Eduardo Paes e Marcelo Crivella (Foto: Reprodução/TV Globo | Marcos Corrêa/PR)
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Vou pedir passagem ao grande cronista Rubem Braga e parodiar os seus suspiros por Copacabana, ampliando-o para toda a cidade. Sim, ai de ti, Rio, que neste domingo vai às urnas para escolher entre a cruz e a caldeirinha. Entre a ultradireita bolsonarista e a direita limpinha, que cuida bem daquela gente bronzeada que mostra o seu valor nas madrugadas da Dias Ferreira.
Há gente que só atravessa o túnel para rodopiar e beijar uma bandeira sedosa da escola de samba do coração. É esta gente que acorda tarde e não se dá o trabalho de ver o despertar no gramado do Aterro, caprichosamente desenhado por Burle Marx, agora coberto por mantas rotas ou cobertores doados pelas paróquias da Igreja da Glória ou pelo Convento Santo Antônio, verdadeiras joias do seu patrimônio, que durante a noite ampara famílias inteiras do vento, vindo do mar.
Esta gente que vê pelos jornais a retirada dos corpos das comunidades periféricas, abatidos por operações rotineiras da Polícia Militar, em incursões suspensas pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante a pandemia, mas que podem acontecer, desde que devidamente comunicadas para os “casos excepcionais”. A medida passou por votação de 9 X 2. Há sempre dois que acham pouco os estragos da violência, desde que bem longe de suas vistas.
Ainda assim, ou por causa disto – dos “casos excepcionais” – o Instituto de Segurança Pública (ISP), constatou um aumento de 179% de pessoas mortas em confronto (?) em outubro, com relação ao mês anterior. Esses números ganharam destaque na edição do jornal O Globo, onde se lê que o número de casos de homicídios, decorrentes da ação da Polícia vinham caindo desde junho – mês de menor ocorrência, com 34 casos -, mas subiram para 145 mortos, em outubro. Assustados? Certamente que não. Se naturalizamos os 170 mil por Covid-19, por que haveríamos de nos espantar com 145 pretos, pobres, favelados, abatidos “em confronto” com a Polícia, não é mesmo?
Alguém vai lembrar que as questões de segurança são de responsabilidade do estado e ao município cabe manter a cidade arrumada. Sim, certamente. E isto é tudo que o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), afilhado de Bolsonaro, não fez. E mesmo assim, segue esperneando para se manter no Palácio da Cidade, onde geriu para poucos o Rio que é de todos. Tal como um Trump tupiniquim, ele se agarra à cadeira, e foi capaz de baixarias na reta final da campanha, para não ter que passar o cargo.
Aos preocupados com a gradação de responsabilidades do poder, é preciso lembrar que um dos fatores da insegurança são as ruas mal iluminadas, palco perfeito para um “passa tudo. Perdeu, playboy”. Bem como os sinais de trânsito quebrados, provocando a hesitação de minutos, o bastante para o “passe as chaves”.
O atual prefeito, Marcelo Crivella, (28% das intenções de votos, segundo o Ibope) fez do Palácio da Cidade o gabinete da Márcia, dos cafés da manhã com os pentecostais de sua igreja, bem servidos de óculos, muletas, liberação de exames e eventualmente templo de cultos e orações. Bem ao estilo do seu padrinho, contou piada com a queda da Ciclovia Tim Maia, onde duas pessoas morreram. “Tem muito vascaíno aqui, não? Eu queria até consultar vocês. O pessoal está me sugerindo aqui de colocar o nome de ciclovia de Vasco da Gama. Está caindo muito”.
Obra, aliás, feita na gestão de Eduardo Paes (DEM), ex-prefeito e cotado, de acordo com a mesma pesquisa Ibope, para ganhar as eleições no Rio. Para impedir a escalada da ultradireita, vale jogar todas as fichas em Paes. As jardineiras do Leblon ficarão sempre vistosas e bem cuidadas, as faixas de trânsito da Atlântica serão pintadinhas, o deserto de concreto – sem um mísero matinho – onde se destaca o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, também obra de Paes, que certamente nunca teve de atravessá-lo às 13h, num dia de janeiro, estará com o calçamento em dia.
O que não se sabe é que tipo de atenção o quase novo prefeito dará para melhorar a vida dos que enfrentam problemas como a notícia recém divulgada, de um Rio que tem 3,7 milhões de habitantes em áreas dominadas pelo crime organizado. Como dar lazer e cultura para uma cidade em que 57% do seu território, segundo estudo específico feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são controlados pela milícia?
E não adianta rogar ao Cristo Redentor. Ele está sendo requisitado para trabalhar para o Ibama, que o quer com exclusividade, e às rentosas lojinhas de souvenir do seu entorno. Sim, o Ibama já avisou que vai tirá-lo da arquidiocese. Talvez dia desses o carioca acorde, olhe para cima e veja o Cristo, não a protegê-los, de braços abertos, mas de joelhos, a servir o governo federal. Cristo está sub judice. Que venha o Dudu.
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