Nonato Menezes
Muitas pessoas falam da guerra torcendo, como se fosse uma partida de futebol. Algumas falam com conhecimento, mas não são ouvidas. Outras se mostram indiferentes porque a guerra não é em seu quintal.
Também, há as vozes dos países e das instituições, quase sempre limitadas pelo interesse; não pela verdade, nem pela vida.
Há duas questões primordiais a serem levadas em conta, quando a discussão for sobre a guerra que está em curso entre Rússia e Ucrânia.
1.
A guerra, em princípio, é a prova da incapacidade humana de resolver diferenças e conflitos com o diálogo. Incapacidade que é movida pelo ódio, pela vingança ou pela competição.
2.
“Na primeira noite eles se aproximame roubam uma flordo nosso jardim.E não dizemos nada.Na segunda noite, já não se escondem:pisam as flores,matam nosso cão,e não dizemos nada.Até que um dia,o mais frágil delesentra sozinho em nossa casa,rouba-nos a luz e,conhecendo nosso medo,arranca-nos a voz da garganta.E já não podemos dizer nada.”
Sobre a primeira questão não há o que comentar, pois se trata da índole humana. Mas, se alguém acha que essa postura venha mudar um dia, sente-se e espere Godot.
A segunda vale o risco de comentar, pois diz respeito a questões históricas, políticas, entre outras.
Sem recuar muito, a Europa Ocidental nunca respirou bem os ares soprados pela Revolução de 1917. Seja por motivos políticos, religiosos e até territoriais.
Aliar-se à União Soviética contra os nazistas na Segunda Guerra foi apenas uma necessidade circunstancial, sabendo-se que os “comunistas” eram, também, inimigos preferenciais da Alemanha nazista.
Com a queda planejado do “Muro” e o ocaso da União Soviética, a Europa Ocidental, liderada pelos Estados Unidos, partiu para cima, com intuito, entre outros, de apequenar a Rússia, se possível, fragmentar seu território e, na medida do possível, torna-la vassalo do capitalismo internacional.
Para tanto, inventou-se a Guerra Fria como motivo ideológico para justificar a criação de organismos internacionais como a OTAN, por exemplo. E para “legitimar” as guerras localizadas como a do Vietnam, da Coreia e muitas que se seguiram.
Esse adubo venenoso deu substância ao conflito ideológico, fomentou a produção bélica que veio a alimentar principalmente os abutres do “Deep State”, e definiu a Rússia como inimigo primordial do Ocidente.
A Rússia, então, passou a ser provocada e cercada por todos os meios possíveis. Entre eles, golpes de estado em regiões fronteiriças, com ogivas nucleares apontadas para seu território e a adesão forçada de novos membros da OTAN.
Chegou-se à Ucrânia, o “jardim da casa”. A Rússia, ciente das iniciativas anteriores e, para impedir o assalto à sua casa, resolveu conter o bandido ali mesmo no jardim.
É a guerra em curso. Ou precisa desenhar?
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