Mauro Cid (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
“O ajudante do leva e traz do Planalto é a figura trágica do golpismo”, escreve o colunista Moisés Mendes
Moisés Mendes
Mauro Cid foi humilhado no governo como serviçal de Michelle. Quando o plano do golpe foi descoberto, ficou exposto como auxiliar subserviente, sempre ao lado de Bolsonaro para qualquer tarefa e delito.
Soube-se que se meteu no golpe, no caso das joias e na fraude do cartão das vacinas e empurrou até o pai para o pântano na tentativa de vender muambas. E Cid, pelo que se sabe, queria apenas ser general.
Não há nada indicando até agora que o oficial possa ter se envolvido com alguma tentativa de obter vantagem financeira, como se envolveram os coronéis vampiros das vacinas.
Mauro Cid é o que é, um auxiliar que fazia tudo e não tinha nenhum protagonismo. Hoje, vale pelas informações que juntou e nada mais. Foi o cara que deixou os melhores rastros para os investigadores e Alexandre de Moraes.
Na manhã de sexta-feira, ficou sabendo que seu advogado, Cezar Bittencourt, havia virado manchete ao admitir em entrevista à GloboNews: Cid sabia que Bolsonaro sabia do golpe. Inclusive do plano para matar Lula.
Logo depois, o advogado retificou as duas informações. Mas já era tarde. O que ficou é que Cid sabia de tudo que Bolsonaro sabia. E que o desmentido do advogado era uma tentativa de abafar a verdade revelada num impulso.
Mauro Cid é o sujeito que Moraes decidiu colocar de novo em cozimento, por não estar pronto como delator. O ajudante que fez tudo o que fez por Bolsonaro e Michelle sem ganhos que possam ser percebidos como excepcionais como retorno para os perigosos serviços prestados.
Cid não seria general se não tivesse levado tão a sério a condição de subalterno submisso do Planalto? Por que o pai se meteu na tentativa de venda dos presentes das arábias? O que a família ganharia com esses impulsos prestativos?
Por tudo isso, é permitido até sentir pena de Mauro Cid. Por ter sido abandonado. Por carregar nas costas o peso da obediência e do leva e traz do Planalto. Por nunca ter dito: estou indo embora para salvar minha carreira.
Por que Mauro Cid ficou até o fim? Para ser chefe do 1º Batalhão de Ações de Comandos em Goiânia? Pagou caro a Bolsonaro por um quartel em Goiás? E o pai foi vender um barquinho de ouro para manter a chefia da Apex, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, em Miami?
Na história do golpe, o coronel fica como o personagem que se explica sozinho por sua construção trágica. Mauro Cid é o cara sem um argumento edificante, nem mesmo como golpista, que salve sua reputação e seu futuro.
Porque foi sempre apenas um ajudante do golpe, porque essa era a sua vocação. Não ganharia nada. Nem ele nem o pai. Foi exposto como incompetente. Ficou marcado como mandalete. É acusado pelos companheiros de ter sido imprudente no uso dos celulares.
Não tinha grandes atribuições além de levar e de trazer. Não falava nada nas reuniões. Ninguém pedia sua opinião. Era um abajur nos cantos das salas que frequentava.
Hoje, não há uma voz, uma só, que se levante em sua defesa. Porque qualquer movimento no sentido de defendê-lo pode resultar em invertida. O coronel pode receber afagos da família e de asseclas, mas pode também devolver o carinho com mais revelações.
Mauro Cid sabe que sua parte no roteiro do golpe ainda tem elos perdidos que estão escondidos. Sabe que Alexandre de Moraes não vai deixá-lo em paz. E o que os ex-parceiros desejam para ele. Cid sabe bem que seu drama está no começo.
É mais uma figura trágica do Exército brasileiro envolvida em tentativa de golpe. É trágica pelas voltas e desvios que o transformam de insignificante em figura decisiva para a compreensão do que aconteceu e para a punição dos golpistas.
É o insignificante fiel, que ficou lá ao lado de Bolsonaro e de Michelle para que agora quase tudo tenha algum significado.
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