Publicado por Diario do Centro do Mundo
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
Por Moisés Mendes
Os resultados da eleição deste domingo oferecem réguas e balanças para que seja medido e pesado o que vai sobrar de Bolsonaro. Vão sobrar dessa eleição apenas restos do Bolsonaro de 2018, que talvez não resistam até 2022.
Dizem sempre que uma eleição municipal é apenas uma eleição municipal. Que esse é um embate quase inútil para que se vislumbre o que acontecerá na eleição para a presidência da República.
Será também desta vez? Bolsonaro teve uma eleição atípica em 2018, quase como um cacareco, e em dois anos não conseguiu provar que é capaz de governar, de liderar e de agir com um mínimo de sensatez como presidente.
Mas ele poderia pelo menos ter criado base política, mesmo que seja incapaz de transmitir a sensação de poder. Bolsonaro não tem turma. A eleição municipal prova que ele não tem quase nada que o sustente politicamente.
Tudo para Bolsonaro é provisório. Bolsonaro não tem base orgânica. Não conseguiu fazer seus candidatos prosperaram. E foi alijado das disputas na maioria dos Estados, não porque tenha decidido agir com neutralidade, mas porque o afastaram das campanhas.
Bolsonaro virou um estorvo isolado em Brasília. A eleição prova que o sujeito não conseguiu um lastro político mínimo para continuar almejando não só a reeleição, mas a continuidade no poder com algum respaldo e alguma segurança.
Bolsonaro tem um apoio precário e protocolar de parte dos empresários (que ainda esperam ‘reformas’), não tem partido (a tentativa de criação da sua Aliança é o seu maior fracasso), não terá mais o respaldo de Trump e vê direita se esmoronar em outros países.
Não há um só país em que a direita extremada tenha lhe oferecido uma vitória desde que ele assumiu. Não citem o Uruguai, porque a direita de Luis Alberto Lacalle Pou não tem e nem quer afinidade com Bolsonaro.
E aqui a eleição provou que o Bolsonaro de 2018 não funciona mais e que um outro Bolsonaro, com outro perfil, é algo improvável.
As figuras medíocres que se elegeram na sua carona foram um fenômeno de dois anos atrás. A mágica da reprodução de extremistas, a maioria sem qualquer base ideológica consistente, não se repetiu.
Em dois anos, Bolsonaro extinguiu-se como referência. Se continuar fingindo que governa, acabará também com o país. A única chance para Bolsonaro é a oferecida pelo centrão.
Ele pode ser absorvido pela direita fofa, por algum tempo, em troca de todas as concessões possíveis, mas somente até o momento em que tiver garantia de sobrevida.
Se a economia desandar ainda mais, ele perder apoio popular e for um fardo para todos os tipos de PFLs, será jogado fora, bem antes da eleição. O centrão não pode perder o capital político que obteve na eleição.
Bolsonaro sabe que não pode contar com a fidelidade de ninguém. Sua única cumplicidade menos gasosa é a preservada com os militares, porque seu fracasso pode ser trágico para as Forças Armadas. Parece muito, mas é pouco. Hoje, politicamente, é quase nada.
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