
Gravura de Gustav Doré para a "Divina Comédia", de Dante
Ressurreição
por Dr. Rosinha
O Dicionário do Houaiss define assim ressurreição: “ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar; retorno da morte à vida; cura surpreendente e inesperada; nova vida, novo vigor”.
Em Diccionário de la Bíblia, Serafín de Asuejo, Hebert Haag e A. Van den Born afirmam que os israelitas acreditavam firmemente que –Javé (Deus) – tem poder sobre todos.
“Por isso atribuí a ele (Deus) o poder de livrar as pessoas do reino dos mortos.
É verdade que muitas vezes ‘livrar alguém do reino dos mortos’ significa livrar do perigo de morte”.
Também afirma que no “antigo testamento a ideia da ressurreição aparece tarde e só em alguns textos isolados.
Em geral, o apocalipse de Isaías (Is 24-27) considera o testemunho mais antigo da fé na ressurreição” (tradução minha).
Esclarece ainda que, no geral, quando se trata do tema ressurreição é dos mortos de espírito e dos pagãos.
Atenção: mortos de espíritos.
Nosso país vem sendo governado pelos mortos de espíritos e neste contexto um dos mortos –Bolsonaro –reclamou que ninguém noticiou sobre “quem matou Bolsonaro”.
Ao mesmo tempo, queixou-se pelo tempo que a imprensa dedicou e dedica ao assassinato de Marielle.
Ainda esta semana o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que o caso não deve ser federalizado, ou seja, a investigação não deve passar à polícia política de Bolsonaro, a Polícia Federal.
Atenção: a imprensa pode até ter dedicado algum tempo maior ao caso de Marielle e, mesmo assim, é insuficiente para informar à população que foram as milícias do Rio de Janeiro, sempre apoiadas pela família Bolsonaro, que a assassinaram.
Mas não basta só a imprensa fazer o seu trabalho de forma responsável.
É fundamental uma investigação séria, para investigar com seriedade o assassinato de Marielle e do Anderson.
Passados dois anos ainda não foram identificados os mandantes nem os executores.
E as esperanças de isso vir a acontecer são poucas, pois os envolvidos são policiais e ex-policiais que atuam e/ou fazem parte das milícias.
A frase “Quem matou Bolsonaro” foi uma queixa do próprio a partir do momento em que alguns veículos de imprensa decidiram –tardiamente –não mais a dar cobertura a ele no Palácio da Alvorada.
Sem a cobertura diária decidiu se vitimizar.
Atenção: Bolsonaro é um morto vivo. Um espírito morto num corpo vivo.
Seu espírito está morto, o corpo vaga. Os pensamentos, atos, ações e boca, constroem, todos os dias, há muitos anos, a violência, a morte e a desesperança.
Quando vejo uma pessoa com 60 anos ou mais, com cara de pesarosa, bondosa, educada e conciliadora, me pergunto: Como era quando criança? Como se comportava? O que foi na vida adulta.
Só a carinha triste não me compadece: repare na cara de todos os idosos que foram ditadores sanguinários.
Não tenho a menor ideia de como Bolsonaro era quando criança.
Imagino que sempre teve o espírito morto.
Portanto, jamais compreenderá as diferenças, as vidas que –habitam –vivem sobre a terra e a poesia.
Mario Quintana –Bolsonaro não deve saber quem é Quintana –num dos seus poemas diz o que perdeu da primeira vez em que o assassinaram:
Da vez primeira em que me assassinaram, / Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. / Depois, a cada vez que me mataram, / Foram levando qualquer coisa minha …”.
Atenção: “Quem matou Bolsonaro”.
Esta frase é a confissão do próprio Bolsonaro de que está morto. Nem ele sabe quem o matou. Não sabe porque seu espírito morreu, talvez, ainda, na infância ou, no mais tardar, na adolescência.
Ao contrário de Quintana, Bolsonaro foi morto ou suicidou-se uma única vez. Aí, perdeu não só o jeito de sorrir, mas também toda capacidade de ser humano e solidário.
Ele está espiritualmente morto, não conseguirá “ressurgir ou ressuscitar”. Tampouco pelos danos já enormemente causados conseguirá a ressurreição do espírito.
Atenção: e o Supremo Tribunal Federal (STF)?
Volto ao Houaiss: ressurreição é o “ ato ou efeito de ressurgir ou ressuscitar; retorno da morte à vida; cura surpreendente e inesperada”.
O STF, após morrer ou entrar em catatonia, parece que surpreendentemente foi curado e ressuscitou e saiu a caçar os financiadores, construtores e divulgadores de fake news.
É aguardar e esperar para ver se realmente vai enfrentar o morto vivo, o fascismo e toda a maldade que o morto esta causando.
Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De maio de 2017 a dezembro de 2018, presidiu o PT-PR. De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
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