, de 1925 até hoje, a Globo nunca falou pelo Brasil. Quando não se manifesta explicitamente contra os interesses da Nação, ela silencia. E assim tem sido em toda sua História. 

Esta série demonstrará, ponto a ponto, como a Famíglia Marinho, uma das mais ricas do Brasil, vem desdenhando da Nação, enriquecendo mais e mais às custas do povo, em troca de seus interesses, de nações e corporações estrangeiras. 


A Globo tem sido a expressão acabada da Casa Grande do Engenho Escravocrata, que não tem o escravo para esfolar, mas tem parte considerável da população para iludir e desinformar. Para isso, jamais recusou métodos criminosos para manter seu poder, notadamente em apoiar golpes de Estado, ditaduras sanguinárias, destruir reputações, proteger criminosos de colarinho branco nacionais e internacionais e sonegar impostos. 

Siga a Globo e descubra como roubar uma Nação.

Nonato Menezes

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‘Tribuna da Imprensa’, Lacerda e as críticas à Petrobras

Por Aloysio Castelo de Carvalho

Na resenha intitulada “Imprensa e política num jornal nascido para provocar polêmica“, publicada no jornal Valor Econômico (16/7/2013), o jornalista Matías M. Molina apresentou o livro O Caso Última Hora e o cerco da imprensa ao governo Vargas, de minha autoria, e levantou algumas questões. Uma delas seria em relação às posições dos jornais O Globo, O Jornal e Tribuna da Imprensa diante da polêmica em torno da criação da Petrobras durante o governo Vargas. Diz o jornalista:

“A respeito da criação da Petrobras, tanto O Globo como O Jornal se manifestaram contra o monopólio estatal. Mas, diferentemente do que diz o autor, a Tribuna da Imprensa não apenas não se opôs ao monopólio estatal como o defendeu desde o começo. No mesmo mês, dezembro de 1951, em que o governo divulgou o projeto inicial, que previa a participação do governo estrangeiro na Petrobras, o jornal escreveu que isso significava entregar ‘aos ‘trustes’ o controle da indústria sem risco nem despesa’. Foi o primeiro de vários artigos da Tribuna, alguns escritos por Lacerda, a favor do monopólio.”

A criação da Petrobras foi uma das principais bandeiras do governo Vargas. Foi o assunto que mais mobilizou a opinião pública e contou com a intensa participação de grupos nacionalistas de esquerda. Iniciada a partir de 1947, a Campanha do Petróleo adquiriu maior intensidade e importância após a volta de Vargas ao poder. Conciliando a participação estatal e os interesses privados, Vargas enviou ao Congresso, em dezembro de 1951, um projeto de lei para a criação da Petrobras, cujo capital seria misto e com o governo controlando a maioria das ações.

“Contradição flagrante”

Enquanto os aliados de Vargas, defensores do monopólio estatal, criticaram no projeto a participação do capital privado e a possibilidade de penetração dos grupos econômicos monopolistas de natureza estrangeira, a UDN, caracterizada por suas posições liberais, assumiu nessa questão uma nova identidade. Quando se iniciaram os debates sobre o projeto na Câmara, em junho de 1952, o deputado Bilac Pinto, da UDN defendeu a “instituição do monopólio do Estado para a pesquisa, a lavra, a refinação e o transporte do petróleo, por navios e condutos” e propôs a constituição de uma empresa estatal que tivesse “a mesma flexibilidade das empresas privadas, para executar aquele programa”. Diante de um assunto que vinha alcançando grande repercussão na opinião pública, a UDN vislumbrou um só caminho para se firmar no papel de oposição: submeter-se ao campo ideológico nacionalista apoiando uma proposição à esquerda que ocupasse o espaço deixado pelo projeto governamental. Além de pretender responder às demandas dos que associavam a questão do Petróleo à soberania nacional, A UDN, representada pelo deputado Bilac Pinto, cobrou do presidente fidelidade com relação ao seu programa de governo. Denunciou que o “Presidente da República, durante campanha política, sustentou a tese que conta com o apoio da opinião pública brasileira e, uma vez, eleito, mudou sua posição a respeito do problema do petróleo. “Essa evolução, sim, é da maior gravidade” (COHN, Gabriel. Petróleo e nacionalismo. SP, Difel, 1968.). Dessa forma, o deputado também rebateu as críticas à nova posição da UDN veiculadas pela imprensa antigetulista, como a Tribuna da Imprensa, O Jornal e O Globo. De acordo com Bilac Pinto, a UDN não teria traído seu passado liberal. O fato de o programa do partido não ser explícito quanto à questão do capital estrangeiro deixaria o campo livre para deliberação.

Que tipos de críticas O Globo, O Jornal e a Tribuna da Imprensa divulgaram sobre a UDN no âmbito do debate sobre a criação da Petrobras?

O Globo não concordou com a posição tomada pela UDN nos debates em torno do projeto da Petrobras. O jornal perguntou por que a UDN se unia ao que denominava de inimigos da iniciativa privada em favor do monopólio. Considerava essa posição uma “contradição tão flagrante” no pensamento do partido, cujos intelectuais no Congresso “têm representado o espírito legalista, o sentido de severidade na vida pública, o predomínio do jurídico sobre o econômico, do doutrinário sobre o pragmático, do liberalismo sobre o dirigismo” (“O petróleo e as falsas injunções da popularidade”. RJ, O Globo, 8 de maio de 1952).

“Banda de Música” e os “Chapas Brancas”

Na mesma linha editorial seguiu O Jornal. Para Assis Chateaubriand, a UDN vivia uma crise de identidade, uma vez que seu propósito era imitar Vargas quanto ao conteúdo das suas propostas políticas e o seu modo de relacionamento com as massas, numa disputa para “ver quem cede mais ao outro no terreno da paixão popular”. Ele nota que desde 1951 a UDN não tem bandeira. “Sua bandeira é a do sr. Getúlio Vargas.” Observa ainda que os condutores do partido assumiram “que o melhor caminho para entrar em competição com o sr. Getúlio Vargas é tirar-lhe algumas beiradas e entrar no mesmo terreno da conquista das massas com as teses nacionalistas.” Cita o caso do projeto da Petrobras e sustenta que a UDN “adotou o estilo da extrema esquerda, dominada pela ambição de ganhar popularidade”. O partido, argumenta o artigo, pratica “política de demagogia, política de esquerdismo”, afastando-se do seu papel, de sua missão, do seu destino de “partido de média burguesia”, cuja função “deveria ser antes educativa”. (CHATEAUBRIAND, Assis. Navegando com a bússola soviética. RJ, O Jornal, 22 de novembro de 1952)

Desde os primeiros dias do governo Vargas, a Tribuna da Imprensa apresentou críticas à UDN, mais ao modo de ação do partido de oposição.

Nos textos da Tribuna da Imprensa, os partidos são representados por meio de um discurso que ressalta sua falta de credibilidade, a começar pela UDN, contra a qual o jornal apontava erros táticos e de composições, além de omissões, vazio ideológico e indefinições políticas (LACERDA, Carlos. A função nacional da oposição. RJ, Tribuna da Imprensa, 24 de janeiro de 1951). O apoio dado pela UDN ao governo Vargas é visto como colaboracionismo, na medida em que proporcionaria a maioria e a base legalpara a instauração do que classifica de ditadura constitucional. Ao classificar de colaboracionista a atuação da UDN, a Tribuna da Imprensa conferia uma conotação negativa ao seu papel de oposição. Há, portanto, um apelo para que a UDN se negue a cooperar diretamente com o governo. É preciso notar que o governo Vargas buscou no plano institucional implementar uma política de cooptação e neutralização da oposição, como revela a composição do seu primeiro gabinete ministerial, que incluiu representantes do PSD, PTB e a própria UDN. A atitude do governo refletiu-se no interior da UDN, de onde emergiam duas posições em disputa pela direção do partido. De um lado, o grupo denominado “Banda de Música”, caracterizado por uma atuação mais autônoma, e de outro os “Chapas Brancas”, considerados adesistas, mais dispostos a uma aproximação com o governo. A Tribuna da Imprensa fazia críticas aos “Chapas Brancas” fundamentada na ideia de que a política de adesão ao governo, ampliando sua base parlamentar, proporcionaria maiores condições de uma subversão da ordem republicana, pela ausência de vigilância, de crítica e, sobretudo, pela impossibilidade de se proceder a uma legítima e necessária divisão das forças políticas do país, considerada fator determinante para a existência do sistema democrático (LACERDA, Carlos. “A pátria e os ‘chapa branca’.” RJ, Tribuna da Imprensa, 22 de julho de 1952).

Um engodo, uma mentira

Após o envio do projeto governamental de petróleo ao Congresso, quando a UDN deu os primeiros passos para um novo posicionamento, o jornal prosseguiu com as críticas ao partido. No âmbito do debate sobre o projeto da Petrobras, a Tribuna da Imprensa publicou artigo intitulado “Balanço do ano político” de 31 de dezembro de 1951, no qual Carlos Lacerda reiterou sua visão sobre a UDN:

“Da UDN o que existe é uma bancada parlamentar, pois no mais esse partido de questões sistematicamente abertas não tem existência real…”

As críticas estão de acordo com os ataques ao projeto governamental de capital misto manifestados nos artigos de Carlos Lacerda. A Tribuna da Imprensa e Carlos Lacerda imaginavam uma UDN mais combativa, em confronto com o governo. As críticas do jornal à UDN são um claro indicador não só de que o partido ainda vivia o dilema da indefinição diante do projeto do petróleo, mas, sobretudo, sinaliza para a liderança do jornal no posicionamento de oposição, com o intuito de pressionar nessa questão o partido para o confronto com Vargas.

Logo após a divulgação do projeto governamental, nos primeiros momentos na polêmica em torno da criação da Petrobras, os artigos de Carlos Lacerda procuraram estabelecer uma ponte entre a posição política adotada pela Tribuna da Imprensa e o programa doutrinário dos representantes liberais. A posição política se manifestou nos ataques ao projeto governamental do petróleo que aparecem associados às denúncias do capital estrangeiro. O objetivo era desmistificar o nacionalismo de Vargas e deslegitimar o governo. O projeto governamental era visto pelo jornal como uma traição do governo ao público no sentido de que conflitava com a proposta divulgada durante a campanha do “Petróleo é nosso”, já que permitia a participação do capital estrangeiro sem risco financeiro. Dessa perspectiva, o projeto governamental era considerado um engodo, uma mentira, uma mistificação e foi tratado como um escândalo político, resultado de uma crise moral e traição aos valores que o próprio governo difundiu para se eleger e encaminhar os debates em torno da campanha para a criação da Petrobras (Lacerda, Carlos. “Fórmula Vargas: Petróleo para o truste com dinheiro do povo”, 7 de dezembro de 1951; Lacerda, Carlos. “O projeto híbrido do petróleo”, 12 de dezembro de 1951; Lacerda, Carlos. “Vargas responde a Rômulo”, 13 de dezembro de 1951).

“Medo farisaico”

Já a posição doutrinária se manifestou na permanência da defesa do capital estrangeiro. Ao mesmo tempo em que combateu o projeto governamental, associando-o às denúncias de que o petróleo brasileiro seria entregue “ao truste com dinheiro do povo”, Carlos Lacerda apresentou a defesa do capital estrangeiro:

“Mas éramos – e somos – a favor da participação do capital estrangeiro na pesquisa e exploração do petróleo no Brasil” (Lacerda, Carlos. “O projeto híbrido do petróleo”, 12 de dezembro de 1951).

Houve mais continuidade do que ruptura no posicionamento dos artigos de Lacerda. O posicionamento político continuou a ser o de confronto com o governo Vargas, acrescido, após a divulgação do projeto governamental, de um tom nacionalista, que deve ser entendido como uma ação política. No artigo intitulado “O projeto híbrido do petróleo”, de 12 de dezembro de 1951, Carlos Lacerda assume que o ataque ao projeto governamental é uma política de oposição.

“No entanto, só porque o projeto permite a pessoas jurídicas estrangeiras serem acionistas da companhia Vargas, dizemos, por espírito de oposição que ele abre a porta aos grupos estrangeiros da indústria petrolífera. Haverá incongruência nisto?”

De fato, os artigos argumentam que a proposta governamental significava entregar aos trustes o controle da indústria sem risco nem despesa. Ao mesmo tempo, Lacerda combateu o projeto governamental com o argumento de que a indústria petrolífera a ser criada no Brasil sofreria de escassez de capital estrangeiro. No artigo intitulado “Quanto mais cruzeiro mais dólar”, de 2-3 de fevereiro de 1952, o jornalista sustenta:

“Por isto é que a nosso ver o capital estrangeiro deve ser chamado a participar da indústria do petróleo. Em que condições é o que veremos no correr desse debate.

“Em vez de obter os dólares que se vão tornar indispensáveis para custear, nesses cinco anos, a formação da indústria do petróleo, o projeto Rômulo de Almeida prescinde dos dólares e pede às grandes organizações petrolíferas mundiais que participem com quatro milhões de cruzeiros no máximo.

“Estará convidando a Standard e a Shell para uma indústria do petróleo ou para uma quermesse?

“A puerilidade desse ardil… Nestes cinco anos, a indústria do petróleo, se vier, já vem bastante tarde. Estamos perdendo os melhores anos para a sua instalação. Somos ainda uma nação insuficientemente desenvolvida e carente de capitais para criar rapidamente uma indústria de tão grandes investimentos e riscos (na parte da pesquisa), e ao mesmo tempo já somos uma nação suficientemente progredida e apta a desprezar os temores de que nos engulam, o medo do bicho-papão, o pavor do imperialismo, que é, em grande parte, um medo farisaico e grotesco.

“No fundo, o projeto é uma impostura…”

Luz sobre a linha editorial

Como se observa, a denúncia dos “trustes” não significou o abandono da bandeira do capital estrangeiro. Ou seja, o tom nacionalista dos ataques ao projeto governamental não significou o abandono das posições doutrinárias. No artigo “Campanha nacional contra a demagogia”, de 26 de dezembro de 1951, Carlos Lacerda discute a presença da demagogia nos diversos campos da atividade social. A campanha do “Petróleo é nosso” é tratada como demagogia e considerada uma linguagem política que se opõe à verdade. O artigo vê na campanha do “Petróleo é nosso” uma campanha do empobrecimento, que se contrapõe ao caminho da prosperidade manifestada no artigo “Moral e Petróleo”, de Carlos Lacerda, publicado em 14 de novembro de 1951, poucos dias antes do projeto governamental ser enviado ao Congresso. Os dois artigos de Carlos Lacerda tem o mesmo significado. A articulação com o capital estrangeiro representa para o jornal o caminho da prosperidade em oposição ao isolamento econômico que levaria o país ao empobrecimento. O artigo “Moral e Petróleo” de Carlos Lacerda defende a articulação econômica internacional, a entrada de capitais estrangeiros para suprir a escassez do país e alerta que é legítimo a desconfiança em relação do capital estrangeiro:

“O medo ao ‘trust’ é, até certo ponto, legítimo se em vez de medo for prudência.”

A mesma visão sobre a relação do Estado com o capital estrangeiro seria reiterada no artigo já citado, intitulado “Projeto híbrido do Petróleo”, publicado em 12 de dezembro de 1951, quando a Tribuna da Imprensa deu publicidade às denúncias dos “trustes”:

“Quem como nós considera que o capital estrangeiro deve ser chamado a colaborar no desenvolvimento nacional (…) afirma a necessidade de uma política vigilante mas corajosa em relação a esses capitais.”

De dezembro de 1951, quando o governo enviou ao Congresso o projeto da Petrobras, até meados de 1952, quando a UDN se definiu a favor do monopólio estatal, a Tribuna da Imprensa publicou diversos artigos assinados por Carlos Lacerda, considerados por este trabalho a fonte principal da pesquisa já que o alinhamento dos jornais da época às posições político-ideológicas devia-se, mais do que hoje, às concepções de seus proprietários. Os artigos de Carlos Lacerda são significativos no sentido de que jogam luz sobre a linha editorial adotada e esclarecem o posicionamento da Tribuna da Imprensa na questão da criação da Petrobras.

Via de penetração do comunismo

Os artigos de Carlos Lacerda citados contêm as seguintes argumentações: 1) O projeto governamental é uma mistificação já que “permite ao capital estrangeiro participar sem risco financeiro, sem grandes investimentos e, sem responsabilidades, da indústria petrolífera nacional”. 2) O “projeto é uma impostura” já que “prescinde dos dólares e pede às grandes organizações petrolíferas mundiais que participem com quatro milhões de cruzeiros no máximo”. As duas argumentações foram empregadas para atacar o projeto governamental. Qual então o fundamento para se afirmar que a Tribuna da Imprensa defendeu o monopólio estatal do petróleo? Se o debate situa-se no campo da linguagem, da análise dos significados dos textos, onde se encontram os indícios de uma argumentação favorável ao monopólio estatal? O que vemos, ao contrário, é uma declaração de oposição ao projeto de monopólio estatal:

“Não sou pela fórmula ortodoxa do monopólio estatal” (Lacerda, Carlos. “O projeto híbrido do petróleo”, 12 de dezembro de 1951).

A declaração de Carlos Lacerda torna-se mais reveladora e ganha mais expressão como um ato de afirmação de suas concepções sobre o papel do Estado no desenvolvimento econômico quando o artigo apresenta uma apreciação negativa da proposta de monopólio estatal e o qualifica como a fórmula “a mais lenta, a mais precária”, em comparação com um projeto que aceitasse de fato a colaboração com capital estrangeiro, valorizado positivamente como a fórmula “a mais rápida e eficaz”.

“A posição… em que nos colocamos diante do projeto Rômulo é muito clara. Ou ele deveria cortar a cooperação estrangeira e ser coerente com a tese do monopólio de Estado, que é uma das formas, a mais lenta, a mais precária…ou deveria chamar essa cooperação abertamente, francamente, cercando de garantias o controle nacional e proporcionando a esse capital estrangeiro a participação em volume apreciável e com responsabilidade. Esta seria, digamos, a fórmula mais perigosa, mas a mais rápida e eficaz de se construir a indústria petrolífera no Brasil” (Lacerda, Carlos. “O projeto híbrido do petróleo”, 12 de dezembro 1951).

Não há evidências nos artigos escritos por Carlos Lacerda para se afirmar que houve a defesa do monopólio estatal, embora ele tenha combatido a proposta governamental de empresa com capital misto. Os artigos de Carlos Lacerda promoveram um ataque aos autores e aos diversos artigos do projeto governamental sem apresentar, no entanto, qualquer tipo de desdobramento, no sentido de desenvolver a proposição em defesa do monopólio estatal para a indústria do petróleo. Não há nos artigos de Carlos Lacerda uma narrativa favorável ao monopólio estatal, proposição no campo da política econômica dominada ideologicamente pelos setores de esquerda, alvo central do discurso da Tribuna da Imprensa que se dedicou junto com a UDN a denunciar que o estatismo era a via de penetração do comunismo.

Projeto solapado

Embora a imprensa fosse visivelmente partidária nos anos 50 e Carlos Lacerda desempenhasse um duplo papel, o de proprietário de jornal e liderança partidária, não houve um alinhamento entre a Tribuna da Imprensa e a UDN no sentido de que os dois atores fecharam o discurso em torno da defesa do monopólio estatal. Os artigos de Carlos Lacerda sinalizam que a Tribuna da Imprensa não assumiu no plano discursivo a defesa do monopólio estatal do petróleo, não abandonou a bandeira do capital estrangeiro, nem tampouco deixou exercer a crítica sobre a UDN. Todavia, no desenrolar do debate, os artigos de Carlos Lacerda tomaram um novo rumo. Os artigos do jornalista mais reveladores da posição da Tribuna da Imprensa, que abandonam a abordagem de ataques ao projeto governamental e assumem uma proposição alternativa, não tomaram o sentido de defesa do monopólio estatal e sim o de defesa do Estatuto do Petróleo, cuja formulação foi atribuída a Juarez Távora. No artigo intitulado “A recente lei peruana sobre o petróleo”, de 22-23 de março de 1952, Carlos Lacerda afirma:

“A lei promulgada… tem muita semelhança com o Estatuto do Petróleo, cujo projeto o governo Dutra mandou ao Congresso, onde está sendo substituído pelo inconveniente e sofisticado projeto da “Petrobras”, engendrado pelos Lourival Boys para acender uma veia ao capital americano e outra à ideologia russa.”

No artigo do dia seguinte, intitulado “A lei peruana sobre petróleo”, de 24 de março de 1952, Carlos Lacerda reitera sua posição:

“Aqui encontramos muita semelhança com o projeto do Estatuto do Petróleo impatrioticamente abandonado pelo novo governo brasileiro para perfilhar o monstrengo nascido do conluio do entreguismo com o totalitarismo.

“Quem conhece o Projeto do Estatuto do Petróleo, conhecido como projeto Juarez Távora, perceberá facilmente as analogias entre a lei peruana e o Estatuto.(…) No Brasil os comunistas e afins torpedeavam o projeto Juarez Távora.”

Estatuto do Petróleo

Filiado à UDN e com um histórico de atuação política que tem início nas revoltas tenentistas, passa pela Revolução de 1930 e chega até as articulações políticas que levaram ao golpe contra Vargas em 1945 e 1954 e contra Goulart em 1964, o general Juarez Távora foi membro da comissão responsável pela elaboração do anteprojeto do Estatuto do Petróleo.Em conferência sobre o Estatuto do Petróleo, realizada no Clube Naval em 1947, Távora defendeu a participação do capital estrangeiro, sobretudo o americano, na exploração do petróleo:

“Os nossos irmãos do continente – especialmente os norte-americanos, dispondo de amplos recursos e interessados, como nós mesmos, nesse reforço da segurança continental – devem ajudar-nos em nossas necessidades iniciais, proporcionando-nos, sem preocupações de imperialismo ou de monopólio, os capitais, os equipamentos de que necessitamos, para cumprir, com oportunidade e eficiência, a tarefa nacional e continental que nos cabe” (TÁVORA, Juarez. Petróleo para o Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955).

Ao reconhecer o nome de Juarez Távora como formulador do Estatuto do Petróleo, Lacerda buscava legitimidade para uma questão que estava alcançando grande repercussão nas Forças Armadas. Após ser divulgada pela Tribuna da Imprensa, em maio de 1952, a definição da UDN favorável ao monopólio estatal, Carlos Lacerda publicou, em 25 de junho, o artigo intitulado “Petróleo de ninguém”, no qual revela um posicionamento mais explícito em relação aos projetos em debate e também sobre a posição da UDN. O Estatuto do Petróleo é defendido com mais ênfase como uma proposição alternativa aos projetos do governo de capital misto e do monopólio estatal:

“Há nas gavetas da Câmara o Estatuto do Petróleo. Elaborado por uma comissão de homens sabedores, estudado e aprovado pelos Estados Maiores e submetido ao exame público, o Estatuto traduzia uma política de prudência e ao mesmo tempo, ou por isso mesmo, de urgência para a instituição da indústria petrolífera no Brasil.

“O Estatuto previa todas as soluções possíveis. Dava ao governo o poder de pesquisar e explorar petróleo por sua conta; de dar em concessão esses privilégios; de chamar à colaboração o capital privado nacional e o estrangeiro. Previa todas as hipóteses. Cercava por todos os lados o problema da criação da indústria do petróleo, com todos os recursos disponíveis, os do Estado, os da iniciativa privada nacional e estrangeira e o da combinação desses três elementos.”

“A explorar o petróleo, patrimônio nacional, estaria o Estado sempre que possível. O particular nacional sempre que necessário. O particular estrangeiro sempre que indispensável. Eis a fórmula do Estatuto do Petróleo.”

A crítica ao monopólio estatal

Após afirmar no artigo que o Estatuto do Petróleo foi atacado pelos “nacionalistas bem intencionados” e pelo Partido Comunista, Lacerda ataca a tese do monopólio estatal, incorporada pela UDN.

“Em vez de solução, propõe-nos a UDN o ‘petróleo é nosso’, seguindo os passos dos srs. Bernades e Prestes.”

“Estamos em face de dois erros: o monopólio estatal que um projeto oficioso instituiu e a Petrobras que é a dinamização desse erro, no projeto oficial. O monopólio é o erro maciço que não institui sequer a responsabilidade deste ou de outro governo. O responsável pelo malogro do petróleo brasileiro será indefinido.”

O projeto de monopólio estatal do petróleo, segundo o artigo de Lacerda, teria repercussão não só no plano das decisões do Estado nessa área econômica, dificultando seu controle pelos setores da oposição, mas também na evolução da UDN, uma vez que o partido perdia sua identidade ao se afastar do espírito liberal, motivado pela busca de popularidade, além de sofrer uma divisão interna que o comprometeria na votação dos projetos.

“…graças à desfiguração do problema pela demagogia, a confusão é tamanha que vemos a União Democrática Nacional oferecer ao país o espetáculo da sua capitulação, apostando a tese do ‘Petróleo é nosso’. Essa posição de tardia e inútil caça à popularidade nem sequer é coerente. Ao fechar a questão em torno do ‘petróleo é nosso’, esse partido de questões abertas deixou de lado de fora a maioria de seus deputados. Veremos, então, o espetáculo da UDN ter sua posição oficial contrariada pela maioria de sua própria bancada, na votação dos projetos sobre o petróleo.”



Assim, observamos três momentos na exposição dos artigos de Carlos Lacerda. Inicialmente, os ataques ao projeto governamental de capital misto não foram acompanhados de uma nova proposta para a indústria do petróleo no Brasil. Em seguida, os artigos resgataram o Estatuto do Petróleo como alternativa ao projeto governamental de capital misto. Finalmente, Lacerda reafirmou sua oposição ao projeto de monopólio estatal, com críticas à definição política da UDN. Nesse ponto, o artigo de Carlos Lacerda tem nítida semelhança com o posicionamento adotado pelos jornais O Globo e O Jornal. Se aceitarmos o fato de que os artigos de Carlos Lacerda representam o principal espaço de manifestação editorial da Tribuna da Imprensa, então os três jornais cariocas antigetulistas fecharam os discursos em torno das críticas ao projeto de monopólio estatal elaborado na criação da Petrobras e adotado pela UDN.




Aloysio Castelo de Carvalho é professor na Universidade Federal Fluminense


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A saga da Petrobrás e a torpe atuação da Rede Globo


A Petrobrás foi criada por necessidades militares e estratégicas, mais que econômicas

por Cláudio da Costa Oliveira
https://www.aepet.org.br/


A história da exploração do petróleo no Brasil e, particularmente, a história da Petrobrás são um atestado da luta do povo brasileiro em busca de sua verdadeira independência.

A existência no país de uma elite com mentalidade colonizadora, muitas vezes de lesa-pátria, impedem o pleno desenvolvimento da nação.

Esta elite colonizadora atua com vigor na formação de uma força politica (Congresso Nacional) de apoio aos seus interesses e na cooptação da mídia hegemônica.

Midia hegemônica que também trabalha em favor de grandes conglomerados internacionais, sejam eles da área financeira ou da área produtiva, com destaque para as grandes petroleiras.

O objetivo natural dos grandes conglomerados internacionais é manter o Brasil unicamente como fornecedor de produtos primários e importante mercado para seus produtos industrializados.

Este artigo busca mostrar a importância da luta dos verdadeiros brasileiros na defesa do país, ainda hoje claramente indispensável, e da saga da Petrobrás neste contexto.

Daniel Yergin, importante especialista americano em petróleo, em seu livro “A busca : energia, segurança e reconstrução do mundo moderno” à pagina 277 esclarece:

“A dependência dos sistemas energéticos e sua complexidade e alcance crescentes deixa em evidência a necessidade de entendermos os riscos e as exigências da segurança energética no século XXI. Cada vez mais o comércio de energia ultrapassa as fronteiras nacionais. Além disso a segurança energética não é apenas combater a enorme variedade de ameaças ; está relacionada também as relações entre os países, como eles interagem entre si e qual o impacto da energia na segurança nacional como um todo”

Em 1858, através do decreto nº 2266 assinado pelo Marques de Olinda, foi concedido a José Barros Pimentel o direito de extrair mineral betuminoso para fabricar querosene de iluminação próximo ao rio Marau, Bahia. Assim começava a história da exploração do petróleo no Brasil.

À partir daí muitos poços foram perfurados em vários estados brasileiros mas sem lograr sucesso.

Somente em 1930 que o engenheiro agrônomo Manoel Inácio Bastos tomou conhecimento da existência na região de Lobato (Bahia) de uma lama preta utilizada pelos moradores para iluminar suas residências.

Após muitas pesquisas, em 1932 Manoel Inácio conseguiu ser recebido por Getúlio Vargas a quem entregou um relatório sobre seu trabalho em Lobato. Mas isto não empolgou Getúlio de forma a justificar o envolvimento do governo nesta atividade.

Passaram-se seis anos para Getúlio se conscientizar da importância do controle estatal do petróleo no Brasil. Em recente artigo (23.08.18) publicado no Diário do Nordeste, Pedro Avelino relata :

“Em abril de 1938, o General Pedro Aurélio de Góis Monteiro reassumiu o cargo de Chefe do Estado Maior do Exercito. Tinha muito poder. O alagoano fora um dos principais apoios de Getúlio para o golpe do Estado Novo, meses antes. Depois de tempos dedicando-se à política, e após missão diplomática no Cone Sul, quis retornar às questões militares.

Reuniu seu pessoal. Um Estado Maior deve fazer planos de guerra, por mais impossíveis que sejam, para que em caso de necessidade estes já estejam prontos. Descobriu que o órgão não fazia plano algum. Decepcionado pegou um papel e rabiscou o que queria, plano de mobilização de transportes, de informações etc. Tudo para já.

Uma semana depois seu subordinado General Horta Barbosa lhe trouxe a informação: o Brasil não tinha gasolina sequer para oito dias de guerra. Abismado Góis Monteiro chamou o outro para baterem à porta do Presidente Getulio. Denunciaram o caso . E naquela reunião decidiu-se a criação de um novo órgão, o Conselho Nacional do Petróleo. Para seu primeiro chefe João Caetano Horta Barbosa , veterano de Canudos.

Este realizou estudos, visitou a primeira refinaria estatal sul-americana, no Uruguai. E quinze anos de muita luta política depois surgiu uma empresa estatal que virtualmente monopolizava o petróleo no Brasil. Discute-se a Petrobrás. E tem-se mais é que discutir.

Mas é importante não esquecer do que deu origem à empresa. Necessidades militares e estratégicas, mais que econômicas. O que aconteceu nos anos trinta pode esclarecer o que queremos da empresa no século XXI. “


A indústria do petróleo no mundo já existia a quase 100 anos e as grandes petroleiras, conhecidas como sete irmãs, não viam com bons olhos os acontecimentos no Brasil que pretendiam manter como cliente cativo de seus produtos.

Na época as multinacionais é que faziam a distribuição de derivados no Brasil. Apesar do grande esforço, a produção e refino de petróleo no país evoluía lentamente, com a seguinte cronologia :

- 1939 é feita a primeira descoberta de óleo comercial na Bahia
- 1949 entra em operação o primeiro oleoduto brasileiro no recôncavo baiano.
- 1950 o CNP instala a refinaria de Landulfo Alves em Mataripe (BA).

Em 1953 o Brasil consumia 150.000 barris por dia de derivados e só contava com uma refinaria operada pelo CNP na Bahia com capacidade de produção de 3.700 barris dia e uma refinaria particular do Grupo Ipiranga com produção de 6.000 barris dia. A necessidade de construção de novas refinarias era evidente, e mesmo com a eminente decretação do monopólio, três grupos privados receberam concessão para construção de novas refinarias.

A esta altura a irritação das sete irmãs atingia seu auge e a campanha contra o governo Vargas por elas promovida era intensa.

O experiente jornalista José Augusto Ribeiro, que foi assessor de imprensa de Tancredo Neves na campanha presidencial de 1984/1985, editor –chefe do jornal O Globo e apresentador da TV Globo, publicou recentemente o livro “Lula na Lava-Jato – e outras histórias ainda mal contadas”(Kotter Editorial) onde esclarece:

“ A verdadeira razão para derrubar o governo era outra, como confessou sem a menor cerimônia o Rei da Midia Assis Chateaubriand, ao ser procurado pelo General Mozart Dornelles, subchefe do Gabinete Militar da Presidência e seu amigo desde a Revolução de 30, da qual Mozart participara como combatente e Chateaubriand como jornalista.

O General perguntou por que tanto ódio contra Getúlio nos pronunciamentos diários de (Carlos) Lacerda (jornalista e futuro governador da Guanabara) e nas rádios de longo alcance e nos jornais de grande circulação de Chateaubriand em todos os Estados. Chateaubriand respondeu:

- Mozart, eu adoro o presidente, sou o maior admirador dele. Quando ele quiser, eu tiro o Lacerda da televisão e entrego para quem ele indicar, para defesa dele e do governo. É só ele desistir da Petrobrás...

Esse episódio me foi contado mais de uma vez, em entrevistas para um filme e para um documentário de TV sobre o presidente Tancredo Neves, pelo filho do General Mozart, o ex-senador e ministro Francisco Dornelles, que também o contou em depoimento para a TV Senado.”

Em sua carta testamento ao povo brasileiro Getúlio Vargas relata:

“Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar e a onda de agitação se avoluma”

Logo depois da crise do petróleo em 1973, no governo Geisel, a Petrobrás fez as descobertas da Bacia de Campos no mar territorial brasileiro, o que possibilitou a autossuficiência na produção de petróleo e no desenvolvimento de tecnologias que levariam à descoberta do pré-sal.

Na indústria do petróleo e de modo geral na mineração o mais difícil é a descoberta das reservas. Isto feito, o resto aparece naturalmente. Recursos não faltam e tecnologias são desenvolvidas ou adquiridas. Tudo é festa.

No caso das reservas do pré-sal descobertas pela Petrobrás em 2006 no entanto, ao invés de festa o que assistimos foi o início de um período de guerra. Guerra entre aqueles que defendem os interesses da nação brasileira e aqueles que defendem os interesses do capital e das empresas (petroleiras) estrangeiras. Como dizia Barbosa Lima Sobrinho “No Brasil existem dois partidos, o de Tiradentes e o de Silvério dos Reis”

Um bom exemplo é o campo de Libra, abandonado e devolvido pela Shell à ANP, onde Petrobrás, cujos técnicos atestavam os forte indícios da existência de petróleo sob a camada de sal, com aprovação e autorização do governo federal, investiu milhões de reais para ter acesso às acumulações.

O sucesso da empreitada deveu-se à competência da Petrobrás e à confiança e arrojo do governo brasileiro. A ninguém mais cabe pretender reivindicar os louros desta vitória.

Logo no início com a perfuração do campo de Libra, os geólogos brasileiros diziam “este é apenas o rabo do elefante”.

De outro lado jornalistas como o Sr. Carlos Alberto Sardenberg diziam que o pré-sal não existia, era uma invenção do governo:


Enquanto a Petrobrás desenvolvia o projeto, a notícia se espalhou pelo mundo levantando o interesse e a cobiça das grandes petroleiras internacionais, que já sofriam fortes quedas de suas reservas e declínio de produção, sem perspectiva de reversão desta situação no curto/médio prazo.

A esta altura os geólogos brasileiros já diziam “não é só um elefante, é uma manada de elefantes.”


2010 foi um ano marcante, no dia 1º de março foi anunciada a descoberta do campo de Búzios, o maior de todos os super gigantes.

Buscando defender o país da pressão do capital externo, o governo brasileiro, em 30 de junho de 2010, editou a Lei 12.276 estabelecendo a cessão onerosa (5 bilhões de barris ) do campo de Búzios para a Petrobras e em 22 de dezembro de 2010 a Lei 12.351 estabelecendo o regime de partilha para as reservas do pré-sal.

Com o contrato de cessão onerosa a Petrobrás iniciou os trabalhos no campo de Búzios, onde foram abertos 11 poços. Em 19 de dezembro de 2013 foi declarada a comercialidade do campo de Búzios.

No período de 2010 a 2014 a Petrobras investiu mais de US$ 200 bilhões com ênfase no pré-sal.

A mídia hegemônica brasileira trabalhando claramente em defesa dos interesses estrangeiros, protestou de diversas formas contra a posição nacionalista do governo.

Em parte obtiveram sucesso, pois em 2013 foi feito o primeiro leilão de reservas do pré-sal sob regime de partilha (Libra) que, apesar da participação obrigatória da Petrobrás, abria a participação de petroleiras estrangeiras. Em boicote, as petroleiras americanas, que preferiam o modelo de concessão, não participaram do leilão acreditando em seu fracasso.

Perderam os americanos, pois em 21 de outubro de 2013 o leilão foi concluído com a Petrobrás (operadora) ficando com 40%, Shell e Total com 20% cada e CNPC e CNOOC com 10% cada.

O leilão foi marcado por protestos de trabalhadores, sindicalistas, ambientalistas e representantes de movimentos sociais, que entendiam tratar-se do início da entrega do pré-sal brasileiro pra os estrangeiros.

Com reservas estimadas entre 8 e 12 bilhões de barris o campo de Libra tinha previsão de atingir um pico de produção de 1,4 milhões de barris dia em 15 anos (2028).

Paralelamente, em 10 de março de 2015, foi dado início à produção provisória em Búzios.

Neste tempo a grande mídia brasileira já organizava ataques ultra agressivos contra a imagem da Petrobras, muitas vezes feitos de maneira indecorosa.

Indignado, em 29 de janeiro de 2015 o economista José Carlos de Assis, doutor em engenharia de produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor de economia internacional da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e autor de mais de 20 livros sobre economia política, escreveu um artigo no site Carta Maior com o título “Prática da CIA no jornal da Globo”.

No artigo Assis desmoraliza William Wack e Carlos Alberto Sardenberg por “Algo essencialmente desonesto: dizerem que a Petrobras está falida porque as dívidas dela estão maiores do que o valor de mercado da empresa”.

Assis também salientou: “Os jornalistas (?) William Wack e Carlos Sardenberg adotaram práticas de desvirtuamento de fatos para vender noticiário tendencioso, algo nazi-fascista bem na linha da CIA, pródiga em criar situação para confundir as pessoas no sentido de atraírem, com falsos argumentos, de modo a obter delas consentimento para suas teses”.

Assis questionou o governo Dilma “Até quando o governo Dilma vai continuar financiando, com polpudas verbas orçamentárias, o poder midiático oligopolizado global cuja missão é construir argumentos falsos para analisar a performance da maior empresa estatal brasileira e sul-americana?”.


Diante dos fatos cabe também responsabilizar a administração da companhia na época, que permitia a divulgação de falsas notícias sobre a empresa sem nenhuma contestação e pedido judicial de resposta .

Mas as agressões não pararam por aí. Em editorial no dia 20 de dezembro de 2015, com o título - “O pré-sal pode ser patrimônio inútil” - o jornal O Globo passou dos limites: “Alguns preços de referência de petróleo bateram US$ 37, acima do custo de produção do pre-sal , calculado em junho entre US$ 40 e US$ 57. Confirma-se que foi erro crasso do lulopetismo, movido por ideologia, suspender por cinco anos os leilões, a fim de instituir o modelo de partilha”.


Mais uma vez a Globo mostrou total ignorância ou má-fé com relação aos negócios de petróleo e às atribuições da Petrobras no atendimento da nação brasileira. Como nunca houve retratação podemos considerar que tudo foi feito na mais absoluta má-fé.

Novamente a administração da companhia foi omissa na defesa da empresa. Ou seria conivência?

O fato é que nenhuma empresa no mundo que se preze aceitaria este tipo de falácia sem reação.

Assim chegamos em 2016 e os ataques continuaram. Além dos constantes comentários de Miriam Leitão no Bom Dia Brasil, informando que a Petrobras tinha sérios problemas financeiros, com uma dívida impagável etc.etc. Carlos Aberto Sardenberg publicou um artigo divulgado em todo Brasil pelas afiliadas do Globo com o título: “Enterrar de novo o populismo”.

Neste artigo Sardenberg foi primoroso, consciente de que poderia falar o que bem entendesse, pois não haveriam consequências. Sendo assim, ele informou para todo o Brasil : “Quebraram a estatal. Vamos falar francamente: a Petrobrás só não está em pedido de recuperação judicial porque é estatal. Todo mundo espera que em algum momento o governo imprima algum dinheiro para capitalizar a empresa”.


Pois bem, 2016 passou. Não houve pedido de recuperação judicial e muito menos aporte de recursos do Tesouro. Pelo contrário, no final de 2016 a Petrobrás adiantou R$ 20 bilhões para o BNDES aliviando o caixa do banco e terminou o ano com um crédito de US$ 6 bilhões com a Eletrobras e US$ 11 bilhões a receber de ativos vendidos em 2016, além de um caixa de US$ 22 bilhões.

Já escrevemos e falamos muito sobre as “fake news” da Globo. Um último e recente video da Aepet sobre o assunto com o título “A Petrobrás está quebrada: mito ou realidade” sintetiza tudo:


Por tudo que já foi exposto a Rede Globo deveria ser proibida de tecer qualquer opinião sobre a situação financeira da Petrobrás e seus principais jornalistas responsabilizados pelas notícias falsas divulgadas e a companhia em pedido de resposta judicial esclarecer a opinião pública brasileira. Mas existe vontade para isto? Ou motivos escusos impedem que as verdades venham à tona?

Em 2016 analisando os resultados de 2015, o então presidente Bendine informou: “Temos recursos para cobrir nossos compromissos pelos próximos dois anos”.

No início de 2017, o então diretor financeiro Ivan Monteiro revelou a jornalistas:

“Independentemente de venda de ativos ou de captação de empréstimos, nós já temos recursos para cobrir nossos compromissos pelos próximos 2,5 anos”.

Mas, ainda em 2016, com a queda do governo Dilma e com Pedro Parente assumindo a presidência da Petrobrás, o que estava muito mal ficou ainda pior.

Ficou evidente que Pedro Parente com seu objetivo de entregar os ativos da empresa a preço de banana e estabelecer uma política de preços prejudicial a população brasileira e à Petrobras não mostraria o futuro promissor da companhia. As informações foram sempre no sentido de denegrir a imagem da empresa para justificar seus planos.

Pedro Parente, e aqueles que o apoiaram, responderão na justiça por seus mal feitos. Pelos enormes prejuízos causados à população brasileira e à Petrobrás.

Hoje a maioria dos candidatos a Presidência da República não titubeia em dizer que a Petrobrás passou por sérios problemas financeiros. Na realidade eles nunca se deram ao trabalho de analisar os balanços da empresa. Eles se baseiam nas “fake news” de Miriam e Sardenberg. É ridículo.

Dizendo-se preocupada com o entendimento dos candidatos sobre a realidade da empresa, a atual administração da companhia está procurando os economistas a eles ligados com o objetivo de “Levar aos presidenciáveis a mensagem de recuperação financeira da empresa dos últimos anos” isto é feito através da apresentação de “Um conjunto de métricas e estatísticas que demonstram onde a Petrobras estava no auge da crise em 2014 e onde está atualmente”


Que métricas são estas? Que estatísticas são estas? Por que estes dados só são apresentados em salas fechadas e para um público não habilitado para analisa-los?

Em 2014 a Petrobrás tinha uma liquidez corrente de 1,6. Significa dizer que para cada R$ 1 que a empresa tinha de pagar, ela dispunha de R$ 1,6. Neste mesmo ano a liquidez corrente da Chevron era de 1,3 e da Exxon de 0,8. Portanto a situação financeira da Petrobrás era muito mais confortável do que a das duas maiores petroleiras americanas. Onde está a crise apontada pelos atuais dirigentes da companhia ?

A Petrobrás terminou 2014 com um saldo de caixa de US$ 16,66 bilhões ao passo que a Chevron terminou com um caixa de US$ 12,79 e a Exxon com US$ 4,65. Onde está a crise ?

Em 2014 a Petrobrás alcançou uma Geração Operacional de Caixa de US$ 26,60 bilhões, o que representava 0,15 de sua Receita Bruta. Esta mesma relação na Exxon era de 0,11, na Shell era de o,11 e na BP de 0,09. Como sempre a Petrobras apresentava uma capacidade de geração de caixa superior a todas as outras. Que crise é esta?

Em 2014 a Petrobrás captou no mercado mais de US$ 15 bilhões em empréstimos, todos com bancos de primeira linha, muitos com vencimento em 2044 (portanto 30 anos). Ou os banqueiros estavam doidos ou a empresa não atravessava por nenhuma crise, pelo contrário, tinha grandes e rentáveis projetos.

Confirmando tudo, em junho de 2015, ainda no governo Dilma, a Petrobrás captou US$ 2,5 bilhões junto ao Deutsch Bank Securities e o J.P. Morgan com vencimento em 2115 (100 anos).

Eles gostam muito de falar na dívida da empresa, sempre mostrando um número isolado. O fato é que a dívida é , e sempre foi, totalmente compatível com a Receita da empresa, com os Investimentos feitos e com o retorno esperado dos projetos. É nisto que os banqueiros se baseiam para liberar seus créditos.

Mesmo hoje, sempre que a Petrobrás vai ao mercado, se ela pede três eles oferecem dez, se ela pede cinco eles oferecem vinte.

Os chineses abriram linhas de crédito para a Petrobrás sem exigência de garantias (fato inusitado para os asiáticos), pedindo apenas uma promessas de futuro fornecimento de petróleo.

Tudo isto é fruto da descoberta do pre-sal, fato que ocorreu sem nenhuma participação dos atuais administradores que hoje querem colher os louros do que foi conquistado por outros.

Escondem os fatos da empresa e inventam que estão recuperando uma companhia que nunca precisou de recuperação.

O pior é que não a defendem dos ataques da mídia subserviente aos interesses estrangeiros.

Atualmente a companhia está envolvida na elaboração de um novo plano de negócios para o período 2019/2023. Por que não aproveitar o momento para enaltecer tudo de positivo que temos pela frente?

Em abril de 2018 entrou em operação a primeira unidade de produção definitiva no campo de Búzios, muitas outras se seguirão.

A previsão é de que em 2026 a produção brasileira sejá superior a 5 milhões de barris dia. Só o campo de Búzios (cessão onerosa) estará produzindo mais de 2,4 milhões de barris dia. Considerando que na cessão onerosa não haverá pagamento de Participação Especial (é o que está estabelecido na Lei), qual será a geração operacional de caixa da Petrobras naquela data ? Por que isto não é informado ?

Os relatórios de administração ao invés de só dedicar capítulos à Lava Jato, deveriam salientar as perspectivas futuras do pré-sal. Quais são as atuais estimativas dos geólogos? Isto é o que deveria estar sendo divulgado aos sete ventos.

O novo plano de negócios deveria objetivar:

a) Priorizar a volta dos investimentos abandonando as atuais metas de alavancagem

b) Paralisar a venda de ativos produtivos

c) Estabelecer uma política de preços que vise, em primeiro lugar, atender à capacidade de pagamento do povo brasileiro

d) Reconquistar o orgulho da Petrobrás, perdido pelos petroleiros e pelo povo brasileiro.

Cláudio da Costa Oliveira

Economista da Petrobras aposentado


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“A imprensa, principalmente a Globo, sempre quis destruir a Petrobras”


Direita quer destruir Dilma e a Petrobras, alerta sindicalista

Diretor de sindicato e de federação de petroleiros alerta para tentativa de usurpação da estatal

Por Guilherme Ferreira

Desde o início da divulgação das investigações da Polícia Federal (PF) e Ministério Público (MP) sobre desvios financeiros praticados dentro da Petrobras, desde o ano de 1997, a maior produtora de petróleo do mundo entre as de capital aberto, vem sendo massivamente exposta de forma negativa, pela imprensa principalmente, edificando uma imagem da estatal que não condiz com sua realidade.

Cansados de assistirem ao ataque sistemático à empresa, os mais de 86 mil servidores partiram para a defesa do patrimônio brasileiro, detentor de reservas comprovadas de 16 bilhões de barris de óleo equivalente (boe).

Munidas de papel, caneta e redes sociais, as servidoras da estatal, deflagraram uma campanha. O protesto consiste em postar nas redes um autoretrato com os dizeres “sou melhor que isso”, acompanhado de #soupetrobras.

A reação dos trabalhadores é explicada nesta à Agência PT de Notícias pelo diretor-geral do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de janeiro (Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella. Ele afirma estar preocupado com a forma como a companhia tem sido agredida, desvalorizada e vilipendiada pelos ataques da oposição e setores da mídia, com o objetivo de prejudicar o governo da presidenta Dilma Rousseff.

“O maior pecado de Dilma foi dizer, na eleição, que defende a Petrobrás e que ela vai ser nosso passaporte para o futuro. Pois a direita brasileira, que foi contra a criação da Petrobrás, agora quer usurpá-la”, afirma. Leia a íntegra:

Agência PT – Quais as propostas dos servidores para evitar a exposição negativa que por ora passa a empresa?

Emanuel Cancella – Infelizmente, a imprensa brasileira só quer falar mal da Petrobrás. Os estrangeiros acabaram de conceder o “Oscar” da indústria de petróleo à Petrobras, o Offshore Tecnology Conference 2015 (OTC) . Ninguém noticiou isso no Brasil. Além do “Oscar”, a Petrobras, durante a operação “Lava Jato”, aumentou a capacidade de refino, passou a americana Exxon Mobil e é a primeira na produção de óleo no mundo e a quarta na produção de óleo e gás. Além disso, o pré-sal já produz mais de 700 mil barris por dia, o suficiente para abastecer países como Uruguai, Paraguai, Bolívia e Peru, juntos.

A quem interessa essa exposição negativa?

O maior pecado de Dilma foi dizer, na eleição, que defende a Petrobras e que ela vai ser nosso passaporte para o futuro. Pois a direita brasileira, que foi contra a criação da Petrobras, agora quer usurpá-la, tenta usar a corrupção na empresa para, de uma só cajadada, destruir a Dilma e a Petrobras. O operativo do petróleo, realizado nesta semana, está marcando um encontro nacional, dia 20 de março, no Rio, para discutir a defesa da Petrobras, o fim dos leilões e a luta contra qualquer tentativa golpista. Caso não consigam privatizar a Petrobras, a grande mídia pretende, no mínimo, manchar a imagem dela, para forçar o governo a abrir mão do “conteúdo local”, com a Petrobras sendo operadora de todos os campos do pré-sal. Querem também mudar a lei de partilha, que tem um fundo nacionalista, criada no governo Lula, retornando à lei de concessão de FHC, que entrega o nosso petróleo de mão beijada aos gringos.

O que o sindicato pensa sobre a reestatização da empresa?

Faz parte da nossa campanha “Todo o Petróleo tem que ser Nosso!” A Petrobras 100% estatal e pública. A volta do monopólio estatal e o fim dos leilões de petróleo. Tudo isso está inserido na lei dos movimentos sociais, que está parada no Senado Federal. Essa lei é subscrita pelos partidos de esquerda, PT, PCdoB, Psol, PSTU, pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), Federação Nacional dos Petroleiros |(FNP), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (SMT), várias centrais sindicais e um grande número de entidades do movimento social, como Central ùnica dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central Sindical e Popular (CSP Conlutas) e União Nacinoal dos Estudantes (UNE).

Qual a posição do sindicato diante do fato de a proporção de servidores ser de um concursado para quatro terceirizados?

O movimento sindical petroleiro sempre cobrou concurso público na Petrobras. Várias unidades já fizeram mobilizações cobrando aumento no efetivo. Somos contra a terceirização, mas não somos contra os terceirizados. Travamos várias lutas em defesa desses trabalhadores. Agora estamos apoiando a luta de cerca de 600 trabalhadores do Comperj, que estão sendo massacrados, pois estão sem salário, e como não houve rescisão contratual formalizada, estão também sem acesso ao auxilio desemprego, desde dezembro.

Qual a avaliação e a posição do sindicato em relação como a imprensa tem tratado tanto os casos de corrupção quanto a empresa?

Sim, existe corrupção na Petrobras, e tem que ser combatida, levando os corruptos e corruptores para a cadeia e confiscando seus bens. Mas, enquanto a Petrobras tem duas CPIs para investigá-la, o Superior Tribunal Federal (STF) acabou de arquivar o Trensalão do metrô de São Paulo, escândalo que envolve em propina três governadores tucanos: Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. A imprensa, principalmente a Globo, sempre quis destruir a Petrobras. Nas privatarias tucanas, na década de 90, a Globo comparava a Petrobras a um paquiderme e chamava os petroleiros de marajás.

Os servidores tem alguma influência nas decisões de diretoria?

Com muita luta conseguimos, no governo Lula, a oportunidade de eleger diretamente um membro no Conselho de Administração. É muito pouco. Gostaríamos que toda a direção da Petrobras fosse eleita diretamente pelos petroleiros. Pois, são esses trabalhadores que levam a companhia a ser uma das maiores empresas de energia no mundo.

Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias


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A GLOBO NÃO FALA PELO BRASIL - I

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