A charge, uma representação da arte ao qual leva a expressão até o ponto máximo de exagero, segundo Gombrich, ao qual seu fazedor “(…) não busca a forma perfeita, mas a deformidade perfeita’’[1], nunca incomodou tanto. Por sua inerente natureza, a charge difere-se das tradicionais caricaturas, cuja origem dá-se na deformidade dos traços, o objetivo torna-se muito mais nobre, ao estar intimamente associada à crítica política, uma medida denunciatória através da imprensa.
Torna-se, portanto, um importante recurso gráfico-narrativo, a ilustração e o entretenimento desempenharam um importante papel na imprensa brasileira, de modo que o papel político-ideológico, contido no seio da atividade jornalística, fosse exportado aos periódicos.
Desenhos humorísticos, com uma informação social e política transvestida, constituíram-se uma forma de diversão e passatempo à sociedade, paulatinamente reconhecida como uma expressão crítica. A difusão de jornais e revistas, em uma sociedade com altos índices de analfabetismo, encontrou nessa modalidade de expressão, uma forte vertente ao desempenho de sua função política dentro do órgão de expressão e controle de opinião pública, uma vez que o humor, conforme Beltrão, se encontra ‘’entre o sério e o ridículo, a representação máxima da ilustração satírica’’.[2]
Por todo esse contexto, a charge se revela mais democrática na transmissão de um caráter político, uma vez que meios expressivos através da leitura pressupõem um sólido conhecimento dos diversos problemas sociais, fazendo-se da charge um sujeito político e alvo recente de uma conturbada relação com o governo.
Essa peculiaridade expõe uma preocupação diante de regimes ditatoriais pela sua larga difusão e propagação de uma crítica de fácil interpretação, na medida em que a realidade social e política era marcada por um abuso de poder e uma censura à liberdade de expressão. Segundo Motta, ilustrações como a charge e quadrinhos, cuja representação visual denota uma preocupação equivalente às tradicionais representações verbais sob um governo ditatorial, ‘’acarretaram na redução dos números de jornais, no início dos anos 1970, gerando uma concentração de empresas que condiziam com as pressões exercidas pelo regime militar’’.[3]
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