domingo, 27 de fevereiro de 2022

Na sofreguidão da guerra


Nonato Menezes

Muitas pessoas falam da guerra torcendo, como se fosse uma partida de futebol. Algumas falam com conhecimento, mas não são ouvidas. Outras se mostram indiferentes porque a guerra não é em seu quintal.

Também, há as vozes dos países e das instituições, quase sempre limitadas pelo interesse; não pela verdade, nem pela vida.

Há duas questões primordiais a serem levadas em conta, quando a discussão for sobre a guerra que está em curso entre Rússia e Ucrânia.

        1.
A guerra, em princípio, é a prova da incapacidade humana de resolver diferenças e conflitos com o diálogo. Incapacidade que é movida pelo ódio, pela vingança ou pela competição.

           2.

“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”

Sobre a primeira questão não há o que comentar, pois se trata da índole humana. Mas, se alguém acha que essa postura venha mudar um dia, sente-se e espere Godot.

A segunda vale o risco de comentar, pois diz respeito a questões históricas, políticas, entre outras.

Sem recuar muito, a Europa Ocidental nunca respirou bem os ares soprados pela Revolução de 1917. Seja por motivos políticos, religiosos e até territoriais.

Aliar-se à União Soviética contra os nazistas na Segunda Guerra foi apenas uma necessidade circunstancial, sabendo-se que os “comunistas” eram, também, inimigos preferenciais da Alemanha nazista.

Com a queda planejado do “Muro” e o ocaso da União Soviética, a Europa Ocidental, liderada pelos Estados Unidos, partiu para cima, com intuito, entre outros, de apequenar a Rússia, se possível, fragmentar seu território e, na medida do possível, torna-la vassalo do capitalismo internacional.

Para tanto, inventou-se a Guerra Fria como motivo ideológico para justificar a criação de organismos internacionais como a OTAN, por exemplo. E para “legitimar” as guerras localizadas como a do Vietnam, da Coreia e muitas que se seguiram.

Esse adubo venenoso deu substância ao conflito ideológico, fomentou a produção bélica que veio a alimentar principalmente os abutres do “Deep State”, e definiu a Rússia como inimigo primordial do Ocidente.

A Rússia, então, passou a ser provocada e cercada por todos os meios possíveis. Entre eles, golpes de estado em regiões fronteiriças, com ogivas nucleares apontadas para seu território e a adesão forçada de novos membros da OTAN.

Chegou-se à Ucrânia, o “jardim da casa”. A Rússia, ciente das iniciativas anteriores e, para impedir o assalto à sua casa, resolveu conter o bandido ali mesmo no jardim.

É a guerra em curso. Ou precisa desenhar?

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