sábado, 28 de março de 2020

Empatia alemã: a comunicação clara de Merkel e reações da população ao COVID-19

Desde seu pronunciamento na TV, em 18 de março, Merkel somou pontos de simpatia nas redes até mesmo de eleitores que rejeitam seu governo

          Por Jornal GGN
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Por Fatima Lacerda 

No Observatório da Imprensa

“A gente ainda vai sentir muita falta de Merkel”, atesta um usuário do Twitter sob a hashtag #FrauMerkel. Desde que deixou a chefia (e não liderança) do partido, a chanceler não ocupava mais as pautas diárias, até o tabloide Bild exigir “administração” e “pulso” no lidar com o vírus que fez o mundo parar. Depois que Merkel se juntou ao seu ministro da Saúde, ratificou que sim, estava no comando das medidas para, senão conter a contaminação, postergá-la para quando os leitos e máquinas de respiração possam salvar vidas.

Não é preciso simpatizar com a política de Merkel. Pode-se até esquecer o estrangulamento que ela exercitou, de forma prussiana, dentro do seu partido, evitando abrir espaço para a “segunda fila”, como prescreve o jargão político midiático da Alemanha. Essa fatura caríssima, Merkel está tendo que pagar: O CDU está com uma diretora pronta para sair e a convenção nacional de abril, que escolheria um dos três candidatos homens, foi cancelada devido à pandemia.

Humanismo e empatia

Desde seu pronunciamento na TV, em 18 de março, Merkel somou pontos de simpatia nas redes até mesmo de eleitores que rejeitam seu governo.

Depois de serem veiculadas imagens de grupos alegres dançando, ouvindo música ou mesmo conversando em parques de Berlim, os usuários das redes suplicavam pela #Ausgangsperre (proibição de saída). Essa expressão foi, logo em seguida, substituída por #Ausgangeinschränkungen (limitações para saída), em consideração com os alemães originalmente do leste, sensíveis com esse tipo de denominação. Entendível para quem ficou cercado e impedido de sair durante longos 28 anos pelo sistema do “real socialismo”.

Em seu discurso, o primeiro de regime extraordinário desde que assumiu, em 2005, na medida exata entre a chefe de governo e com grande percentual empatia, atípico para seu estilo, ela apelou pelo bom senso: “Atualmente, o coronavírus muda, de forma dramática, a vida no nosso país. Nossa ideia de normalidade em vida pública, tudo isso está sendo colocado à prova como nunca antes”. Merkel, avessa à redundância do pleonasmo e adepta da filosofia de que “menos é mais”, mudou seu discurso para um texto claro e sem cosméticos. “Eu me dirijo a vocês, nesta situação excepcional, para lhes dizer, como chanceler: assim prescreve uma democracia, que as decisões precisam ser feitas de forma transparente e explicadas para que as pessoas possam entender os motivos de nossas decisões. Eu acredito piamente que nós superaremos esse desafio se todas as cidadãs e todos os cidadãos perceberem esse momento como o seu dever. A situação é grave. Por isso, a perceba como tal. Desde a reunificação das Alemanhas – não, desde a Segunda Guerra Mundial -, nunca houve um desafio que depende tanto do nosso empenho coletivo e da nossa solidariedade.”

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