terça-feira, 23 de junho de 2020

Dor dos inocentes: Brasil recebeu 775 mil crianças escravizadas da África

Senhores brasileiros podem ter sentido necessidade de “importar” mais mulheres e crianças para garantir mão de obra futura caso o tráfico negreiro fosse proibido

Fotos: Esquerda: Theievoice.com/ Direita: Matthew Brady Studio

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No fim da era escravagista, um em cada três africanos escravizados no mundo era criança, nas estimativas do historiador David Eltis, da Universidade de Emory, em Atlanta, um dos maiores especialistas mundiais no tema.

Crianças foram ganhando a preferência dos traficantes porque, entre outros aspectos, eram mais “maleáveis” que adultos.

Segundo Eltis, cerca de 12,5 milhões de escravos deixaram a costa da África entre 1500 e 1867, quando se tem registro do último carregamento. Em torno de 10 milhões chegaram aos seus destinos nas Américas.

Nos cálculos do pesquisador, dos 5,5 milhões de pessoas que tinham como destino o Brasil, apenas 4,9 milhões desembarcaram em portos brasileiros. Centenas de milhares morreram pelas péssimas condições nas travessias do Oceano. As pessoas ficavam amontoadas, com péssimas condições de higiene e alimentação.

Os dados de Eltis indicam que quase 2,3 milhões de escravos foram enviados ao Brasil só entre 1800 e 1850. Destes, ele acredita que 775 mil eram crianças com até 15 anos.

Um estudo de caso publicado no Journal of Economic History pelos pesquisadores David Richardson, da Universidade Britânica de Hull, e Simon Hogerzeil, do Centro Psicomédico Parnassia holandês, mostrou que crianças reagiam melhor à travessia que os adultos.

Analisando 49 viagens de navios negreiros holandeses entre 1751 e 1797, os pesquisadores observaram que crianças eram compradas antes, porque reagiam melhor à experiência traumática.

Comparada à de um adulto, sua taxa de mortalidade era a metade, calcularam os pesquisadores.

Assim, uma criança tinha mais chance que um adulto de passar longos períodos – até um ano, no caso estudado – dentro de um navio negreiro, entre todas as fases do tráfico.

Antes que o navio zarpasse para a viagem transatlântica propriamente dita, uma criança passava em média quatro meses dentro da embarcação – um prazo mais de 40 dias superior ao passado por homens.

Outra razão, levantada em entrevista à BBC Brasil pelo historiador Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, destaca que senhores brasileiros podem ter sentido necessidade de “importar” mais mulheres e crianças para garantir mão de obra futura caso o tráfico negreiro fosse proibido. Nos últimos anos de escravidão, as crianças foram as que mais sofreram com as crueldades de um dos períodos mais tristes e vergonhosos da história mundial.

Fonte: BBC Brasil

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