sábado, 27 de março de 2021

Uma bússola moral para a esquerda

           Por Luis Roca Jusmet
           https://rebelion.org/
Fontes: Rebelião

O livro em questão está perfeitamente organizado em seis capítulos. O primeiro expõe de forma sintética porque é preciso ser anticapitalista. Fá-lo a partir da defesa de alguns valores básicos que são aqueles recolhidos pela tradição emancipatória em que se situa o autor: igualdade / equidade, democracia / liberdade, comunidade / solidariedade. Na perspectiva desses valores, podemos diagnosticar que vivemos em uma sociedade doente e que a origem dessa patologia social está no capitalismo, com um sistema de classes baseado na exploração que vem aprofundando as desigualdades; com relações desastrosas estabelecidas a partir de um individualismo competitivo e consumista; com um crescimento econômico sem limites e totalmente devastador.

Mas o problema é que, aceitando o exposto, é preciso saber se existem alternativas. Os únicos que historicamente se apresentaram como tal (URSS, República Popular da China, Leste Europeu ...) fracassaram como projeto emancipatório. Mas o autor defende há anos a "construção de utopias reais" e considera que o termo "socialista democrático" deve ser mantido para se pensar em uma sociedade que supere as misérias do capitalismo. Não existe termo melhor, como o de "utopia", apesar de todas as ressalvas que podemos colocar. A partir daqui, EO Wright entra diretamente na configuração de uma alternativa ao capitalismo, o que implica apontar uma estratégia para alcançar o socialismo democrático. Conhecemos cinco propostas possíveis para analisar: "esmagar o capitalismo", "desmantelar o capitalismo", “Domine o capitalismo” e “fuja do capitalismo”. O que faz é acrescentar uma nova proposta: “erodir o capitalismo”, que exclui a primeira opção e integra as outras quatro de forma complementar. A opção de "esmagar o capitalismo" é a da ruptura violenta, a de uma revolução no sentido clássico, de cuja experiência histórica podemos concluir que nada de novo poderia ser construído sobre as cinzas do antigo. O resultado foi sempre a aparência de um estatismo que, embora melhorasse as condições materiais de vida de muitas pessoas, nada tinha a ver com as expectativas de uma opção emancipatória. Embora a opção dois, que era reformar o capitalismo para passar por uma série de reformas ao socialismo, também tenha sido um fracasso histórico porque nunca foi possível, para Wright, é uma opção que deve ser coletada combinando-os com outros. Em primeiro lugar, com a “domesticação do capitalismo” que, embora não seja, por definição, uma superação do capitalismo é aquela que não proporcionou as melhores conquistas dentro do sistema. Neste nível, que atua no nível institucional, é necessário contar com os partidos de esquerda, que são os que podem atuar desde o Estado para transformar as Instituições e a legalidade em uma linha que seja capaz de promover políticas que, embora podem existir no capitalismo, são por natureza anticapitalistas porque não se enquadram na sua lógica. Uma das tarefas é, portanto, trabalhar a partir das partes (sejam as tradicionais ou criando novas, dependendo do contexto). Mas isso não é o suficiente nem o mais importante, já que a estrada para o socialismo deve ser baseada fundamentalmente no que Wright chama de "poder social". Ou seja, nos próprios cidadãos organizados a partir da base, que são os que “resistem ao capitalismo”, pressionando esses partidos a serem coerentes com um projeto transformador e opondo-se à lógica do próprio sistema. Mas não só isso, mas também criando formas alternativas, que é o que o autor chama de forma talvez confusa de “capitalismo em fuga” (a meu ver uma expressão infeliz): criar cooperativas, espaços de economia social ... É, portanto, o combinação de práticas, institucionais e não institucionais, de cima e de baixo, que vão suscitando as transformações silenciosas que, enfim, dariam origem a esse socialismo democrático, que certamente,

O autor é claro, como Marx tinha, que não se trata de desenhar o que será essa sociedade socialista, pois é a própria prática e a experiência que devem apontar o caminho. Mas dá algumas orientações para orientar o caminho: renda básica universal, economia cooperativa de mercado, economia social e solidária, democratização das empresas capitalistas, conversão da banca em serviço público. Um conjunto de medidas, em suma, que, junto com uma organização econômica não comercializada (provisão de bens e serviços pelo Estado, produção colaborativa entre iguais, bens comuns de conhecimento) daria lugar a uma dimensão do socialismo como uma democracia econômica, não apenas um político. Este último aspecto implicaria também em reformas nas regras do jogo, para torná-lo mais democrático:

O último aspecto muito importante é definir quem será o sujeito dessas transformações. Quem serão seus agentes, os atores coletivos para realizá-la? Wright coloca a questão em todas as suas nuances e em toda a sua complexidade. Não apenas porque a classe trabalhadora não é mais o grupo dominante e homogêneo que era, mas também porque, se queremos construir um mundo melhor, não podemos depender apenas da defesa de nossos próprios interesses. Trata-se de destacar a dimensão moral do movimento por meio de valores emancipatórios compartilhados. Para isso, é importante unir esses movimentos sociais a partir de princípios que não são puramente corporativos, para construir identidades compartilhadas em torno deles. Porque caso contrário, podemos descobrir que os movimentos fundamentalistas, Nacionalistas ou populistas de extrema direita podem criar identidades opostas tanto aos interesses próprios dos oprimidos, que podem se identificar com eles, quanto aos valores progressistas. A política real, em conclusão, assume que atores coletivos politicamente organizados e eficazes são formados para erodir o capitalismo. Uma ação conjunta de dentro e de fora das Instituições, criando uma agência criativa que pode desenvolver um potencial a partir de uma ampla base social que nos permite dar uma saída do desastre a que o capitalismo nos conduz. assume que atores coletivos politicamente organizados e eficazes são formados para erodir o capitalismo. Uma ação conjunta de dentro e de fora das Instituições, criando uma agência criativa que pode desenvolver um potencial a partir de uma ampla base social que nos permite dar uma saída do desastre a que o capitalismo nos conduz. assume que atores coletivos politicamente organizados e eficazes são formados para erodir o capitalismo. Uma ação conjunta de dentro e de fora das Instituições, criando uma agência criativa que pode desenvolver um potencial a partir de uma ampla base social que nos permite dar uma saída do desastre a que o capitalismo nos conduz.

Infelizmente Erik Olin Wright morreu ainda jovem, em 2019, aos 72 anos, logo após terminar este livro. O livro é completado por dois textos de Michel Burawoy e Vivek Chibber (que ele intitulou com o nome que dei a esta crítica) que são, em ambos os casos, uma homenagem emocionante e interessante ao autor. É, enfim, um livro, claro, rigoroso, absolutamente lúcido. Um livro necessário. Mais do que isso, um livro essencial.

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