Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro no centro do Rio de Janeiro. 02/10/2021 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
"Bolsonaro está marcado para morrer politicamente em outubro deste ano, é um demônio raquítico, um lúcifer caído e renegado por sua legião", diz Weiller Diniz
(Publicado originalmente em Os Divergentes)
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Jair Bolsonaro é um servo da morte. O escárnio dele com a vida é demoníaco. O capitão amaldiçoou as vítimas – o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira – no assassinato selvagem na Amazônia: “Esse inglês, ele era malvisto na região…Muita gente não gostava dele”. Na pandemia blasfemou fazendo blagues daqueles que sofriam com falta de ar e, em uma omissão criminosa, condenou brasileiros a morrerem asfixiados por falta de oxigênio hospitalar no Amazonas. Pelos crimes contra a vida na pandemia foi enquadrado como genocida.
As epístolas acusatórias adormecem no letárgico MP – apascentado como um haras – e na Câmara dos Deputados, pastoreada pelo orçamento secreto, a última ceia dos hereges. Além da pastoral da morte, incluindo remédios ineficazes e estratégias sepulcrais que somaram mais de 669 mil mortes na Covid-19, Bolsonaro pode responder por outro crime contra a vida: o parricídio. Quer exterminar todos seus criadores e pragueja contra os sumos sacerdotes, os responsáveis pela ascensão dele. Não perdoa nem mesmo os principais profanadores da Justiça, falsos messias que desceram ao inferno e dessacralizaram o paraíso democrático para torná-lo presidente da República.
Sérgio Moro foi a primeira vítima do parricídio. O ex-juiz foi esconjurado da prelazia governista após 1 ano e 4 meses. No Ministério da Justiça, cargo abocanhado pelos serviços sujos, se comportou como benfeitor de pecadores, fazendo vistas grossas para os sacrilégios dos mais fiéis. Entre eles salteadores, degenerados e homicidas A gota d’água para o exorcismo foi a troca do chefe da guarda pretoriana da Polícia Federal, Maurício Valeixo, catequizado por ele. “O presidente me disse, mais de uma vez, expressamente que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federa prestar esse tipo de informação”, pontificou à época. “Falei para o presidente que seria uma interferência política. Ele disse que seria mesmo”, confessou o compungido Moro que, embora tenha afirmado possuir provas da doutrinação da PF, nunca as exibiu.
Em um rosário de delinquências com paróquias do Ministério Público, Moro cravou os pregos na crucificação do favorito nas eleições em 2018 para endeusar Bolsonaro. Quebrando as tábuas das leis, desprezando mandamentos, cânones e desrespeitando o sagrado direito de defesa, Sérgio Moro tramou e condenou uma pessoa que sabia inocente.
Teve como comparsas Deltan Dallagnol e uma turma de heréticos que encarnaram demônios e louvaram “power points” mentirosos para substituir provas inexistentes e infernizar o Brasil por 4 anos. Em 4 de março de 2016, Moro determinou à PF que arrastasse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio de uma condução coercitiva espetaculosa e desnecessária, para depor em um inquérito. Iniciava-se a Via-Crucis que culminou na maior profanação do sistema judiciário do Brasil. Até ali nenhum convite ou intimação. Moro agiu de má-fé ao engendrar a imagem mais forte e eloquente para a publicidade opressiva contra Lula, em busca do consentimento social como marco inaugural das 14 estações do calvário, passando por vazamentos de documentos sob segredo de justiça, a sentença estrambótica, a prisão ilegal até obter a desejada inelegibilidade do seu alvo.
Em 9 de março daquele ano, regendo o coral demoníaco da acusação, o Ministério Público de São Paulo denunciou o ex-presidente por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio. O MP-SP acusava Lula e sua esposa, Marisa Letícia (falecida em 2017) de ocultar a propriedade de um apartamento de luxo no Guarujá, o tríplex, assim batizado para massificar a falsa opulência. Em 16 de março, a então presidente Dilma Roussef consagrou Lula como ministro da Casa Civil, um altar improvisado que permitiria conter a sanha persecutória da primeira instância e estancar o impeachment da ex-presidente, urdido no Congresso pelo satânico Eduardo Cunha, um beato das trevas, pilhado logo depois roubando a sacristia.
Lula tomou posse em 17 março de 2016. No dia seguinte, o ministro Gilmar Mendes excomungou a nomeação. Moro vazara – ilegal e dolosamente – o áudio da ex-presidente Dilma Roussef com Lula, com o ânimo de insuflar os prelados públicos contra a prerrogativa presidencial de escolher, nomear e demitir seu ministério. Moro disse que vazou o áudio em nome do interesse público. Perjúrio. Sabe-se hoje que o interesse era privado e político. Agia com a cruz na boca e o diabo no coração.
Em 12 de julho de 2017, o Herodes togado de Curitiba condenou Lula, sem um versículo de prova, a nove anos de prisão pelo imóvel que pertencia de fato e de direito à empreiteira OAS. Nas catedrais jurídicas seguintes todas as preces recursais foram ignoradas, uma a uma. Até que, em 4 de abril de 2018, o Plenário do STF negou o habeas corpus ao ex-presidente Lula. No dia seguinte, após 18 horas do final do julgamento no STF, Moro decretou a prisão de Lula. No dia 7, após uma segunda súplica negada no STJ, o petista e diversos apoiadores se reuniram junto ao prédio do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo.
O ex-presidente anunciou que iria se entregar. Seguiu até a sede da Polícia Federal em São Paulo e foi levado para Curitiba. Desembarcou na capital paranaense e levava consigo o crepúsculo da democracia. Purgou por 580 dias na cela e, em setembro de 2018, os cardeais do TSE o tornaram inelegível. Mesmo com uma devoção tão fervorosa que incluiu o sacrifício humano, o parricida Bolsonaro matou impiedosamente seu criador Sérgio Moro, que hoje é uma alma penada nas encruzilhadas políticas.
A partir de meados de 2019 explodiram centenas de provas da tocaia infernal tramada por Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus diabinhos do MP. “O combate à corrupção foi a causa com que Deus me chamou para servir a sociedade e cuidar dos vulneráveis”, jactou-se o evangélico Deltan Dallganol profetizando a peregrinação eleitoral e associando-a, como todo fascista, a uma convocação divina, como Hitler fazia. A falsa missão angelical e os excessos diabólicos já ensejaram algumas penitências judiciais.
Foi condenado a indenizar o ex-presidente Lula pelas blasfêmias no herético “power point”, onde atribuiu todos os pecados capitais ao petista. O primeiro castigo foi por blasfemar contra outra vítima que ele perseguiu quando se sentia como uma divindade intocável e tentou atrapalhar o concílio para eleger o presidente do Congresso Nacional. Antes, pela repetição dos mesmos pecados, que misturaram a cobiça e a vaidade, foi punido 2 vezes no CNMP. As condenações de Dallagnol vão sangrando a falsa sacralidade e, pela bíblia eleitoral, ele está inelegível.
O que se testemunhou na Lava Jato foi uma procissão de blasfemos, desonestos, mentirosos e confissões pecaminosas. A revelação delas exibe tramas mefistofélicas, feitiçarias políticas que recendem o enxofre da perversão: condenar Lula, blindar aliados e tomar o paraíso do poder de assalto. Ao sentenciar Lula, Moro profanou a democracia, permitiu a ascensão dos fascistas e foi benzido no Ministério da Justiça, degrau anterior da sacralização no STF, que não vingou. Por 14 meses foi um desonrado bajulador defendendo delitos de ministros, do próprio Bolsonaro e da família do chefe. Por ambição política vendeu a alma ao diabo, se tornou um delator tinhoso e, posteriormente, pároco da capela sombria da Álvarez & Marsal, firma americana que faturou alto com os donativos dos fariseus sentenciados por Moro. As digitais pecaminosas, esparramadas pela Vaza Jato e a operação “Spoofing” impuseram um sínodo emergencial para reparar, parcial e tardiamente, a heresia de 2018.
Moro não é o único idólatra dessa abadia tenebrosa, mas foi quem liderou, trapaceou, praguejou, corrompeu a Justiça e o Ministério Público até ser recompensado no santuário dessa seita maligna, o mais vil e baixo clero que o Brasil tem notícia. Depois de transitar pelos 7 pecados, foi renegado pelos blasfemos que endeusou. Anunciado como redentor, hoje é só uma alma que não desencarna. Sérgio Moro inaugurou a própria purgação quando emporcalhou o Estado Democrático de Direito com pregações fascistas para alcançar a glória política. Ainda reza repetidas novenas pela ascensão ao poder, cada vez mais distante.
Como ele, há outros anjos caídos, santos dos pés de barro, que completam a legião dos mal-intencionados, da má-fé e da incapacidade. O ex-ministro da Educação, missionário Milton Ribeiro, foi preso recentemente pelas liturgias furtivas em devoção ao bezerro de ouro. Não é o único Barrabás da gestão responsável pela teologia do crime, da morte, da milícia, da miséria, da malversação, da mentira, vaticinada no apocalipse, que não será perdoada pela história e nem pelos brasileiros. Os pecados mortais contra o Estado Democrático e a lei são irremissíveis. São essas almas sebosas que, pela obra maligna, estão sentenciadas a arder no oitavo circulo do inferno de Dante.
O novo alvo da fúria parricida de Bolsonaro é o ministro Luiz Edson Fachin. Lavajatista fanático e ídolo de Sérgio Moro na Suprema Corte, Fachin agora é o pontífice supremo do TSE. Foi ele que decidiu que a 13ª Vara Federal de Curitiba era incompetente para processar e julgar o ex-presidente Lula em uma trindade de falsos pecados: tríplex do Guarujá, sítio de Atibaia e o Instituto Lula. A pregação desértica de Fachin serviria para salvar Sérgio Moro da crucificação e evitar a fatal declaração da parcialidade do ex-juiz, confirmada dias depois. Com a primeira decisão de Fachin, as condenações do petista foram expiadas e ele recuperou todos os direitos políticos. A Segunda Turma do STF também sacramentou que Sérgio Moro fora faccioso ao julgar o petista e o plenário ratificou a encíclica. A remissão dos pecados de Lula foi o reconhecimento de que Moro e a Lava Jato nunca permitiram um julgamento justo. Lula não teve juiz, foi condenado por um magistrado possuído por uma entidade demoníaca, um encosto justiceiro e maligno. Foi o que a ONU proclamou ao mundo todo.
A devoção de Fachin, antes da descida da operação ao inferno, revela uma comunhão com a operação que delinquiu para eleger o falso messias. Antes de esconjurar as condenações do ex-presidente, o diácono Edson Fachin maldizia todas as pregações para restringir os mandamentos da Lava Jato, conter seus excessos e retirar das masmorras de Curitiba as investigações sem conexão com a Petrobrás.
Em pelo menos dez julgamentos, Fachin foi fiel a sacralização da diocese lavajatista, até mesmo nos pecados envolvendo cardeais do alto clero, como o satânico Eduardo Cunha, o banqueiro André Esteves e os ex-ministros do governo Guido Mantega e Geddel Vieira Lima. Em 2017, por exemplo, Fachin enviou à 13ª Vara Federal de Curitiba os trechos da delação da JBS que mencionavam Lula e Mantega. O mesmo ocorreu em relação à delação da Odebrecht contra Lula. Fachin pontificou pelo envio dos relatos dos colaboradores sobre supostos crimes cometidos pelo petista à torre de Curitiba, mas a maioria da Segunda Turma do STF optou por remetê-los à Justiça Federal em São Paulo.
Na antessala do purgatório eleitoral, Bolsonaro agora abusa das imprecações contra Fachin, o padrinho da Lava Jato que o elegeu: “Ele é o dono da verdade? Ele quer que eu acredite nele? Foi ele que colocou Lula para fora da cadeia. Ele deveria se julgar impedido de estar à frente do processo eleitoral (em que há) um candidato (por quem) ele tem mais que simpatia e deve favores”, praguejou o capitão. “É justo, meus senhores, o ministro Fachin, que tirou o Lula da cadeia, estar à frente do processo eleitoral?
É justo ele se reunir, há 10 dias, com 70 embaixadores, e falar para eles de forma indireta que eu estou ‘solapando’ a democracia?”, insistiu. Voltou a maldizer o chefe do TSE com outro falso testemunho: “Nos morros do Rio, onde o Fachin diz que a polícia não pode entrar e nem sobrevoar helicópteros, está cheio de fuzil. Virou lá um refúgio da bandidagem do Brasil todo. Parabéns, ministro Fachin. Tremenda colaboração com o narcotráfico, com a bandidagem de maneira geral”, caluniou o capitão tostado pela abrasividade da fogueira eleitoral.
O cerimonial satânico nos ataques a Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Fachin quer desacreditar o resultado eleitoral de outubro e pré-datar a suspeição em caso da derrota, iminente como sugerem as profecias das pesquisas. “As Forças Armadas descobrem mais de 500 vulnerabilidades.
Apresentam uma dezena de sugestões, e aí o TSE não quer mais conversa…Quem vai contar esses votos? Quem garante que nós estamos tranquilos na questão eleitoral? A imprensa vai me chamar que ataquei a democracia”, vituperou o capitão apoplético que sempre bravateia com a ressurreição do capitólio: “Eu fui do tempo em que decisão do Supremo não se discute, se cumpre. Eu fui desse tempo. Não sou mais.” No poema trágico “Fausto”, de Wolfgang von Goethe, está a síntese desse lúcifer transtornado.
O demônio Mefistófeles em sua aparição proclama sua índole apocalíptica e aniquiladora: “Eu sou o espírito que tudo nega! E justamente assim é, pois tudo o que nasce merece perecer miseravelmente.” Nada define melhor Bolsonaro e as mortes causadas por ele, do genocídio às tentativas de parricídio. Dois parricídios abalaram o Brasil. O mais conhecido foi cometido por Suzana von Richtofen. O mais dramático vitimou o cineasta Eduardo Coutinho, diretor do clássico “Cabra marcado para morrer”. Bolsonaro está marcado para morrer politicamente em outubro deste ano, é um demônio raquítico, um lúcifer caído e renegado por sua legião.
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