terça-feira, 23 de junho de 2020

Tacla Duran. Notícia real tratada como fake news pela Globo, por Armando Coelho Neto

A emissora praticamente ignorou as denúncias feitas pelo advogado, o qual diz ter sido vítima de pedido de propina, no valor de US$ 5 milhões, para ter êxito na sua negociação da delação em Curitiba. Tal pedido teria vindo por meio de um advogado ligado ao então juiz Sérgio Moro.

        Por ARMANDO COELHO
        https://jornalggn.com.br/

Tacla Duran. Notícia real tratada como fake news pela Globo

por Armando Rodrigues Coelho Neto

O Gabinete de Segurança Institucional do Presidenta Dilma Rousseff dormia, enquanto a ela estava sendo grampeada pelo herói Zé Roela da TV Globo, que então dava os primeiros passos para golpe de 2016. Nem as Forças Armadas, nem o Supremo Tribunal Federal, nem a grande mídia viam nisso ameaça à Democracia.

Os bolsopatas também não viam nada demais, aplaudiam e até comemoravam a esculhambação generalizada, enquanto buscavam tirar proveito do caos. Aplaudiram a condução coercitiva de Lula, seu impedimento para se tornar ministro de Dilma pelo STF, sua condenação e prisão, entre outras arbitrariedades.

Não custa lembrar a subversão da ordem jurídica no prende-e-solta de Lula, numa flagrante desobediência por parte da Polícia Federal da ordem emanada por um desembargador, com objetiva e flagrante interferência de Moro. O calendário da bandalha policialesca e judicialesca está repleta de comemorações bolsopatas.

Sobre a postura do STF de então, disse o jurista Lenio Streck: “Chegamos ao ponto em que cumprir a legalidade passou a ser um ato revolucionário, subversivo”. Cumprir a lei passou a ser motivo de vaia. Ministros que votaram pela inconstitucionalidade das conduções coercitivas pediram desculpa pelo voto.

Polícia Federal, Ministério Público Federal eram, então, republicanos apesar de todas as truculências abrindo o caminho para o golpe, depois coroado pela fraude eleitoral de 2018. No que coube ao Superior Tribunal Eleitoral e ao STF, por ação ou omissão judicialesca, receberam dos mínions e assemelhados efusivos aplausos.

Hoje, quando as instituições fingem cumprir funções legais, há uma histeria generalizada, que tem resultado em ataques e foguetórios, ameaças contra autoridades e arroubos de golpe por parte de militares falastrões que não leram a Constituição Federal e muito têm a aprender com americanos e venezuelanos.

Choradeiras à parte, entre os papeis que o STF tenta cumprir hoje está o inquérito sobre fake news, que se levado a sério pode derrubar a República. Imagine o leitor, vir a público os bastidores da candidatura apoiada pelas Forças Armadas, hoje associada ao lamaçal do Bozo. Se o que se viu até agora não é mero fogo de palha…

Fake news não é apenas notícia falsa. É também notícia verdadeira descontextualizada, editada. O ex-juiz Sérgio Moro, por exemplo produziu e soltou para a imprensa a gravação editada e mencionada no início dessa fala. Também liberou delação nula de Palocci às vésperas das eleições para ajudar o Bozo.

Do mesmo modo, pode-se afirmar que esconder fatos é também uma maneira de falsear a verdade, assunto no qual a TV Globo é prodiga desde sempre. Nas Diretas Já, nas matérias sobre caixa 2 excluídas de pauta por que não atingiam só o PT, mas também tucanos, sobretudo Fernando Henrique Cardoso…

Mais recentemente, o The Intercept Brasil abriu a fossa da República de Curitiba, mas emissora não se ocupou do assunto, exceto para deferir tratamento criminoso ao jornalismo investigativo. Foi um hacker. “Se foi um hacker, não tem importância”, disse Dilma Rousseff, durante fala que depois foi ironizada e desqualificada.

O polêmico jornalismo do Duplo Expresso (https://duploexpresso.com) várias vezes noticiou fraudes em planilhas da Odebrecht, alertando sobre adulteração de prova pela Farsa Jato, inclusive contra Lula É tema sem interesse para a TV Globo, que só aciona seus repórteres no exterior quando lhe convém. Provas estariam na Suíça.

A emissora praticamente ignorou as denúncias feitas pelo advogado Tacla Duran, o qual diz ter sido vítima de pedido de propina, no valor de US$ 5 milhões, para ter êxito na sua negociação da delação em Curitiba. Tal pedido teria vindo por meio de um advogado ligado ao então juiz Sérgio Moro, hoje herói Zé Roela dos Marinhos.

A emissora também minimizou o depoimento de Duran na Câmara dos Deputados, mas o caso pode ser reaberto pelo PGR Augusto Aras. A versão da emissora é a atestada pelo desempregado Moro e seus, digamos, amiguinhos farsajatistas, em que pese o rol de arbitrariedades, ares de conluio, “In Fux we trust”, coisa e tal.

O procurador da República Celso Três diz que Duran teve vitória inédita no judiciário. A Interpol reconheceu a suspeição de Moro, invalidando a busca internacional do mandado de prisão por ele expedido. Foi uma desmoralização da Justiça brasileira. Em caso de suspeição a Interpol é bem mais rápida que o STF.

Cabe lembrar que o instituto da Colaboração Premiada foi subvertido pela Farsa Jato. As delações foram transformadas em negócio, nos quais delatores saíram com polpudas somas em dinheiro produto de crime. A defesa do ex-presidente Lula, por exemplo, já anexou documentos sobre pagamento de “delações premiadas”.

Sobre prêmios em delações, o jornal Folha de S. Paulo noticiou: “Empresas investigadas na Operação Lava Jato que tentam fechar ou já firmaram acordos de delação premiada com os investigadores asseguraram de dez a 15 anos de salários aos executivos envolvidos nas negociações”. Seria o “bolsa-delação”.

Urge observar que na grande maioria dos casos, as prisões da Farsa Jato foram usadas como forma de coação para forçar delações, quando estas, pela doutrina, devem ser espontâneas, tendo como elemento subjetivo o arrependimento e senso de colaboração com a Justiça.

“Uma das principais regras a ser observada é a da voluntariedade… jamais poderá ser forçado a delatar. A voluntariedade está intimamente ligada à origem da delação premiada, pois o delator deve agir movido pelo sentimento de arrependimento ou de colaboração com a Justiça”, afirma o advogado Luiz Flávio D’Urso.

O curioso é que talvez a única delação espontânea – a de Tacla Duran, foi recusada pela República de Curitiba. Para o procurador Três, em tese, Duran é suspeito de crime de corrupção, tráfico de influência ou denunciação caluniosa. A Força Tarefa “jamais poderia remanescer inerte ante a narrativa e apontamentos de Duran”, diz.

A Farsa Jato “atentou, sim, contra a lógica da delação no caso Tacla Duran. Correto o PGR Aras em reexaminar. Aliás, por que tamanho desconsolo … com a eventual mitigação de pena a reles operador, pergunta Celso Três?

Sim, já acabou se tornando público haver animosidade entre Moro e Tacla Duran, e que talvez seja o momento de dar o troco. Mas, o que ele disser, cabe a ele provar. Entretanto, depois do que se sabe sobre a Farsa Jato, a própria força tarefa está precisando de uma delação premiada.

Os fatos estão aí. É um típico caso de notícia real tratada como fake news, ainda que os fatos em si comportem investigação. O estranho é a República de Curitiba, com apoio da Globo, querer ser a última palavra.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-integrante da Interpol em São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

12