sábado, 21 de setembro de 2024

Analista geopolítico explica o fim do mundo unipolar

Putin, Xi, Biden e Lula (Foto: Reuters | Ricardo Stuckert)

Em entrevista ao podcast Geopolitics Demystified, ele falou sobre a ascensão da nova ordem internacional


Em uma entrevista ao podcast Geopolitics Demystified, o apresentador S.L. Kanthan conversou com o cientista político norueguês Glenn Diesen, conhecido por suas análises contundentes sobre as mudanças globais. Diesen, que possui uma forte presença nas redes sociais, discutiu o colapso da hegemonia dos Estados Unidos e a ascensão de uma ordem mundial multipolar. Segundo ele, essa transformação representa um dos maiores desafios geopolíticos da atualidade.

"O mundo está passando por um momento crucial, em que a ordem mundial unipolar, liderada pelos Estados Unidos, está chegando ao fim", declarou Diesen. Para ele, o fim dessa hegemonia não se restringe às últimas três décadas, mas encerra cinco séculos de domínio ocidental. Ele traçou paralelos com o século XVI, quando as potências europeias estabeleceram rotas comerciais marítimas, criando um sistema global sob o controle ocidental, algo que está em processo de dissolução.

O novo mundo multipolar

Diesen explicou que a principal questão geopolítica atual é a disputa entre o Ocidente, que tenta preservar sua dominância, e o resto do mundo, que caminha rumo à multipolaridade. "O Ocidente tenta desesperadamente manter a unipolaridade, enquanto o resto do mundo prefere a multipolaridade", afirmou ele. Para o analista, essa tensão está por trás de muitos conflitos emergentes, como a guerra na Ucrânia, que ele descreve como "um esforço para manter a hegemonia ocidental".

Ele também pontuou que o Ocidente, particularmente os EUA e a Europa, estão isolando-se em sua tentativa de restaurar o controle que detinham na década de 1990, mas essa estratégia não encontra mais espaço no mundo atual. "O problema é que o mundo não quer voltar ao status quo dos anos 1990", enfatizou Diesen, apontando para a resistência de grandes potências como China e Rússia.

A guerra na Ucrânia como reflexo do declínio ocidental

Na visão de Diesen, o conflito na Ucrânia é sintomático da luta do Ocidente para manter sua posição dominante. Ele comparou a guerra à Guerra da Crimeia do século XIX, sugerindo que o objetivo atual é semelhante: "Se conseguirmos derrotar os russos na Crimeia, empurramos eles para a Ásia, uma região economicamente atrasada", disse ele, destacando a continuidade dessa estratégia ao longo dos séculos.

Para Diesen, a insistência dos EUA em colocar a Ucrânia na órbita da OTAN foi um dos catalisadores do conflito. Ele explicou que a Rússia nunca aceitaria a presença de bases militares americanas na Crimeia e que a guerra foi uma resposta previsível a essa expansão. "O Ocidente continua insistindo em soluções militares e recusa a diplomacia, o que apenas agrava o conflito", lamentou.

Oriente Médio e o impacto da hegemonia dos EUA

Ao abordar o Oriente Médio, Diesen destacou o impacto negativo da hegemonia americana na região, especialmente no conflito entre Israel e Palestina. "A hegemonia americana significa que Israel nunca teve que fazer concessões reais aos palestinos", explicou. Ele afirmou que a falta de um acordo de dois estados está criando um impasse perigoso, com Israel buscando se expandir enquanto enfrenta dilemas internos sobre como manter sua identidade como um estado judeu em meio a uma população palestina crescente.

"O futuro de Israel, se continuar nesse caminho, será marcado por políticas de apartheid, expulsão em massa ou, no pior cenário, genocídio", alertou.

China e o novo equilíbrio de poder

Diesen também abordou as tensões entre os EUA e a China, ressaltando que os esforços americanos para conter o crescimento econômico e tecnológico chinês não serão sustentáveis a longo prazo. Ele explicou que, ao impor sanções contra empresas chinesas e tentar isolar a China no comércio global, os EUA estão se prejudicando. "O mundo está se reorganizando para viver sem depender exclusivamente dos EUA", observou.

A crescente adesão ao BRICS e a busca por maior autonomia tecnológica são indicativos dessa tendência, segundo Diesen. Ele destacou que os países estão cada vez mais desconfiados das táticas coercitivas dos EUA e estão criando alternativas econômicas e tecnológicas para reduzir sua dependência de Washington.

A entrevista com Glenn Diesen oferece uma visão poderosa das dinâmicas globais em transformação, apontando para o fim da ordem unipolar e o surgimento de um novo equilíbrio multipolar. Para Diesen, o Ocidente precisa reconhecer essas mudanças e se adaptar, ou corre o risco de se isolar em um mundo cada vez mais interconectado e com múltiplos pólos de poder. Assista:





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