Em 1979, Lula discursa a metalúrgicos de cima de uma mesa no estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, em assembleia que decidiu pelo início da primeira greve geral da categoria. Foto: Memorial da Democracia
O PT e seu futuro
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A derrota do PT nas eleições de 2020 se deve em grande medida ao fato de que a classe trabalhadora não existe mais nos moldes que o originou.
As grandes plantas fabris com a concentração de milhares de trabalhadores sob a influência de sindicatos são cada vez mais exíguas.
Antigamente qualquer pessoa que assistisse TV saberia responder quem era o presidente da CUT em alguns segundos.
Hoje, isso se restringe cada vez mais a quem acompanha de perto a política.
Por quê?
Porque a CUT perdeu o protagonismo que tinha anteriormente na organização da luta da classe trabalhadora.
Esse protagonismo, no entanto, não foi assumido pela Conlutas, pela CTB nem por outra Central.
Ele se diluiu em “ene” movimentos sociais: negro, feminista, lgbtqi etc.
As lutas passaram a ser feitas fora do eixo de classe propriamente dito.
E o PT por ser um partido cujo o enraizamento vem do modelo anterior teve dificuldade para ceder a essa novidade.
Já o PSOL embarcou de mala e cuia nessa perspectiva. Se transformou em um partido de causas.
Pra mim a classe trabalhadora existe e continuará existindo enquanto o capitalismo não for derrotado.
O problema é que hoje está pulverizada e diluída em trabalhadores, por exemplo, de aplicativos.
Como dar liga e corpo a isso é que é o pulo do gato.
Mas os problemas do PT vêm de antes desta eleição e das duas anteriores.
O Partido dos Trabalhadores sofreu outros duros golpes ao longo dos anos.
Perdeu a hegemonia na ala progressista da Igreja Católica, outro pilar de sua fundação.
A Teologia da Libertação foi engolfada pela ala dos carismáticos.
Não bastasse isso, ainda foi abalroada pelos evangélicos neopentecostais que proliferaram nas periferias, antigo reduto do petismo.
Além disso, o PT viu o último de seus três pilares de fundação ruir nesta eleição, com o embarque dos intelectuais na candidatura de Boulos.
Esse terceiro pilar já havia sofrido um abalo significativo com o fato dos governos do PT na Presidência da República terem optado pela conciliação de classes ao seu enfrentamento.
Os escândalos do Mensalão e da Lava Jato também impactaram os três eixos do tripé.
Isso sem contar a traição de ter se elegido em 2014 com um programa econômico e governado com outro.
Joaquim Levy, no Ministério da Fazenda, foi o exemplo mais paradigmático dessa perda de apoio.
A luz no fim do túnel ainda parece estar longe.
E mesmo com todos os problemas, a direção majoritária do PT, cada vez mais burocratizada, dificilmente embarcará em algo como uma frente de partidos de esquerda, sem querer que as demais forças políticas se submetam à sua liderança.
*Lúcia Rodrigues é jornalista e formada em Ciências Sociais pela USP.
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