Clara Mattei (Foto: Twitter/Reprodução)
Austeridade e democracia econômica são incompatíveis, afirma pesquisadora italiana
Em análise conduzida pela pesquisadora italiana Clara Mattei no canal da TV Boitempo, foram discutidas as barreiras impostas pela ordem capitalista à implementação de políticas econômicas democráticas. Mattei, professora e autora de renome, explora o tema da austeridade, ressaltando seu impacto negativo na sociedade e apontando como essa política atravessa governos de diferentes espectros políticos. Suas observações destacam a necessidade de romper com a lógica do capital para atender às reais demandas sociais.
Segundo Mattei, "a austeridade é uma agenda que vai além das linhas partidárias. É aplicada de forma equivalente por governos de esquerda e de direita dentro da ordem do capital". Esta constatação é central para o argumento da pesquisadora, que expõe como a desdemocratização da esfera econômica serve para preservar os interesses de acumulação capitalista, em detrimento das necessidades sociais. Ao longo da entrevista, Mattei reforça a ideia de que a austeridade não é apenas uma estratégia econômica, mas também uma forma de violência política que suprime a participação democrática. "Sabendo que claramente as necessidades das pessoas não são compatíveis com a lógica de acumulação do capital, o que é preciso fazer é impedir as pessoas de ter algo a dizer sobre as decisões que realmente importam", afirma Mattei.
A pesquisadora também traça um paralelo histórico entre o fascismo e a atual tecnocracia econômica. Ela explica que, durante o regime de Mussolini, a repressão aos sindicatos e o controle violento sobre os trabalhadores eram instrumentos para silenciar as demandas de mudanças econômicas. "Mussolini foi tão eficaz em eliminar todas as exigências de mudança vindas dos trabalhadores, todos os conselhos de trabalhadores e fábricas", aponta Mattei, ao relatar como a austeridade fascista e a violência política andaram lado a lado.
No entanto, Mattei alerta que a tecnocracia moderna, exemplificada pelos bancos centrais independentes, é uma forma menos explícita, mas igualmente eficaz, de restringir a participação democrática nas decisões econômicas. Segundo ela, "a independência do Banco Central foi muito importante na Inglaterra após a Primeira Guerra Mundial devido a essa maior demanda por democracia econômica", e, desde então, essa estrutura tem sido exportada para outros países, como o Brasil.
Ao refletir sobre a situação atual, Clara Mattei faz uma análise crítica das escolhas econômicas feitas pelos governos contemporâneos, inclusive pela esquerda eleita. Ela ressalta o risco de que, ao adotar políticas de austeridade, governos progressistas acabem colaborando com a perpetuação de um sistema que não serve à maioria da população. "Essas tentativas de apaziguar o mercado, de estabilizar a economia ao implementar medidas de austeridade, na verdade, criam condições para o surgimento de uma austeridade ainda mais violenta e fascista", adverte.
Para Mattei, a resposta está nas alternativas já existentes dentro dos movimentos populares. Ela destaca o exemplo do Brasil, com seus movimentos de trabalhadores sem-terra e fábricas autogeridas. "Há mais de 50 fábricas autônomas, e isso significa que mais de 10.000 trabalhadores estão envolvidos", destaca, mostrando que existem outras formas de organização econômica que desafiam a lógica capitalista dominante.
A conclusão de Mattei é clara: se quisermos superar as limitações impostas pela ordem do capital, é necessário ter coragem para apoiar e ampliar essas alternativas. "A austeridade está no DNA do capital", afirma, lembrando que a redistribuição social e a participação econômica real são incompatíveis com o sistema atual. A partir dessa perspectiva, Clara Mattei convida à reflexão e ao engajamento para transformar o panorama econômico global em busca de uma maior justiça social e participação democrática. Assista:
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