Tomara meu Deus, tomara
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós.
Chegado o fim do ano e o tal de Ano Novo se aproxima velozmente, e este escriba, como sempre, vê-se na obrigação de escrever uma mensagem com a pretensa ideia de aquecer ainda mais os já acalorados desejos e as recônditas utopias da parentalha, dos amigos e de algumas pessoas que se quer conheço, mas que eventualmente lerão este artigo. Sobre isto é muito importante para mim confessar o tamanho de meu orgulho.
Então começo declarando as enormes dificuldades que me assaltam – nesses últimos finais de ano – no desempenho da difícil tarefa de contrapesar meu “espírito machadiano” com a quase obrigatoriedade, ditada pelo convívio social normal, de não ser um semeador de cizânia nas alegrias alheias. Contudo, antecipo aqui ao leitor minhas mais afervoradas desculpas se a balança do discurso pender para o primeiro lado. Por isto declaro também que a intenção que me move é a de alertar para a gravidade da realidade do momento, isso sem querer ofuscar o ânimo das pessoas, mas, se possível, alentar as tantas almas hoje desesperançadas. É tarefa difícil, sei, mas vou tentar.
Em favor destas intenções confessadas, a citação inicial dos versos de
Alceu Valença e Rubem Valença Filho resumem o que desejo para o povo brasileiro e para o Brasil no ano que já bate às nossas portas. No meu entendimento eles refletem o caminho primeiro para a saída da dura realidade em que vivemos e a busca de possibilidades de construirmos, o povo e a nação, não uma pasárgadas, posto que a vida não é feita só de sonhos, mas uma terra onde haja mais justiça, mais equidade e mais humanismo.
Inicialmente convido o leitor a refletir sobre o ano de 2020. Por diversas circunstâncias este ano, possivelmente, passará para a história como o ano que mais surpreendeu, negativamente, a humanidade, isso desde tempos imemoriáveis. E olhe que a Terra já experimentou muitas eras de colossais tribulações.
Acredito que as grandes tragédias que sempre flagelaram o homem em sua incessante busca pela felicidade sejam cíclicas e fazem parte da natureza do planeta. Mesmo que cada uma delas guarde, e de forma intacta, o poder de surpreendê-lo, amedrontá-lo e castigá-lo com severidade, pois elas alteraram as condições da existência na terra, transformando a vida dos seres em todo o planeta.
Catástrofes causadas pela natureza, e outras tantas pelo próprio homem, como terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, pandemias, guerras, devastação da natureza, desastres atômicos etc. sempre atormentaram a humanidade e acarretaram muita inquietação a ela. Não vou aprofundar esta reflexão pois não é este o objetivo do artigo. Só a mencionei para reavivar a memória do leitor e alertá-lo sobre o quão vulnerável é a existência da vida na terra.
Na verdade, a pretensão deste artigo é a de fazer uma avaliação sobre – as possibilidades e peripécias do Brasil para o ano que vem – em face dos efeitos dpandemia Covid-19 e, de início, relembro ao leitor que a ocorrência de pandemias é muito mais comum do que pensa a maioria das pessoas para isto enumero aqui algumas que, por seu alto grau de malignidade, ficaram gravadas na história do mundo.
Varíola. Doença popularmente conhecida como “bixiga”, atormentou a humanidade por mais de 3 mil anos, matando inclusive o faraó Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França. A varíola só foi erradicada do planeta em 1980.
Peste Bubônica ou Negra. Doença que assolou a Europa no século 14, matando entre 75 e 200 milhões de pessoas na antiga Eurásia. No total, a praga pode ter reduzido a população mundial de 450 milhões de pessoas para 350 milhões.
Cólera. Essa pandemia surgiu em 1817 e matou centenas de milhares de pessoas. Até hoje, de tempos em tempos, causa novos ciclos epidêmicos e, portanto, ainda é considerada uma pandemia.
Gripe Espanhola. Acredita-se que entre 40 milhões e 50 milhões de pessoas tenham morrido por essa pandemia surgida em 1918, causada por um subtipo do vírus influenza. Mais de um quarto da população mundial foi infectada e até o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves, morreu da doença em 1919.
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids). Descoberta em 1981, a HIV/Aids já matou mais de 35 milhões de pessoas e 36,9 milhões vivem com a doença no planeta.
Como se vê, os números dessas tragédias são de tal grandeza que a humanidade levou décadas, em alguns casos um século, para se recuperar das consequências materiais desses eventos, já do ponto de vista psicológico, sabemos que ainda hoje ela, a humanidade, guarda marcas indeléveis daquelas ocorrências tão desastrosas.
Apontei antes que o desafio que me impus é o de olhar para o futuro imediato de nosso país e, por conseguinte de nossa gente e, considerando as evidências hoje postas, tentar prognosticar o que aguarda a nós todos logo ali.
Entendo que as possibilidades de previsões dos efeitos da pandemia Covid-19 em nossa sociedade exigem, necessariamente, a consideração das circunstâncias determinantes que pintavam, e que continuam pintando, o cenário em que ela encontrou o Brasil.
Então vejamos. Uma análise, mesmo que superficial, da tragédia que assola o mundo e o Brasil neste ano mostra com clareza que ela ocorre sob circunstâncias históricas, econômicas e tecnológicas muito novas e absolutamente diferentes das que outras pandemias ocorreram. E mais, são circunstâncias com as quais a sociedade moderna ainda não aprendeu a lidar. Nesta visão, podemos afirmar com relativa segurança, ser a Covid-19 uma tragédia muito maior do que outras. Analisemos então em que cenário a pandemia encontrou a humanidade, dando destaque à situação do Brasil.
Vivemos numa era em que o relacionamento entre os indivíduos, as instituições e os países sofreram uma radical transformação advinda da superação de obstáculos históricos como as grandes distâncias, as barreiras linguísticas e, sobretudo, as dificuldades logísticas. Pessoas, mercadorias, serviços e notícias viajam pelo mundo, e até pelo universo, em ínfimo espaço-tempo. Entre tantas e variadas consequências naturais desta nova realidade, merece maior destaque o fenômeno social, cultural e econômico da globalização. O mundo se transformou numa grande aldeia e como toda transformação radical, esta trouxe em seu bojo efeitos bons e ruins, dependendo da perspectiva de que se observa. Por exemplo, no campo da saúde, ao tempo em que ela facilitou seu desenvolvimento pela integração e socialização dos avanços tecnológicos na área sanitária também facilitou, em muito, a disseminação de agentes patológicos pelo mundo. Pensemos o seguinte fato. O tempo que o vírus da Peste Bubônica ou da Gripe Espanhola, por exemplo, gastou para se deslocar da Europa para a América parece uma eternidade quando comparado ao tempo gasto hoje pelo Covid-19 para fazer o mesmo caminho.
Na esteira da nova realidade, forjada pela evolução tecnológica dos meios de comunicação, de locomoção e de movimentação de bens, o homem moderno mudou radicalmente seus hábitos e valores socioculturais, políticos, econômicos e afetivos. Para que se tenha ideia da profundidade de tais mudanças basta olhar alguns dados:
Mobilidade populacional. Em 1825, Londres, então a maior metrópole do mundo, tinha 5 milhões, hoje, Tóquio, que ocupa este lugar é o lar de 36 milhões de pessoas.
Na cidade do Rio de Janeiro, a maior do Brasil de 1950, viviam, pasmem os senhores, trezentas mil e vinte e seis almas e São Paulo, a segunda maior, tinha duzentos mil e trinta e três habitantes.
No mesmo ano, a taxa dos brasileiros que viviam no campo era de 63,9%, hoje a equação se inverteu. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2015, 84,72% dos brasileiros vivem em áreas urbanas e somente 15,28% vivem em áreas rurais.
Movimentação de valores e mercadorias. Ao final do Século XIX, Karl Marx prognosticou que o capital financeiro daria a volta ao mundo em 24 horas. Para muitos de sua época isto parecia uma grande bobagem do filósofo, mas hoje, como sabemos, esta volta é quase instantânea.
Mudanças culturais. É possível que a área da atividade humana que mais sofreu transformações seja a cultural. A língua inglesa se transformou em idioma universal, com isto permitiu, e muitas as vezes até impôs, mudanças nos hábitos sociais, no padrão de consumo, na conduta moral, na preferência estética e alimentar etc., homogeneizando, de forma radical, a forma de viver da humanidade.
Diante desta realidade podemos concluir que a Covid-19, diagnosticada no mês de dezembro de 2019, na longínqua China, encontra todas as condições objetivas para no curtíssimo prazo de dois meses alastrar-se por todo o mundo. A enorme rapidez e facilidade de mobilidade, a cultura exacerbada do consumismo que leva o homem a se aglomerar nos equipamentos das cidades, a improficiência dos sistemas de saúde do mundo inteiro etc. foram alguns dos fertilizantes colocados a serviço da disseminação da pandemia pelo mundo.
De acordo com as teorias das ciências socioculturais modernas, sobretudo a teoria do desenvolvimento psicossocial, a formação social e cultural de um povo é determinada pelo tipo de relações culturais, sociais e econômicas predominantes em uma determinada época. Assim, podemos afirmar que, apesar dos enormes avanços das ciências e tecnologias da saúde de hoje, as novas possibilidades de interações socioafetivas, mercadológicas e profissionais, advindas do desenvolvimento tecnológico, geraram profundas transformações na organização da vida, criando novos comportamentos, novas necessidades e novas crenças. Este é um dos fenômenos que fez, e continua fazendo, com que o crescimento da Covid-19 atinja níveis quase que incontroláveis pelo mundo.
Feitas estas considerações, vamos à questão que justifica o artigo e que pode ser resumida em duas perguntas. A primeira: Que 2021 a realidade prepara para nós brasileiros e para nosso país? A segunda: Que tamanho é a influência da Covide-19 na formação dessa realidade? Ilustrarei minha opinião a partir de três enfoques, que embora diferentes, estão entrelaçadas pelo fio da categoria da totalidade dialética.
Qualquer esforço de prever a situação do país em 2021 tem que revisitar alguns acontecimentos do último quinquênio, os quais foram cruciais na determinação do Brasil que chega aqui e que, inexoravelmente, continuará determinando o nosso caminho, não só no ano que vai chegar, mas por alguns anos ainda.
Começo enfocando o aspecto da política nacional, fazendo um resumo, mais que sucinto, queiram me desculpar pela redundância, sobre o comportamento político da nação, enfocando algumas causas e consequências das ações dos políticos e da maioria absoluta dos grandes empresários brasileiros.
Assim, a desordem se inicia no mesmo dia da reeleição da Presidenta Dilma Vana Rousseff em 2014 – com a não aceitação, pura e simples –, dos resultados das urnas por nossa elite ultraconservadora e antidemocrática, prossegue com o golpe civil de 2016 e culminando com o desgoverno do Senhor Jair Messias Bolsonaro, o “capitão”.
Em um cenário mundial fortemente marcado pela ameaça de uma crise econômica que, segundo economistas das mais variadas tendências, pode ser muito mais grave do que a de 2008, que implodiu o sistema financeira mundial, os senhores do poder do Brasil conseguiram neste quinquênio, e o fizeram com grande competência e prazer, potencializar uma crise política que aflora em todas as vezes que uma força política progressista consegue chegar a ele.
O roteiro de tal movimento é este: a vigorosa sabotagem ao governo da presidenta Dilma durante os dois anos de seu segundo mandato e a já referida destituição ilegal dela do cargo; a briga, ora surda, ora ruidosa, de uma verdadeira récua para dividir o poder usurpado; a formação de uma verdadeira súcia mancomunada para utilizar o atraso político e cultural do povo e eleger um presidente mentecapto, trapaceiro e leviano e uma maioria de legisladores, governadores e prefeitos da mesma estirpe construíram as condições ideais para as elites transformarem o Brasil neste verdadeiro “Inferno de Dante” que aí está.
Como resultado deste caos social, político e administrativo o país sofre hoje consequências que tornam intolerável a vida dos brasileiros das classes baixas. A enorme instabilidade do comando central constantemente gera confrontos entre os três poderes da república, ao ponto de termos ameaças explicitas de um contra o outro e constantes denúncias e intromissões. Para agravar mais a situação, assistimos perplexos a enorme crise econômica e política que vivemos e em meio disto a irresponsável antecipação da campanha eleitoral de 2022. Como não poderia ser diferente, o Brasil que até bem pouco gozava do respeito, da confiança e da admiração do mundo inteiro, sofre hoje o maior descrédito de sua história, sendo motivo de galhofa até de países de pouca representatividade no cenário internacional. Mas o que esperar além disto de um governo que agride a soberania dos países, que cotidianamente mente para a opinião nacional e internacional e que não respeita os princípios da democracia e da convivência pacífica entre as nações e os povos?
Um segundo aspecto a ser discutido é o que se refere ao comportamento da economia do país nesses últimos cinco anos. Como já antecipei, nossa economia vem dando claros sinais de abatimento desde o início do segundo mandato da presidenta Dilma. Mesmo que se concorde que ela cometeu erros administrativos nesse período, e eu não tenho dúvida disto, não se pode subestimar a magnitude das perseguições e hostilidades sofridas por ela e seu governo. Os “democratas” que perderam a eleição convenceram o povo de que para – o bem do povo e da democracia – era preciso “sacar”, a qualquer preço e condição, de seu cargo a presidenta eleita. Para justificar tal canalhice, desde a primeira hora de seu governo, mídia, políticos, empresários, religiosos e profissionais liberais adotaram, da maneira mais desavergonhada e desleal possível, a conduta de trabalhar para “o quanto pior melhor para nós”. E mais uma vez contaram com o apoio da maioria da população, que eles próprios, os conspiradores, chamam de “boiada”. Vista assim, o retumbante fracasso econômico dos governos Temer e Bolsonaro, um que é Elias e o outro que é Messias, não pode, como quer essa gente, ser creditado exclusivamente à pandemia Covid-19 e aos governos do Partido dos Trabalhadores. A pandemia influenciou negativamente a economia do mundo inteiro, mas no Brasil ela encontrou uma administração desonesta, incompetente e sem rumo, dirigida por um banqueiro avarento e academicamente atrasado, por um capitão reformado pelo exército por insanidade mental e por uma corja de oportunistas e pervertidos de toda a ordem.
Para nossa economia, resultado desta mistura foi um terrível descontrole da inflação, o qual é camuflado, como o era no tempo dos militares golpistas de 64; a desorganização do mercado de trabalho em função das “salvadoras” reformas trabalhistas, previdenciárias e administrativas, das privatizações e da Lava Jato; uma das mais brutais quedas da renda do trabalhador brasileiro; o desmonte e a desnacionalização de nossos parques industrial e comercial. As grandes empresas públicas estão sendo vendidas “a preço de banana”, talvez nem por isto, pois a banana está cara pra chuchu e as privadas como Gol, TAM, Embraer, Brastemp, Atacadão e tantas outras estão sendo desnacionalizadas, mas – as economistas e os economistas da mídia, esses que têm dificuldades para administrar suas economias domésticas e suas cozinhas dizem que só assim vamos ser um país desenvolvido com muito emprego, bons salários e assistência pública de primeiro mundo; a opção do agronegócio pela produção e exportação de comodities, o que aumenta terrivelmente a dependência financeira e tecnológica em relação aos mercados internacionais; o severo esgotamento das reservas internacionais, que como se sabe, são estratégicas para a segurança de qualquer país; e, o maior crescimento da centralização da renda e da má distribuição desta, sobretudo durante a pandemia.
Este quadro absolutamente aterrorizante para o povo brasileiro, é responsável pelo maior desequilíbrio socioeconômico vivido pelo país. Os números estão aí para comprovar minhas afirmações. Para não me alongar cito aqui os de maior relevância: Começo pelas estimativas do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e para o próximo. O PIB de 2020 deverá ser negativo (- 4,7%) e para 2021, embora não havendo unanimidade nas previsões entre os vários especialistas consultados, elas apontam variações neste índice entre 2,6% a 3,5%. Qualquer dessas taxas que se consolidar demonstrará um crescimento medíocre de nossa economia.
O que se pode esperar do mercado de trabalho no próximo ano? Só no mês de novembro a taxa de desemprego no Brasil atingiu a “pornográfica” marca de menos 14,8%, e vejam que estamos falando de novembro, mês em que tradicionalmente a economia é aquecida pelas compras e contratações para as festas de final de ano e do comércio de insumos e maquinarias do agronegócio para o plantio. Os dados demonstram que nesse mesmo mês, mais da metade das pessoas em idade produtiva estavam sem emprego. Estamos com 13,8 milhões de desempregados. Para o ano de 2021, as previsões mais otimistas são ainda mais alarmantes. Os economistas projetam uma taxa de desemprego no país perto de 17%.
O último dado que julgo relevante é o crescimento da inflação. A maioria de nossos economistas, os quais me parece não irem ao supermercado, à farmácia, ao posto de combustíveis etc., insistem em justificar que a taxa oficial de inflação, prevista em 2,3%, fechará o ano em 3,5%. Para não alongar, vejamos o comportamento do preço da cesta básica. Dados do Dieese mostram que em novembro, ela apresentou aumento de 28,82%. Muitos analistas de mercado têm afirmado que o preço da comida é uma bomba-relógio programada para 2021. A verdade é que o próprio governo já admite explicitamente a possibilidade de uma explosão na taxa da inflação brasileira.
Finalmente chegamos ao último aspecto, o comportamento sociocultural de nossa sociedade, emergido do quadro político e econômico do referido período. Por coerência e honestidade ninguém pode afirmar que um povo pode sofrer profundas transformações culturais num curto espaço de cinco anos. A sociologia não afiança isso nunca. Contudo, não se pode esquecer que o homem moderno, em função do enorme e rápido desenvolvimento tecnológico e social de hoje, experimenta transformações culturais, psicológicas e comportamentais numa rapidez inacreditável. O tempo parece que adquiriu velocidade meteórica.
Nesta perspectiva, vale refletir sobre a sociedade brasileira que a terceira década dos anos 2000 encontrará. Para sintetizar a situação em que se encontra o nosso povo vou pontuar alguns comportamentos e atitudes que para mim pintam um retrato fiel de nossa sociedade.
O brasileiro, que em tempos recentes tinha um orgulho de seu país, que as vezes beirava o ufanismo, hoje, demonstra uma impensável baixa estima. Uma demonstração desse fenômeno é o comportamento dos cidadãos de Governador Valadares, surgido no início do século de maneira tímida, e que transformou a cidade mineira em motivo de piadas, hoje atinge uma grande parte da população, sobretudo a da classe média.
Vivemos um tempo em que a falta de esperança e de perspectiva do povo brasileiro adquire proporções que ameaçam não só a vida do cidadão, mas também o futuro da nação. Hoje, para a grande maioria dos brasileiros, bom é o que vem de fora, só há honestidade no povo estrangeiro, viajar só é bom se for para outro país, qualquer que seja. Nosso povo está tão desiludido com sua terra que está disposto a enfrentar a suprema humilhação de ser detido ainda no aeroporto em suas viagens para o exterior.
Já fomos um povo que cultivava a moderação, a simplicidade e a austeridade econômica. Hoje, um dos grandes problemas sociais do país surge do fato de que em todas as camadas sociais, a maioria das pessoas são, sem nenhum exagero, “idólatras” do consumismo insustentável.
Uma boa parte dos brasileiros sempre teve tendências negativistas, isto é histórico. Nega-se tudo: a importância da vacina, o diagnóstico médico, a teoria da evolução natural, a chegada do homem à lua, a redondeza da Terra etc. Chegamos a negar a legitimidade de títulos da copa do mundo como os ganhos pela França e Alemanha. Contudo, mercê as influências de Bolsonaro e seus “acólitos”, a cultura do brasileiro de ser negligente e até avesso aos princípios basilares da convivência civilizada e da verdade científica atingiu dimensões estratosféricas.
Por último, cito aqui o claro crescimento quase que exponencial do sentimento de ódio que se esparramou entre povo e entre os diversos extratos sociais. Não paira nenhuma dúvida que esta distorção social é fruto do intenso e insano trabalho feito pela corja liderada por este débil mental que habita o Planalto.
Pois bem, diante disto posso afirmar com toda convicção que todas as transformações, até a pouco inimagináveis sofridas pela sociedade brasileira nos últimos cinco anos não é coisa do acaso e nem obra do destino. As posições deste fascista e de seus coadjuvantes, todos idiotas, foram o maior catalizador da radicalização do ódio e do revanchismo em que vivemos.
Para concluir o texto, respondo aquelas questões antes citadas pois foram elas que orientaram minhas reflexões na busca de opinar sobre o nosso caminho e a nossa peleja no próximo ano.
Como o leitor pôde constatar, busquei traçar um cenário, o mais real possível, para contribuir com a tarefa do leitor de compreender a real situação em que nos encontramos, o povo e o país. A meu juízo a mesma já adquiriu contornos assombrosos, isto para dizer o mínimo. Um povo que vive e convive com uma realidade marcada pelo assassinato de 2.219 menores em nove meses pela polícia; aumento de 28% do número de feminicídio durante a pandemia, durante a qual uma mulher é assassinada a cada 9h; crescimento de 7% no número de assassinatos, atingindo o número de 25.712, só no 1º semestre de 2020; redução de 20,1% na renda mensal do trabalhador, passando de R$ 1.118,00 para R$ 893,00 no segundo trimestre de 2020, pesquisa do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas; clara intenção do governo federal de postergar ao máximo o início da vacinação do povo, claramente está vivendo na barbárie e abdicando completamente da civilização.
Nesta perspectiva, acredito eu que o povo brasileiro devemos nos preparar para tempos muito difíceis. Devemos tomar consciência de que na caminhada de um povo, acertos e erros, vitórias e derrotas, ganhos e perdas são absolutamente normais, diria naturais até.
“Para não dizer que não falei de flores”, dou uma olhada, de soslaio é verdade, no que foi feito neste ano extremamente difícil e recolho os feitos e as experiências para referenciar as próximas batalhas que virão. Atitudes como as da arrecadação e doação de 6 bilhões de Reais durante a pandemia, coordenadas pela ONG Associação Brasileira de Captadores de Recursos e a dos moradores de uma rua do Rio de Janeiro, que aprenderam a linguagem Libras só para brincar com um menino surdo afirmam que nem tudo está perdido.
O povo não pode se esquecer de que no balanço final da peleja que foi a existência de cada um neste ano, ele, o povo, demonstrou bravura e determinação contra inúmeros obstáculos que se lhe impuseram os mesquinhos interesses políticos e econômicos da elite financeira e política do país.
Por tudo que foi dito neste artigo minhas expectativas sobre 2021 estão indelevelmente atreladas à minha visão da realidade em que vive o Brasil e o seu povo.
A ignomínia, a incompetência e o descompromisso com que o país e seu povo foram tratados nos governos de Temer e Bolsonaro, criaram trincas na economia, na cultura e na política brasileira, as quais levaremos muitos anos para superar. O povo sofrerá, não só no novo ano, mas por muitos outros as consequências desta verdadeira hecatombe causada por esses dois malfeitores e suas hordas.
Os meios de comunicação do país, sobretudo as redes Record, Globo e SBT, numa atitude que beira a obscenidade, tentam a todo custo, convencer o povo simples de que a enorme crise que assola todos os setores do país foi obra exclusiva do Covid-19. Para tal finalidade, essa gente midiática, donos e funcionários, escondem a verdade sobre o desastre que criaram não só na economia, mas de resto em todos os setores da vida do povo e do país.
Para não me aproximar dos “negacionistas”, governantes e seus lacaios, afirmo que não estou tentando subestimar os efeitos da pandemia em nossa sociedade. Eles foram extremamente graves, ceifaram milhares de vidas e transtornaram a existência de quase todo mundo. Mas que ela poderia ter sido combatida com mais competência e eficiência poderia. Faltou honestidade, bom caráter e vontade política.
Volto ao começo para repensar os versos dos Valença citados. Entre tantas coisas que poderemos fazer para minimizar a tempestade que puseram em nosso horizonte, a mais tangível e eficaz é a tomada de consciência pelo povo de que a questão de fundo são o comportamento e a atitude que estamos tendo ultimamente.
Se quisermos uma nação melhor, se quisermos um povo mais feliz, se quisermos atuar para a melhoria da qualidade de nossos dirigentes teremos que mudar os rumos do Brasil, mas para isto teremos que, como indivíduos, nos mudar primeiro.
Para atualizar esta utopia só há um caminho:
Uma nação solidária
Sem preconceitos, tomara
Uma nação como nós”.
E mais...
Tomara meu Deus, tomara
Que tudo que nos amarra
Só seja amor, malha rara...
Taguatinga, DF, 28 de dezembro de 2021
Omar dos Santos
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